Trajano Ferreira Caldas Neto tinha 28 anos quando era proprietário de uma próspera empresa de construção civil com 23 colaboradores. Certo dia, depois de um breve descanso em casa, percebeu que havia perdido a visão do olho esquerdo. Um ano e três meses depois, a cegueira tomou conta do olho direito. Recorreu à especialistas de Ponta Grossa e Curitiba, mas não conseguiu reverter a perda da visão.
Hoje, aos 35 anos, ainda não tem um diagnóstico conclusivo. A única certeza, durante todos esses anos, era a de que não poderia parar de trabalhar e estudar. Hoje é alunos presencial do 3º ano de Administração da UniCesumar Ponta Grossa e atleta paraolímpico.
Ao retornar da Paralimpíada Universitária, realizada em setembro, em São Paulo, ele trouxe três medalhas para Ponta Grossa. Ganhou prata no arremesso de dardo e bronze no arremesso de peso e de disco. “Jamais pensei em ser atleta, até levar um beliscão da vida”, brinca.
Assim que percebeu a perda total da visão, Trajano resolveu terminar o Ensino Fundamental. Ele havia estudado até a 6ª série. Na sequência, fez vários cursos focados em sua deficiência como informática especializada, soroban, braile, musicalização, dança e esporte adaptado. Hoje, além de atleta e acadêmico de Administração, estuda espanhol e também faz palestras motivacionais. A cegueira não foi um ponto final.
Ele vive sozinho. Acorda às 5h, frequenta diariamente a academia, faz compras de supermercado, arruma a casa e vai de transporte coletivo até a UniCesumar. Para Trajano, acessibilidade é “ir pra onde quer e quando se quer”.
Sua primeira competição foi no Rio de Janeiro onde ficou em terceiro lugar no lançamento de dardo. De lá pra cá, vem acumulando alguns recordes e títulos. Seus novos objetivos são os Jogos Parapan-americanos e Paralimpíadas, além de continuar estudando. “Não existe objetivo alcançado sem obstáculo quebrado”, garante.
A professora de Administração, Daniele Mudrey Degraf, vê Trajano como um estudante inspirador. “Além de participativo nas aulas presenciais, ele tem ótimo humor. Mostra que mesmo diante de limitações físicas, não exclui a sua responsabilidade de ser e fazer cada dia melhor. Nas aulas ele sempre reforça que a limitação está na cabeça das pessoas”.