Ao escolher um produto mais abrasivo sem hidratar a pele na sequência pode ocorrer um fenômeno conhecido como efeito rebote, em que há piora da acne
Quem já pegou um produto na prateleira da farmácia para tratar acne sabe que a chance de errar é muito maior do que a de acertar. “A acne é uma doença inflamatória de pele que tem causa multifatorial e, se um médico não for consultado, o corpo pode não responder tão bem ao tratamento. Na verdade, pode haver até mesmo um processo de piora: o chamado efeito rebote”, explica a Dra. Roberta Padovan, médica pós-graduada em Dermatologia e Medicina Estética. “Nesse caso, os produtos utilizados secam demais a pele, dando a impressão do controle da oleosidade, porém o sistema biológico do corpo entende que houve uma agressão e desenvolve mais óleo para dar o equilíbrio necessário. Este desenvolvimento com produção de mais do óleo é chamado de efeito rebote e, associado à descamação da pele causada pelo ressecamento, aumenta o acúmulo da acne, piorando o processo infeccioso e formando comedões”, acrescenta a médica.
Os produtos que causam esse efeito podem ser de higienização (como os sabonetes), de tonificação (como os tônicos adstringentes com álcool em excesso na formulação) e secativos. Produtos abrasivos, alcalinos e com maior grau esfoliante acabam mudando muito o pH da pele. “Quando isso ocorre e não há a hidratação da pele logo na sequência, a única maneira que o organismo tem para tentar se defender dessas agressões sofridas é produzindo mais gordura”, explica. “E, sim, a pele oleosa e acneica também precisa ser hidratada, com veículos específicos em tecnologias oil-free”, explica.
Outro erro comum é o excesso de limpeza, às vezes com reaplicação do produto várias vezes ao dia, o que também colabora para esse fenômeno, ao mesmo tempo em que agride o microbioma da pele, um conjunto de ‘microrganismos do bem’ que ajuda, inclusive, a ter a pele íntegra. “O ácido salicílico, um agente multifuncional, muito utilizado em pacientes com acne, por exemplo, atua sobre praticamente todas as alterações presentes na acne, por isso é bastante utilizado em produtos de limpeza e de tratamento. Mas quando utilizado de maneira exagerada, pode levar à redução excessiva da oleosidade da pele, com ressecamento intenso e posterior estímulo à produção compensatória de mais oleosidade”, acrescenta.
Segundo a Dra. Roberta Padovan, a escolha errada de produtos e o uso sem a devida orientação podem aumentar a resistência da acne, desencadeando até um quatro de acne severa, que exige tratamento via oral com isotretinoína — medicamento eficaz contra espinhas e oleosidade, mas cheio de efeitos adversos.
O primeiro passo para tratar acne é procurar ajuda de um médico. Para evitar o efeito rebote, não é necessário evitar substâncias cosméticas. “Na verdade, estas devem ser utilizadas de maneira correta, para que sua eficácia seja atingida, levando aos resultados desejados”, conta.
A médica orienta que seja feita, sim, a limpeza e higienização da pele, mas com orientação e parcimônia, não ultrapassando a quantidade de três vezes ao dia. “A hidratação posterior deve ser feita na forma de sérum, gel ou produtos oil-free e com toque seco, com protetores adequados ao clima e à pele, o que também é importante para fazer com que não haja o efeito rebote”, comenta. Para produtos de tratamento, a médica sugere a combinação dos medicamentos tópicos: peróxido de benzoíla e adapaleno, conforme orientação médica. “O primeiro é um agente oxidante com ação bactericida e que ajuda a dissolver o excesso de queratina da pele; já o adapaleno é derivado da Vitamina A, funciona como anti-inflamatório e impede a obstrução dos poros”, explica.
No caso do controle da oleosidade, existem ativos que não têm ação específica nas glândulas sebáceas, mas controlam a oleosidade por até 6 horas. É o caso das sílicas e amidos modificados que conseguem absorver o sebo liberado na superfície da pele, proporcionando efeito “matte”, ou seja, sem brilho. “Não esqueça também de adequar a alimentação, já que o excesso de açúcar, leite e alimentos pró-inflamatórios estimulam a produção exacerbada de oleosidade”, finaliza.
FONTE:
*DRA. ROBERTA PADOVAN: Médica Pós-graduada em Dermatologia. Graduada em Medicina pela Universidade do Oeste Paulista (UNOESTE) e especialista em Medicina Estética e Dermatologia pela INCISA. Com participação regular em congressos, jornadas e cursos nacionais e internacionais, a médica é proprietária de duas clínicas, no no Maranhão e em São Paulo, com diversos tratamentos para saúde e beleza da pele. Além disso, atuou como médica residente no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto. www.robertapadovan.com.br