Por Wanda Camargo
O ser humano costuma ser hostil ao diferente ou incompreensível. Em outros tempos esta hostilidade era manifestada de modo até reservado, no entanto com a universalização dos meios de comunicação, imprensa, rádio, televisão e, finalmente, as redes sociais, o desconforto com o novo e desconhecido encontrou um canal de divulgação. Os diferentes grupos de opinião formaram imensos “guetos” de informação, fascistas liam a imprensa fascista, comunistas tinham a sua, e assim cada segmento político ou ideológico encontrou seu ambiente de ideias, que julgavam universais por não tomarem conhecimento de outras que as contestassem ou contextualizassem.
Mesmo com a atual disponibilidade ilimitada de informações são poucas as pessoas que se interessam em pensar em algo diferente daquilo que “já conhecem”. Tal ambiente é campo fértil para demagogos e populistas que fomentam os ódios e preconceitos vindos da ignorância para seus próprios propósitos pecuniários ou eleitoreiros.
Assim a convivência em redes sociais ou pessoais tem se tornado cada vez mais violenta: agressões verbais ou mesmo físicas, ataques homofóbicos, xenófobos, misóginos, têm sido frequentes e cada vez mais vemos atualmente grupos que apresentam altos índices de agressividade.
Muitos cientistas sociais têm se debruçado sobre a questão da hostilidade, investigando, principalmente, a sua natureza, se ela seria inata ou aprendida. Esta questão foi formulada no início do século, na tentativa de orientar os estudos sobre a agressão, e permeou as principais investigações sobre o tema. Evidentemente percebemos a influência de determinadas circunstâncias ambientais para o desenvolvimento do comportamento agressivo, pois condições desfavoráveis como privação de alimento ou espaço, ausência do afeto ou cuidados familiares, dores físicas ou psicológicas, podem resultar num indivíduo com altos índices de agressividade quando comparado a outro em ambiente favorável.
O aumento da agressividade tanto em humanos quanto em outras espécies animais é inevitável quando estimulações aversivas com alto grau de violência estão presentes, quando a criação é feita em isolamento social, com negligência ou presença de abuso físico, sexual ou psicológico na infância. Pesquisas apontam que entre as principais causas de mortalidade em todo planeta, estão as relacionadas às doenças infecciosas e à violência; nos adolescentes de forma geral, tal taxa é alta em ferimentos, homicídios e suicídios, que estão de forma direta ou indireta associados com violência.
Trabalhos científicos apontam também que expor crianças e adolescentes a situações de brutalidade, vividas ou mesmo apenas assistidas, seja em meios digitais ou no âmbito comunitário, podem torná-las menos sensíveis à dor e ao sofrimento dos outros.
A influência da participação ativa ou passiva nas agressões faz com que percamos a noção de errado ou certo nestes comportamentos, e pode levar ao medo do mundo ao redor. Principalmente a violência na convivência no círculo mais estreito, que de certa forma habitua a normalizar esta atitude, faz a criança passar a ter maior probabilidade de bater em seus companheiros de jogos, desobedecer a algumas regras, deixar tarefas inacabadas, e menos dispostas a esperar pelo que desejam.
Assim avança a ciência sobre o campo de conhecimento das ações humanas. Vivências cotidianas se convertem em objetos de estudo científico e noções de comportamento humano e de ciência tornaram-se praticamente indissociáveis, reforçando a importância das escolas na contenção dos aspectos mais selvagens da personalidade de crianças e jovens. Educar-se é entender o outro, com todas as suas possíveis características que diferem das nossas, desenvolver benevolência com nossos semelhantes e compreensão para com os menos instruídos.
Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil.