“Pelo papel que as mulheres já exercem na cardiologia”. Dessa forma, a cardiologista Ieda Jatene embasa sua campanha para assumir a presidência da SOCESP (Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo) para o biênio 2022/2023, à frente de uma chapa na qual a participação feminina é notória. “Não se trata de uma campanha sexista, mas de valorização da forte presença de mulheres na especialidade dentro do Estado de São Paulo”, ressalta a cardiologista.
A relação entre a especialista e a SOCESP já soma duas décadas: entre 2001 e 2003, na gestão de Antônio Carlos Chagas, Ieda assumiu como 1ª secretária. Na época, coordenou o programa de capacitação de âmbito estadual para levar conhecimento sobre o coração a cardiologistas, pediatras, enfermeiros, berçaristas, cirurgiões cardíacos e neonatologistas.
O vínculo com a SOCESP também não é por acaso: ela é filha do primeiro presidente, Adib Jatene, que foi indicado ao cargo pelas lideranças da cardiologia paulista da época, em 1977, quando o acreano de origem libanesa já era referência internacional em cirurgia cardíaca. Jatene – que também gestou como secretário e ministro da Saúde – foi responsável por implantar no Brasil a revascularização cirúrgica com ponte de safena para tratar obstruções na artéria coronária, técnica desenvolvida pelo médico argentino Renné Favaloro. O seu irmão, Fabio Jatene, também foi presidente da entidade, entre 1997 e 1999.
Assim como seu pai se tornou um ícone da cirurgia cardíaca, tendo desenvolvido a cirurgia de Jatene, procedimento realizado em bebês que consiste na inversão da posição da artéria aorta e da artéria pulmonar, colocando-as na posição correta, Ieda é reconhecida por seu trabalho nas áreas de cardiopatia congênita e pediátrica. Graduada pela Faculdade de Medicina do ABC, em 1979, Ieda tem especialização em cardiologia, cardiologia congênita e cardiologia pediátrica pelo Instituto Dante Pazzanese, além de doutorado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Atualmente é líder médica do serviço de cardiopatias congênitas e cardiologia pediátrica do Hospital do Coração (HCor).
A cardiopatia congênita é a segunda maior causa de morte de crianças no Brasil, atrás apenas da má formação cerebral. No Brasil, cerca de 24 mil bebês nascem todos os anos com algum tipo de doença do coração. A patologia se instala durante o desenvolvimento intrauterino. São alterações da estrutura ou musculatura cardíaca que geram algum grau de comprometimento em seu funcionamento. “O aprimoramento de técnicas cirúrgicas inovadoras e diagnóstico precoce, aliados à aplicação de conceitos diferenciados no atendimento a gestantes, têm contribuído de maneira decisiva para a sobrevivência dos bebês cardiopatas que temos atendido ao longo dos anos”, afirma a especialista.
De mulher para mulher
A SOCESP sempre buscou a equiparidade entre seus profissionais. Mas, ciente de que o trabalho das mulheres da saúde requer um olhar mais atento do público, em março deste ano, lançou uma ação de valorização da mulher cardiologista e profissional de saúde, contemplando uma série de entrevistas sobre os desafios do universo feminino. A temporada de entrevistas foi uma iniciativa do SOCESP Mulher, coordenado pela diretora Lilia Nigro Maia, responsável pela equipe composta por Ieda, Maria Cristina Izar, Suzana Avezum, Salete Nacif e Isa Pispico. A nova presidente da SOCESP já convidou Lilia Maia, que aceitou, para seguir coordenando o SOCESP Mulher pelos próximos dois anos.
As mulheres estão em todas as áreas da entidade, com 1.151 cardiologistas do sexo feminino, 1.031 acadêmicas de medicina, 305 médicas residentes e 131 de outras especialidades. Além disso, a SOCESP prima por ser uma sociedade multidisciplinar e tem 249 associadas das áreas de educação física, enfermagem, farmacologia, fisioterapia, nutrição, odontologia, psicologia e serviço social, além de 255 acadêmicas e 126 residentes de outras áreas da saúde.
Esta representatividade, porém, não está só deste lado do balcão: levantamento revela que as doenças cardiovasculares, que há 60 anos vitimavam nove homens para cada mulher, atualmente estão quase na mesma proporção: um para uma. “O acúmulo de tarefas profissionais e domésticas e a bem-vinda chegada das mulheres aos altos cargos corporativos – mas com toda a responsabilidade e stress que estas atividades encerram – podem justificar essa nada agradável igualdade entre os sexos quando o assunto é o coração”, diz Ieda. “Para muitas mulheres, porém, as preocupações com terceiros – filhos, pais, marido etc. – se sobrepõem aos cuidados com a própria saúde. Como sociedade de especialidade com papel político e social, a SOCESP terá ainda mais força para debater sobre a saúde do coração feminino, bem como sobre a necessidade de prevenir os fatores de risco, falando de mulher para mulher”.
Diretoria
Presidente – Ieda Biscegli Jatene
Vice-Presidente – Alexandre Abizaid
1ª Secretária – Maria Cristina Izar
2ª Secretária – Auristela Ramos
1º Tesoureiro – Ricardo Pavanello
2ª Tesoureiro – Salete Nacif
Diretor de Publicações – Miguel Antonio Moretti
Diretora de Qualidade Assistencial – Carlo Gun
Diretor Científico – Felix Ramires
Diretor de Comunicação – Marcelo Franken
Diretor de Relações Institucionais e Governamentais – Renato Azevedo Jr.
Diretor de Regionais – Andrei Sposito
Diretora de Promoção e Pesquisa – Luciano Drager
Diretor do Centro de Treinamento em Emergências – Edson Stefanini (Coordenadores do Projeto Infarto – Edson Stefanini, Antonio Claudio do Amaral Baruzzi. Roberta Saretta e Jorge Zarur Neto)
Coordenadores do Centro de Memórias – Alberto Francisco Piccolotto Naccarato e Ronaldo Fernandes Rosa
Coordenadores do Projeto Insuficiência Cardíaca – Dirceu Rodrigues Almeida e Múcio Tavares de Oliveira Junior
Coordenadora do SOCESP Mulher – Lilia Nigro Maia