Andrรฉ Corradini (*)
โOk, um, dois, trรชs… testando รกudioโ
โMe ouvem?โ
โVocรชs estรฃo me vendo?โ
ร bem provรกvel que nenhum professor se imaginasse comeรงando uma aula desta forma, mas รฉ com frases como essas que muitas aulas iniciam neste perรญodo de pandemia do coronavรญrus. A realidade que ela impรดs aos professores e alunos foi determinante para que hรกbitos e formas de trabalho mudassem radicalmente. O ensino a distรขncia, do dia para a noite, tomou conta do cenรกrio educacional do paรญs. Mas a pergunta que poderia ser feita รฉ: os professores estavam preparados para tais mudanรงas?
O cenรกrio para a busca desta resposta รฉ complexo e envolve muitas partes como os professores, os alunos, as instituiรงรตes de ensino e atรฉ mesmo o acesso ร tecnologia, bem como sua compreensรฃo e domรญnio.
Muitos institutos de pesquisa e universidades procuraram mapear este assunto e os nรบmeros obtidos foram semelhantes. O Instituto Penรญnsula, organizaรงรฃo social de Sรฃo Paulo com foco a melhoria da qualidade da educaรงรฃo brasileira, realizou um levantamento a partir da pesquisa โ’Sentimento e percepรงรฃo dos professores brasileiros nos diferentes estรกgios de coronavรญrus no Brasilโ. Foram avaliadas as respostas de 7.734 mil professores de todo o paรญs, entre os dias 13 de abril e 14 de maio de 2020.ย O resultado foi expressivo e mostrou que 83% dos professoresย ainda se sentem nada ou pouco preparados para o ensino a distรขncia.
Outra pesquisa realizada em junho de 2020 pela Universidade Federal de Minas Gerais, com mais de 15 mil professores de escolas pรบblicas, revelou que apenas 29% deles afirmaram possuir facilidade para o uso de tecnologias na forma de ensino online.
Estes dados nem levam em consideraรงรฃo o acesso ร internet de qualidade โ coisa rara em grande parte do paรญs โ e acesso a equipamentos adequados como computadores, cรขmeras, microfones e iluminaรงรฃo bรกsica. Ou seja, o que estรก sendo questionado รฉ รบnica e exclusivamente a capacidade de ministrar uma aula de qualidade a distรขncia.
A discussรฃo sobre o assunto abrange diferentes รกreas e pontos de vista. Hรก quem afirme que a tecnologia pode, em algum momento, se apropriar do ensino e com isso limitar ou atรฉ mesmo eliminar o professor desta relaรงรฃo, o substituindo. Outros debatem a necessidade do convรญvio professor e tecnologia como forma de aperfeiรงoamento de modelos pedagรณgicos, e com isso levar o professor ao papel de mediador dos conteรบdos. Na gestรฃo do conhecimento existe amplo lugar para estes debates que, com certeza, devem ser realizados e aprofundados.
Como professor, trabalhando tambรฉm na modalidade a distรขncia por mais de 20 anos, posso afirmar que a grande maioria dos professores nรฃo รฉ preparada para esta forma de ensino (e os motivos deixo para outro texto). Temos que levar em consideraรงรฃo que uma aula a distรขncia รฉ muito mais do que um professor ligar uma cรขmera e comeรงar a falar desesperadamente diante dela.
Diante de um cenรกrio que estรก longe de ser resolvido o que podemos ter certeza รฉ de que as aulas a distรขncia serรฃo cada vez mais utilizadas. Seja por motivos sanitรกrios, seja por uma realidade (nem tรฃo nova assim) que estรก cada vez mais presente no dia a dia dos alunos e professores. E o que resta aos educadores?
Nรฃo tem como fugir da capacitaรงรฃo, do aperfeiรงoamento, da adaptaรงรฃo e do domรญnio de recursos que atรฉ bem pouco tempo nรฃo faziam parte da sua formaรงรฃo. Brigar com a tecnologia? Acredito nรฃo ser uma boa ideia. ร ligar a luz, instalar o microfone, regular a cรขmera, ajustar o cenรกrio, preparar os materiais, e aรงรฃo!
(*) Andrรฉ Corradini รฉ mestre em Gestรฃo do Conhecimento e professor dos cursos de Jornalismo, Publicidade e Propaganda, e Ciรชncias Agrรกrias do Centro Universitรกrio Internacional UNINTER