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Memória retém informações essenciais, mas os detalhes se desbotam com o tempo, diz estudo recente

Quais informações são retidas na memória ao longo do tempo e quais partes se perdem? Essas questões levaram a muitas teorias científicas. Publicado na Nature Communications, novo estudo da equipe de pesquisadores das Universidades de Glasgow e Birmingham tem sido capaz de fornecer algumas respostas.

Memória retém informações essenciaisPor que será que lembramos de um acontecimento, mas alguns detalhes fogem à mente – e a exatidão deles desaparece? Quais informações são retidas na memória ao longo do tempo e quais partes se perdem? Um novo estudo, publicado no final de maio na Nature Communications, demonstra que nossas memórias se tornam menos vibrantes e detalhadas com o tempo, com apenas a essência central eventualmente preservada. O trabalho pode ter implicações em várias áreas, incluindo a natureza das memórias no transtorno de estresse pós-traumático, o questionamento repetido de depoimentos de testemunhas oculares e até mesmo nas melhores práticas de estudo para exames. “Embora as memórias não sejam cópias de carbono exatas do passado – a lembrança é considerada um processo altamente reconstrutivo – os especialistas sugeriram que o conteúdo de uma memória pode mudar cada vez que a trazemos de volta à mente”, explica o Dr. Gabriel Novaes de Rezende Batistella, médico neurologista e neuro-oncologista, membro da Society for Neuro-Oncology Latin America (SNOLA). No entanto, exatamente como nossas memórias diferem das experiências originais, e como elas são transformadas ao longo do tempo, até agora provou ser difícil de medir em ambientes de laboratório.

Para este estudo, os pesquisadores desenvolveram uma tarefa computadorizada simples que mede a rapidez com que as pessoas podem recuperar certas características das memórias visuais quando solicitadas. Os participantes aprenderam pares palavra-imagem e mais tarde foram solicitados a lembrar diferentes elementos da imagem quando acompanhados pela palavra. Por exemplo, os participantes foram solicitados a indicar, o mais rápido possível, se a imagem era colorida ou em escala de cinza (um detalhe perceptivo), ou se mostrava um objeto animado ou inanimado (um elemento semântico). “Esses testes, sondando a qualidade das memórias visuais, aconteceram imediatamente após o aprendizado e também após um atraso de dois dias. Os padrões de tempo de reação mostraram que os participantes eram mais rápidos em lembrar elementos semânticos significativos do que os perceptuais superficiais” explica o médico. “Muitas teorias da memória assumem que, com o tempo, e à medida que as pessoas recontam suas histórias, elas tendem a esquecer os detalhes superficiais, mas retêm o conteúdo semântico significativo de um evento. Imagine relembrar o último jantar com seu amigo: você sabe exatamente o que comeu, se lembra da conversa com o garçom, mas não consegue se lembrar da decoração da mesa ou qual a cor da camisa que estava vestindo”, explica o Dr. Gabriel.

Especialistas em memória ligam este fenômeno ao elemento semântico. “O padrão para a lembrança de elementos semânticos significativos demonstrados neste estudo indica que as memórias são tendenciosas para o conteúdo significativo em primeiro lugar. Queremos que nossas memórias retenham as informações que provavelmente serão úteis no futuro, quando encontrarmos situações semelhantes”, conta o médico

Os pesquisadores descobriram que o ‘preconceito’ em relação ao conteúdo da memória semântica se torna significativamente mais forte com o passar do tempo e com a lembrança repetida. Quando os participantes voltaram ao laboratório dois dias depois, eles demoraram muito para responder às perguntas perceptivo-detalhadas, mas mostraram uma memória relativamente preservada para o conteúdo semântico das imagens. No entanto, a mudança de memórias ricas em detalhes para memórias mais baseadas em conceitos foi muito menos pronunciada em um grupo de indivíduos que visualizou as imagens repetidamente, em vez de ser solicitado a ativamente trazê-las de volta à mente.

O estudo tem implicações para investigar a natureza das memórias na saúde e na doença. “Ele fornece uma ferramenta para estudar mudanças desadaptativas, por exemplo, no transtorno de estresse pós-traumático, em que os pacientes frequentemente sofrem de memórias intrusivas e traumáticas e tendem a generalizar excessivamente essas experiências para novas situações. As descobertas também são altamente relevantes para a compreensão de como as memórias de testemunhas oculares podem ser influenciadas por entrevistas frequentes e por relembrar repetidamente o mesmo evento”, explica o Dr. Gabriel. “As descobertas também demonstram que testar a si mesmo antes de um exame (por exemplo, usando flashcards) fará com que a informação significativa permaneça por mais tempo, especialmente quando seguida por períodos de descanso e sono”, finaliza o neuro-oncologista.

FONTE: *DR. GABRIEL NOVAES DE REZENDE BATISTELLA: Médico neurologista e neuro-oncologista, membro da Society for Neuro-Oncology Latin America (SNOLA). Formado em Neurologia e Neuro-oncologia pela Escola Paulista de Medicina da UNIFESP, hoje é assistente de Neuro-Oncologia Clínica na mesma instituição. O médico é o representante brasileiro do International Outreach Committee da Society for Neuro-Oncology (IOC-SNO).

LINK: https://www.nature.com/articles/s41467-021-23288-5

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