Rita Schane*
Trocar o som das letras, usar palavras no diminutivo e escolher um tom de voz suave. Quem convive ou já conviveu com bebês provavelmente reconhece essa descrição. O conhecido “tatibitati” é a forma que muitos pais e familiares encontram para se aproximar da fala de seus bebês. Fora do Brasil esse comportamento é conhecido como “baby talk” (fala de bebê, em tradução livre). Embora algumas pesquisas demonstrem que a prática realmente aumenta a proximidade entre pais e filhos, há especialistas que advertem sobre o risco de interferir no desenvolvimento da fala da criança.
Tal como em muitos aspectos relacionados a um crescer saudável, no caso da fala infantilizada, o segredo está também no equilíbrio. Quando a criança é ainda muito pequena e não sabe se comunicar por meio da fala, interagir com ela em uma linguagem mais próxima do mundo infantil pode contribuir para que compreenda melhor o que está sendo dito e se sinta acolhida pelos adultos. No entanto, conforme ela cresce e começa a conviver em outros espaços, estabelecendo vínculos com outras pessoas, é preciso substituir o hábito por uma linguagem adequada à sua idade.
É importante entender que, assim que os filhos começam a se apropriar da oralidade, usar um vocabulário correto se torna fundamental e saudável. Afinal, o bom exemplo é a melhor forma de ensinar. Com os anos, os pequenos passam a frequentar ambientes como a escola, por exemplo, e podem inclusive ser vítimas de bullying se não tiverem uma forma de falar apropriada. O choque linguístico causado pelo prolongamento do baby talk ao longo da vida é real e precisa ser evitado, e o incentivo a meninos e meninas a adquirir maior repertório por meio da contação de histórias, contato com livros, músicas, filmes, desenhos e de conversas bem articuladas é bem-vindo.
Assim como acontece em todos os aspectos da vida humana, pais e familiares devem respeitar o tempo de cada criança. Enquanto algumas apresentam uma fala muito bem desenvolvida desde cedo, outras precisarão de mais tempo e acesso à fala adulta. Errar, ser corrigido e aprender novas palavras fazem parte desse importante processo.
Vale lembrar, ainda, que o uso do diminutivo para algumas palavras não chega a ser um problema. Existem pais que seguem dizendo “filhinho, pratinho, comidinha, brinquedinho”, por exemplo, mesmo quando os filhos já deixaram de ser crianças há muito tempo. Trata-se de uma maneira carinhosa e legítima de cultivar o afeto e não representa uma ameaça ao desenvolvimento da fala. A linguagem é muito dinâmica e recursos como esses não interferem no progresso dos filhos, pois apropriar-se dela estabelecendo laços de amor é natural.
E aquelas crianças que seguem fazendo algumas trocas de letras mesmo quando já estão saindo da Educação Infantil, tais como o d pelo t, o p pelo b, o r por l? Calma! Na maior parte dos casos, esses equívocos acabam sendo corrigidos com o tempo e com o acesso à linguagem dita como padrão. Estimular o ganho de repertório é indispensável para ajudar nesse processo e na aprendizagem como um todo.
Fique atento, também, com aquela criança que, quando quer algo, somente aponta para o objeto; pais e professores devem pedir que ela diga o que quer, antes de entregá-lo. Isso estimula o desenvolvimento da linguagem.
Assim, devagar, com paciência e delicadeza, bebês e crianças vão se apropriando da articulação correta de cada uma das inúmeras palavras que precisarão usar ao longo da vida. Corrigir a pronúncia é uma estratégia, desde que seja feita com parcimônia, sem apressar o processo pelo qual os pequenos estão passando.
Lembre-se que o erro é sempre uma tentativa de acerto e que cada criança tem as suas limitações e seu próprio tempo para aprender. Acolher esses dois princípios é uma demonstração de afeto e respeito ao seu desenvolvimento!
*Rita Schane é doutoranda em Educação e supervisora de avaliações do Sistema de Ensino Aprende Brasil.