A Associação Brasileira de Importadores e Distribuidores de Produtos para Saúde – ABRAIDI – finalizou pesquisa sobre distorções no setor de saúde que impactam no fluxo de caixa das empresas fornecedoras de produtos, como EPIs, cateteres, marcapassos, próteses, entre os milhares de itens que atendem hospitais públicos e privados por todo o país. Os problemas representam 64% do custo de operação das companhias. O levantamento é feito pelo quarto ano consecutivo e permite comparações com os anos anteriores.
Os faturamentos postergados por hospitais e operadoras é o item com o maior volume de recursos contingenciados e chegou a R$ 793,4 milhões. Pela pesquisa ABRAIDI, operadoras e hospitais ultrapassam, em média, 118 dias para quitar débitos. O segundo item foi a inadimplência que chegou a R$ 714 milhões, quando o fornecedor não é remunerado após 180 dias, a partir da realização do procedimento cirúrgico. As glosas injustificadas ficaram, em terceiro lugar, com um volume financeiro paralisado de R$ 118,6 milhões.
As três distorções somadas representam um valor de R$ 1,626 bilhão não pago por hospitais públicos e privados, por convênios, planos de saúde e seguradoras. “É um volume excessivo e afeta o fluxo de caixa de qualquer empresa, mas atinge de forma muito maior as pequenas e médias, e que amplificou durante a pandemia”, esclarece o presidente da ABRAIDI, Sérgio Rocha. Em 2019, as distorções representavam 50% do fluxo de caixa, mas, no ano passado, subiram 14 pontos percentuais chegando a 64%.
O valor retido ou bloqueado bateu recorde, desde que a pesquisa foi iniciada em 2017. Convênios, planos de saúde e seguradoras contingenciaram R$ 392 milhões de empresas fornecedoras de produtos para a saúde; já os hospitais privados bloquearam pagamentos de R$ 290,4 milhões, enquanto que as instituições públicas foram responsáveis por R$ 111 milhões.
Já as glosas ocorrem, em geral, quando a operadora ou o plano de saúde se nega a pagar alguns produtos, materiais ou equipamentos utilizados em cirurgia previamente autorizada por eles mesmos. “Em alguns casos, a conta hospitalar inteira pode ser glosada, sem argumento plausível”, lembra Rocha. Isso pode decorrer por questões burocráticas, de terceiros ou não justificáveis. 89% dos associados relataram sofrer com valores glosados, sendo 64% atribuídas a convênios, operadoras e planos de saúde, enquanto 36% relativos aos hospitais. Embora o número de associados que afirmaram sofrer com glosas tenha aumentado três pontos percentuais (86%), o valor total foi aproximadamente 26% menor que 2019 (R$ 160,6 milhões). Para o presidente, as glosas podem ter sido menores por conta da queda em cirurgias eletivas, atendimentos e exames provocados pela pandemia de Covid-19. Somente no SUS foram 1,3 milhão de cirurgias canceladas.
Outra distorção que afeta os fornecedores é a inadimplência, contabilizada após 180 dias sem remuneração pelos serviços e/ou produtos entregues. Também devem-se considerar inadimplência os valores “perdidos” em razão de falência do prestador de serviço ou da fonte pagadora e até mesmo por má-fé. Segundo a pesquisa da ABRAIDI, 94% dos associados registraram perdas com inadimplência ou calote por parte de hospitais, operadoras ou órgãos públicos.
Para Sérgio Rocha, esse cenário sempre foi bastante desolador para que o fornecedor de produtos para a saúde consiga manter a empresa em atividade e, de certa forma, encarece todo o custo operacional e em cadeia. Mas a pandemia de Covid-19 ainda trouxe elementos adicionais como problemas logísticos que aumentaram o frete, num país continental, como o Brasil; elevação excessiva do dólar – produtos e insumos são importados; além da elevação de 0% para 18% do ICMS imposta pelo Governo de São Paulo. “Precisamos buscar formas urgentes para tornar o setor sustentável”, concluiu.