Francis Ricken*
Repercutiu a entrevista do ministro Paulo Guedes sobre as suas realizações durante três anos à frente do Ministério da Economia. Segundo ele, seu fracasso em fazer o Brasil crescer economicamente tem relação direta com a falta de apoio de uma agenda liberal, a demora do Congresso Nacional em tomar decisões e o “fogo amigo” de membros do governo Bolsonaro.
Paulo Guedes se notabilizou durante a campanha eleitoral por ser um economista de formação internacional, com experiência no ambiente corporativo e financeiro e, para muitos, um ministro capaz de revolucionar a realidade econômica do país, mas após longos anos no governo Bolsonaro, se mostrou um colecionador de frases de efeito e de projetos econômicos que não foram colocados em prática. O ministro sempre foi visto dentro da cúpula palaciana como um defensor da chamada agenda liberal, mas nunca se esforçou o suficiente para ver suas ideias colocadas em prática. Durante os primeiros anos à frente da pasta, ele se mostrou uma figura muito cara ao governo, mesmo diante da sua incapacidade de lidar com as lideranças dentro do Congresso Nacional, e de manter um diálogo minimamente inteligível com os parlamentares, foi bancado pelo Presidente. Inicialmente, se pensava que o ministro estava pouco acostumado com a dinâmica política de Brasília e que a experiência o ajudaria na construção de sua agenda, mas, mesmo depois da guinada do governo Bolsonaro ao Centrão, o que se vê é um ministro incapaz de entender a realidade que o cerca.
Hoje, o governo Bolsonaro conta com uma maioria confortável dentro da Câmara dos Deputados, tendo a liderança do deputado Ricardo Barros (PP/PR), um articulador político capaz, e o apoio irrestrito do presidente da Casa, o deputado Arthur Lira (PP/AL). Dentro do Senado Federal, a maioria prevalece e a presidência da Casa é muito adepta à política liberal, além disso, boa parte do Congresso Nacional tem um posicionamento de centro-direita, ou seja, o clima político melhor para aprovação de agendas liberais nunca foi tão claro. O que o ministro Paulo Guedes ainda não percebeu é que sua pasta não tem poderes absolutos, e que é necessário conversar com a base no Congresso Nacional que aprova sua agenda. Afinal, o Brasil já passou por períodos econômicos desafiadores, com mudança de moeda, picos inflacionários, crises mundiais e as saídas econômicas foram encontradas por diferentes ministros de plantão.
Outra problematização trazida pelo ministro é o tempo de tramitação de uma proposição dentro do Congresso, uma reclamação fora de qualquer parâmetro. Câmara e Senado, quando apoiadoras da agenda do Presidente da República, costumam trabalhar com uma velocidade considerável, inclusive o chefe do Poder Executivo tem em suas mãos mecanismos como medidas provisórias, regime de urgência e alinhamento com lideranças, capazes de colocar um projeto de debate em poucas semanas ou dias. Obviamente, quando a articulação política é feita de forma errada ou sem a devida coordenação entre presidência, Congresso Nacional, e ministro falastrão, os projetos receberão resistência.
Outra queixa recorrente do ministro é o “fogo amigo”, as famosas divergências internas de governo. Paulo Guedes tem sofrido com tais ataques desde o início do mandato presidencial, vindos da bancada de apoio ao governo Bolsonaro e do próprio Presidente, que se assemelha muito a um metralhadora giratória. Apesar de ser alvo de vários membros do governo, o ministro nunca teve seu cargo ameaçado e, aparentemente, tem apoio irrestrito do Palácio do Planalto, diferentemente de outros membros que foram “rifados” sem dó pelo Presidente, Guedes se mantém intocável, apesar do seu baixo desempenho.
Guedes tem certeza de que pode implementar sozinho uma agenda econômica, sem levar em conta os debates no Congresso e as tomadas de decisão do próprio Presidente da República. Sua capacidade de deparar com problemas nacionais é questionável, talvez algum dia iremos perceber que não faltou apoio para a agenda liberal, faltou competência política.
*Francis Ricken é advogado, mestre em Ciência Política (UFPR) e professor da Escola de Direito e Ciências Sociais da Universidade Positivo (UP).