Inteligência Artificial, feminicídio e racismo são alguns dos assuntos abordados nas sessões que são gratuitas e abertas ao público
Mais que entretenimento, os filmes e séries também tem a função de levar conhecimento a seus públicos. É através deles que podemos viajar rapidamente do passado ao futuro, conhecer novos lugares, países e culturas.
Durante a pandemia, essa prática cresceu ainda mais. De acordo com pesquisa da Kantar IBOPE Media, o tempo das pessoas em frente à televisão aumentou 37 minutos diários, com uma média de 1h49 por dia assistindo a conteúdos em plataformas de streaming.
E já que gostamos tanto da companhia dos filmes, porque não utilizá-los para reflexões de temas importantes da nossa vivência social? Essa é a ideia do Cineclube Luz, Filosofia e Ação, promovido pela Escola Superior de Educação e Humanidades do Centro Universitário Internacional Uninter. O projeto tem como objetivo problematizar questões reais do nosso cotidiano através de grandes obras nacionais e estrangeiras.
Os filmes selecionados estão alinhados com os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), procurando contribuir através da educação e reflexão. “Revemos clássicos como o Ex-Machina, que discute a Inteligência Artificial e as questões bioéticas inerentes a ela, passando pelo drama e horror dos feminicídios, com Três Anúncios Para um Crime, chegando até as nossas mazelas sociais do racismo, a fome e a violência com títulos como Deus e o Diabo na Terra do Sol, Rio, 40 Graus e Cidade de Deus”, explica o professor de Filosofia Douglas Henrique Lopes, coordenador do evento.
O Cineclube Luz, Filosofia e Ação da Uninter acontece desde 2017 e já contou com mais de 80 mil participantes. “Nos pautamos na inovação de realizar as sessões a distância muito antes de sonharmos com a pandemia, pois, assim, conseguimos integrar alunos de todo o Brasil e a comunidade em geral em torno da leitura crítica dos filmes”, afirma o professor.
As transmissões e os debates acontecem nos canais oficiais da instituição: Facebook e YouTube. Para se inscrever, basta acessar aqui.
Confira a programação:
14.jul.2021
Preciosa – uma história de esperança – Lee Daniels (Estados Unidos, 2010)
27.jul.2021
Alice Júnior – Gil Baroni (Brasil, 2019)
20.out.2021
Clube de Compras Dallas – Jean-Marc Valleé (Estados Unidos, 2013)
Sessão especial com participação da cineasta Juliana Sanson: Julieta de Bicicleta, dirigido por Juliana Sanson (BRA, 2018).
08.nov.2021
O Sal da terra – Wim Werders e Juliano Salgado (França, Itália e Brasil, 2014)
08.dez.2021
Quanto vale ou é por quilo? – Sergio Bianchi (Brasil, 2005)
Um pouco de história
O primeiro estatuto de um cineclube organizado em bases definidas saiu na revista francesa Ciné Club, organizada por Louis Delluc. Em 1925, ainda na França, nasce a Tribuna Livre do Cinema, inaugurando a tradição de sessões semanais seguidas de debate.
O primeiro cineclube Brasileiro foi o Chaplin Club, em 1928, no Rio de Janeiro, sendo fundado por Almir Castro, Claudio Mello, Octávio de Faria e Plínio S. Rocha. Os encontros fomentaram a criação de uma das nossas primeiras revistas sobre cinema intitulada “O Fã”, sendo responsável pela formação dos nossos primeiros críticos.
Em 1940 tivemos a criação do Clube de Cinema de São Paulo, vinculado à Faculdade de Filosofia, de modo que, um dos seus fundadores foi um dos maiores estudiosos do cinema que o Brasil já teve, Paulo Emílio Salles Gomes, também idealizador da Cinemateca Brasileira, órgão essencial para preservação e restauração dos arquivos fílmicos nacionais.
No pós-guerra os cineclubes tiveram uma expansão, chegando a sindicados, salões paroquiais, escolas e até mesmo praças públicas, em que os filmes eram exibidos e debatidos, sempre com a preocupação de análise crítica, formação política ou pedagógica.
Na década de 1960 os cineclubes ficaram populares no Brasil. Em 1961 foi criado o Conselho Nacional de Cineclubes, hoje chamado de Conselho Nacional de Cineclubes Brasileiros (CNC), entidade vinculada à Federação Internacional de Cineclubes (FICC), cujo o objetivo é fomentar o acesso à cultura por meio do cinema, servindo como instituições fundamentais para a organização dos cineclubes.
A partir do Golpe Militar de 1964, as ações do CNC foram paulatinamente diluídas em razão do autoritarismo das políticas de Estado, elas somente voltariam a ter vigor na VIII Jornada Nacional de Cineclubes, em 1974, com a escrita da Carta Curitiba, no Teatro Paiol, que estabelecia critérios para a retomada da organização cineclubista no país.
Em 1976 a entidade chegou a criar a Dinafilme (Distribuidora Nacional de Filmes Para Cineclubes), que teve um papel importante, para além da produção, poder financiar filmes de curta-metragem por meio de ingressos a preços módicos nas sessões de cineclubes.
No período da redemocratização, a partir de 1985, a produção cinematográfica nacional sofreu com a falta de financiamentos, de modo que os cineclubes também acompanharam essa derrocada, salvo alguns, como o Cineclube Bexiga, em São Paulo, que pôde se profissionalizar e resistir na década de 1990.
No início dos anos 2000, junto com a retomada da produção audiovisual brasileira por meio das leis de incentivo e da equiparação do preço do real ao dólar, as atividades cineclubistas ganharam novo fôlego, sendo um circuito privilegiado para levar ao público as produções independentes ou pouco conhecidas.
Em 2015 o extinto Ministério da Cultura identificou atividades de cineclubes em 701 cidades brasileiras. A última ação para levantamento da atividade é do site Cinema Faro, em 2019, da qual ainda não encontramos resultados publicados.