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A importância da música

 Por Wanda Camargo*

Na noite de 29 de maio de 1913 a sofisticada plateia do teatro Champs-Elysées de Paris comportou-se de modo inusitado: vaias, urros, gritos, ameaças de morte. O motivo foi a estreia do ballet “A Sagração da Primavera” com música de Igor Stravinsky e coreografia de Vaslav Nijinsky. Música e dança eram insuportavelmente inovadoras para aquele, então pacato, começo de século: dissonâncias, assimetrias, politonalidades, tudo o que definiria a música clássica pelos próximos cem anos estava lá, e não foi compreendido pela maioria dos que ouviram gerando entusiasmada rejeição.

Talvez parte da estranheza se devesse ao que alguns definem como premonição artística, a absoluta quebra de parâmetros musicais anteciparia a guerra a iniciar em pouco mais de um ano, e que ceifaria milhões de vidas e a estrutura cultural europeia do século XIX.

Na verdade, música certamente é importante na vida das pessoas, servindo a diferentes propósitos e interesses: sua influência ficou determinada já na mitologia grega sobre Orfeu, o único mortal a descer ao Hades e resgatar sua amada comovendo o próprio rei dos infernos com sua música; e em relação aos adultos, os jovens têm distintas preferências por estilos musicais, que representam uma etapa importante no estabelecimento de suas identidades pessoais e sociais, compatibilizam grupos e permeiam seus relacionamentos, pois gostar de determinados conjuntos musicais (clássicos, de rock, de funk, ou outros), é elemento de convergência de geração.

Por isso psicólogos dizem que “as preferências musicais são acompanhadas de atitudes específicas que reforçam – mas também ultrapassam – os gostos musicais”, dado que ao lado da música, as roupas e o linguajar são “elementos simbólicos” que permitem identificar aqueles que pertencem ou não a determinadas tribos, estão numa certa faixa etária, se divertem de maneiras características e pensam mais ou menos de mesma forma.

Assim, música é fator importante na formação da identidade social, já que determinados estilos são relacionados com adolescência, rebeldia e juventude, embora esta associação vá mudando ao longo do tempo; valsas mesmo já foram consideradas inovadoras e insubordinadas aos antigos cânones.

Embora adolescentes não ouçam normalmente um único tipo de música, a tendência é existir um favorito, e normalmente este é visto com certa estranheza pelos mais velhos, possivelmente por constituir tendência de produção de sensações e muitas vezes apologia de comportamento anticonvencionais, de alguém que não se sujeita às normas sociais, de quem assume valores não tradicionais.

Dentro das escolas registros mostram que desde a antiguidade os egípcios se dedicavam ao ensino da música instrumental, da mesma forma chineses ensinavam canto e dança, e os gregos e romanos davam extrema importância ao aprendizado da música, parte da formação do cidadão.

Pitágoras considerava música e dieta como meios de manter a harmonia e saúde do ser humano.

Portanto, na formação integral de um ser física e mentalmente equilibrado, a educação musical sempre foi recomendada, como auxiliar da cognição, por aumentar a sensibilidade e a capacidade de melhora nos relacionamentos interpessoais.

O país hoje, embora tenha uma certa tradição no ensino musical, salvo raras exceções parece ter relegado esta prática a escolas especialmente dedicadas, à escolha de famílias mais esclarecidas sobre sua importância ou até de maior poder aquisitivo, já que representam um novo gasto no âmbito familiar.

Portanto, a composição, a interpretação, e o ensino da música está cada vez menos aberto como campo de trabalho de professores nas salas de aulas comuns, já que estas atividades não se destinam apenas aos futuros grandes músicos, mas também à pessoa comum, que poderia conhecer um pouco melhor, mesmo que vocacionadas a outros segmentos no mundo do trabalho.

Esta é uma área importante, e que certamente faria diferença na formação e desenvolvimento da inteligência de todos os jovens.

 

Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil.

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