Paiva Netto
Atualmente, em vastas regiรตes da Terra, o simples ato de respirar corresponde ร abreviaรงรฃo da vida. Sofrimentos de origem pulmonar e alรฉrgica crescem em progressรฃo geomรฉtrica. Hospitais e consultรณrios de especialistas vivem lotados com as vรญtimas das mais diferentes impurezas.
Abeirar-se do escapamento de um veรญculo รฉ suicรญdio, tal a adulteraรงรฃo de combustรญvel vigente por aรญ. Isso sem citar os motores desreguladosโฆ
Cidades assassinadas
Quando vocรช se aproxima, por estrada, via aรฉrea ou marรญtima, de grandes centros populacionais do mundo, logo avista paisagem sitiada por oceano de gases nocivos.
Crianรงas e idosos moram lรก… Merecem respeito.
No entanto, de maneira implacรกvel, sua saรบde vai sendo minada. A comeรงar pela psรญquica, porquanto as mentes humanas vรชm padecendo toda espรฉcie de pressรตes. Por isso, pouco adiantarรก cercar-se de muros cada vez mais altos, se de antemรฃo a ameaรงa estiver dentro de casa, atingindo o corpo e a psicologia do ser.
Em cidades praieiras, a despeito do mar, o envenenamento atmosfรฉrico avanรงa, sem referรชncia ร contaminaรงรฃo das รกguas e das areias, o microplรกstico… O que surpreende รฉ constituรญrem, muitas delas, metrรณpoles altamente politizadas, e sรณ de algum tempo para cรก seus habitantes na verdade despertarem para tรฃo terrรญvel risco.
Despoluir qualquer รกrea urbana ou rural deveria fazer parte do programa corajoso do polรญtico que realmente a amasse. Nรฃo se pode esperar que isso apenas ocorra quando se torna assunto lucrativo. Ora, nada mais proveitoso do que cuidar do cidadรฃo, o Capital de Deus.
As questรตes sรฃo mรบltiplas, mas esta รฉ gravรญssima: estamos respirando a morte. Encontramo-nos diante de um tipo de progresso que, ao mesmo tempo, espalha ruรญna. A nossa prรณpria.
Comprova-se a precisรฃo urgente de ampliar em largo espectro a consciรชncia ecolรณgica do povo, antes que a queda de sua qualidade de vida seja irreversรญvel. Este tem sido o desafio enfrentado por vรกrios idealistas pragmรกticos.
Entretanto, por vezes, a ganรขncia revela-se maior que a razรฃo. O descuido no preparo de certas comunidades, para que nรฃo esterilizem o solo, mostra-se superior ao instinto de sobrevivรชncia. (…)
A poluiรงรฃo que chega antes
A infinidade de poluiรงรตes que vรชm prejudicando a vida de cada um deriva da falรชncia moral que, de uma forma ou de outra, inferniza a todos.
Viver no presente momento รฉ administrar o perigo. Mas ainda hรก tempo de acolhermos a asserรงรฃo de Antoine de Saint-Exupรฉry (1900-1944): โร preciso construir estradas entre os homensโ.
Realmente, porque cada vez menos nos estamos encontrando nos caminhos da existรชncia como irmรฃos. Longe da Fraternidade, nรฃo desfrutaremos a Paz.
Josรฉ de Paiva Netto โ Jornalista, radialista e escritor.
paivanetto@lbv.org.br โ www.boavontade.com