Estudo publicado em agosto na revista Circulation aponta que diminuir consumo de calorias moderadamente, em associação com prática de exercícios apenas 4 vezes por semana, é capaz de reduzir peso e enrijecimento das artérias com resultados superiores a restrições calóricas intensas.
Alimentação balanceada e prática de exercícios físicos são os principais pilares para a manutenção do peso e da saúde do coração. E, ao contrário do que muitos pensam, não é preciso ir longe para se manter saudável e prevenir doenças cardiovasculares. Um estudo publicado em agosto na revista médica Circulation apontou, por exemplo, que cortar somente 250 calorias por dia da dieta e praticar exercícios moderados por 30 minutos apenas 4 vezes na semana já é capaz de melhorar significativamente a rigidez da aorta em pacientes obesos. “Ocorrendo naturalmente com a idade, mas sendo acelerado por fatores como obesidade, tabagismo, genética, sedentarismo e má alimentação, o enrijecimento da aorta consiste no endurecimento e perda da elasticidade da parede dessa artéria, o que impede que trabalhe adequadamente, dificultando a passagem e a distribuição do sangue e desregulando a pressão sanguínea. Como resultado, ocorre um aumento no risco de doenças cardiovasculares, como aterosclerose, infarto e derrame, além de danos a uma série de órgãos importantes, incluindo o cérebro, os rins e o fígado”, diz o Dr. Juliano Burckhardt, médico cardiologista, geriatra e nutrólogo, membro Titular da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) e da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN).
O estudo contemplou 160 adultos sedentários e obesos com idades entre 65 e 79 anos, que foram divididos em três grupos: prática de exercícios sem mudanças na dieta; atividade física com redução de 250 calorias por dia na dieta; e realização de exercícios com restrição calórica de aproximadamente 600 calorias por dia. A duração da pesquisa foi de 5 meses, com a estrutura e o funcionamento da aorta sendo avaliados periodicamente através de ressonância magnética. Após análise dos dados coletados, os pesquisadores observaram que os grupos que combinaram restrição calórica com prática de exercícios apresentaram redução de 10% de seu peso, o que não ocorreu no grupo que apenas realizou as atividades físicas sem mudanças na dieta. No entanto, apenas o grupo que passou por restrição calórica moderada apresentou melhora significativa da rigidez da aorta. “Estudos anteriores já haviam mostrado que a perda de peso resulta em melhorias metabólicas que reduzem o esforço do coração, diminuem a pressão arterial e, consequentemente, melhoram a saúde da aorta. Então, visto que ambos os grupos com restrição calórica perderam peso de maneira similar, era de se esperar que a redução na rigidez da aorta fosse semelhante, o que não aconteceu, com o grupo que restringiu as calorias moderadamente apresentando resultados superiores. A hipótese levantada pelos pesquisadores para esse fato é que uma restrição intensa de calorias e, consequentemente, um jejum mais prolongado resulta em um estado de fome, com um aumento nos níveis dos hormônios do estresse, que podem acelerar o enrijecimento das artérias”, explica o Dr. Juliano.
O estudo reforça então que mesmo pequenas mudanças, se realizadas de maneira consistente, podem promover grandes melhorias na saúde cardiovascular. “Uma restrição calórica adequada combinada à prática de apenas 120 minutos de exercícios por semana mostrou ser eficiente não apenas para redução de peso a curto prazo, mas também para aprimorar a saúde do organismo a longo prazo”, diz o cardiologista. A pesquisa também demonstra a importância do acompanhamento nutricional na perda de peso e na adoção de um estilo de vida mais saudável. “Restrições calóricas drásticas, optadas pela grande maioria das pessoas que desejam perder peso, mostraram não ter nenhum benefício adicional quando comparadas a uma redução de calorias mais moderada e bem direcionada. Além disso, essa redução significativa nas calorias é difícil de ser mantida e o mais importante para a saúde do organismo é a consistência.”
Por fim, o Dr. Juliano Buckhardt acrescenta que não é somente a quantidade calórica que importa, mas também a qualidade dessas calorias. “Alimentos ricos em açúcar refinado, gorduras e carboidratos simples, por exemplo, fornecem uma grande quantidade de calorias vazias, isto é, que possuem pouco ou nenhum valor nutricional para o organismo. Já uma dieta a base de plantas e rica em folhas, verduras, legumes, frutas, oleaginosas e cereais integrais fornecem boas calorias para o organismo, visto que são alimentos ricos em vitaminas, minerais, proteínas e gorduras de boa qualidade. Por isso, mais importante do que sair cortando calorias loucamente é consultar um médico para receber orientações adequadas para uma readequação alimentar saudável e bem-sucedida”, finaliza.
FONTE: DR. JULIANO BURCKHARDT – Médico Cardiologista, Geriatra e Nutrólogo, membro Titular da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) e da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN). Especialista também em Clínica Médica, Medicina de Urgência e Ergometria. É membro da American Heart Association e da International Colleges for Advancement of Nutrology. Mestrando pela Universidade Católica Portuguesa, em Portugal. Atua como docente e palestrante nas suas especialidades na graduação e pós-graduação. É diretor médico do V’naia Institute. Diretor Científico Brasil da European Academy of Personalized Medicine. Membro do Corpo Clínico do Hospital Sírio Libanês.
Estudo: https://www.ahajournals.org/doi/10.1161/CIRCULATIONAHA.120.051943