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Estudo da Universidade Positivo mostra influência de páginas do Facebook nas eleições e na democracia brasileira

Relatório revela, em números, relação direta entre aumento do volume de postagens e interações com o debate político a partir de 2015

Estudo mostra influência de páginas do Facebook nas eleições e na democracia brasileira
Imagem de Gerd Altmann por Pixabay

O primeiro recorte de um extenso trabalho científico envolvendo eleições, redes sociais e democracia acaba de dimensionar o ganho de escala e a capilaridade que 27 páginas do Facebook foram capazes de alcançar entre os anos de 2010 e 2020, sendo 2015 o “momento-chave” para o crescimento contínuo desses perfis. De fazer inveja a qualquer veículo de comunicação da chamada grande mídia, em busca de engajamento, esse pequeno universo conseguiu, por meio de um total de 206,6 mil publicações, gerar 253,7 milhões de interações nas postagens ao longo do período analisado, sendo que a grande maioria (87,9%) via curtidas e compartilhamentos. As páginas analisadas são públicas e integram um universo de diferentes plataformas – geridas pela mesma pessoa ou grupo – que foram consideradas produtoras e difusoras de “Fake News” na Informação Técnica, de 23 de abril de 2020, da Consultoria Legislativa da Câmara de Deputados.

Além de identificar o ponto em que as páginas do Facebook passaram a ter mais importância no debate político – a partir de 2015 –, a pesquisa também identificou os momentos em que tais perfis cresceram de forma acentuada, a ponto de o gráfico de desempenho formar hipérboles. Fazendo uso de ferramentas de estatística descritiva e do próprio CrowdTangle, aplicativo de navegação no Facebook que segue o conceito de posts “overperforming” [mais populares], os pesquisadores verificaram três momentos em que fica evidente o salto na produção de posts e interações. São eles: eleições majoritárias em 2018, o primeiro ano de mandato do presidente da República Jair Bolsonaro, em 2019, e o primeiro ano da pandemia de Covid-19, até meados de 2020.

O levantamento é resultado do estudo inédito sobre fake news e eleições, apresentado pela  Universidade Positivo (UP) ao Facebook. “Em outubro de 2020, demos início a esse trabalho científico que pretende auxiliar na compreensão do uso e da influência das redes sociais no processo democrático brasileiro. Apenas nessas primeiras 27 páginas que constam no primeiro relatório parcial, já é possível observar a aceleração de publicações e interações em escala considerada. Elas são capazes de atingir e mobilizar, em ambientes aparentemente segmentados de bolhas comunicacionais, milhões de usuários nas redes sociais”, aponta o professor do mestrado em Direito da Universidade Positivo e coordenador do grupo de pesquisa, Eduardo Faria Silva.

Ele chama atenção para outra constatação do relatório que, ainda levando em conta o número de postagens e interações, o segundo semestre de 2020 apresenta uma queda acentuada da dinâmica do universo das 27 páginas, em especial, após os mandados judiciais expedidos pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), nos Inquéritos das Fake News e dos Atos Antidemocráticos.

O coordenador explica que os dados mostram a movimentação do “ecossistema” de indivíduos e de coletividades que atuam no Facebook e que integram um universo de plataformas – geridas pela mesma pessoa ou grupo – que foram consideradas produtoras e difusoras de “Fake News” na Informação Técnica, de 23 de abril de 2020, da Consultoria Legislativa da Câmara de Deputados. Os dados da CPI das Fake News foram extraídos e analisados pelo Grupo de Pesquisa sobre Democracia e Tecnologias Digitais do Mestrado em Direito da UP.

Integram o grupo do Mestrado em Direito da Universidade Positivo os pesquisadores: Ana Carolina Contin Kosiak, Anderson Marcos dos Santos, Gabriel Schulman, Giulia de Angelucci, Laymert Garcia do Santos, Olívia Alves Gomes Pessoa e Vinícius Cunha Zanatta da Silva.

 

27 páginas com 6 perfis

No primeiro relatório parcial da pesquisa, o grupo realizou também uma análise de seis perfis que predominaram por arquétipo no universo das 27 páginas analisadas do Facebook. São eles: (a) humor, Jacaré de Tanga; (b) religião, Gospel Prime; (c) política, Terça Livre; (d) anticientífica, Terra Plana; (e) saúde, Naturalmente Saudável; (f) personalidade pública, Dr. Robert Rey.

Tais perfis, ao longo dos anos de 2015 a 2020, foram responsáveis por um total de 59,4 mil postagens que conseguiram 60,6 milhões de interações nas publicações ao longo do mesmo período. Em comum, os seis perfis reforçam os indícios de existência de bolhas formadas por temas de interesse, já que não são conhecidos por uma parcela considerável da população e, mesmo assim, apresentam um engajamento de alta performance. Em termos de número de postagens e interações, o ano das eleições de 2018 mostrou uma dominância plena do perfil de humor Jacaré de Tanga.

Os perfis Terça Livre, Dr. Robert Rey e Naturalmente Saudável, que abordam diretamente temas de política e saúde, registraram um salto na média de interações anual em cada postagem em 2019, início do governo do presidente Jair Bolsonaro. Já o perfil religioso Gospel Prime e de anticiência Terra Plana apresentaram um crescimento em 2018 e mantiveram uma constância em 2019 e 2020. “Pelo que analisamos até o momento, em apenas 27 páginas, por meio de critérios metodológicos e científicos rigorosos, podemos indicar evidências de que o Facebook assumiu importância como espaço de difusão de conteúdo e manifestação política, em sentido amplo, desde a metade da década de 2010, de modo até mesmo a influenciar, em alguma extensão, as eleições e a dinâmica da democracia brasileira”, conclui Faria. Para acompanhar as pesquisas e acessar o relatório na íntegra, acesse https://tecdemocracia.org/.

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