Após um período em que a pandemia do Coronavírus começou a regredir, sobretudo após o avanço da vacinação, uma nova onda de novos casos começou a surgiu com a variante Ômicron. No último domingo (23/01), o Brasil atingiu uma média móvel de 149.085 casos de Covid por dia. Na comparação com duas semanas atrás, o crescimento é de impressionantes 352%. O patamar atual já é quase duas vezes superior ao pior momento da pandemia, quando em 23 de junho do ano passado a média móvel de casos havia atingido 77.328 registros diários. A boa notícia é que o número de hospitalizações e mortes por Covid não tem acompanhado esse aumento nos casos, graças à imunidade alcançada pela vacinação em massa.
Uma das preocupações do momento é com as sequelas que pacientes que passaram pelo Covid podem apresentar. Uma das principais é a ocular. Estudo realizado ano passado no Brasil com 104 pacientes internados em UTI´s de São Paulo, e publicado na revista médica Ocular Immunology and Inflammation Journal, revelou que 20% dos pacientes com a forma mais grave do Covid-19 tiveram como sequela graves problemas de visão, com o comprometimento da retina. Em alguns casos, sofreram danos irreversíveis na saúde dos olhos. Aconteceram variados tipos de danos, como microtrombos e hemorragias. Alguns pacientes apresentaram lesões em ambos os olhos. Os cientistas observaram que as lesões ocorrem tanto em pacientes intubados quanto nos que respiram sem ventilação mecânica.
O oftalmologista do Hospital de Olhos do Paraná, Murilo Dallarmi Carneiro, destaca a necessidade de um acompanhamento com um especialista, tanto em que já apresentou sequelas na visão quanto em quem ainda não apresentou sintomas. “O check up oftalmológico é muito importante, pois, como vimos, a infecção por Covid pode causar alterações vasculares na retina principalmente em pacientes que tiveram as formas moderadas e graves. Efeitos secundários aos tratamentos também podem ser observados. Pacientes graves muitas vezes necessitam de doses altas de corticoides, ficando assim mais propensos ao desenvolvimento de catarata medicamentosa”, explica o oftalmologista.
Dallarmi afirma também que pessoas recuperadas do Covid que tem hipertensão e diabetes, devem redobrar os cuidados. “Pacientes do grupo de risco com hipertensão arterial sistêmica e diabetes podem vir a ter descontrole dessas doenças e desenvolver ou piorar a retinopatia diabética e hipertensiva. Variações ou flutuações do grau também podem ocorrer. Apenas o exame oftalmológico completo auxilia na avaliação e diagnóstico dessas possíveis complicações”, afirma.
Caso oftalmológico grave no pós-Covid
Em maio do ano passado, a professora Josane Aparecida Hammerschmidt, de 47 anos, foi diagnosticada com Covid-19. Chegou a ficar internada, mas felizmente foi curada, porém, as sequelas apareceram. Ela foi diagnosticada com Mucormicose, uma infecção rara conhecida como “fungo negro”, causada pela exposição a um tipo de mofo comum. A doença tem taxa de mortalidade geral de 50% e atinge principalmente pacientes diabéticos ou imunossuprimidos. Suspeita-se que o fungo negro pode ser desencadeado nos pacientes pelo uso de esteroides durante o tratamento da Covid-19.
“Este foi um caso grave de sequelas na visão que o Coronavírus deixou. Foi realizado tratamento com antifúngico sem boa resposta, sendo necessário retirada do globo ocular, parte do osso da maxila e parte dos ossos do crânio para conter a infecção. A paciente posteriormente foi submetida a cirurgias plásticas para reconstrução da face e órbita e mantém acompanhamento oftalmológico para tratamento do outro olho que apresentou sequelas menores. Apenas o exame oftalmológico completo auxilia na avaliação e diagnóstico dessas possíveis complicações”, relata doutor Dallarmi.