Por mês, são cerca de 130 ocorrências, o que reforça a preocupação com detalhes considerados banais, como, por exemplo, tomadas, fios soltos, extensões, entre outros.
Acidentes com energia elétrica são bastante recorrentes (Foto: Pixabay)
Em 1986, no Rio de Janeiro, o Edifício Andorinha, que abrigava a sede da General Eletric, pegou fogo por causa da sobrecarga de aparelhos elétricos. No ano 2000, um problema na instalação do aquecedor foi a origem de um incêndio na creche Casinha da Emília, em Uruguaiana/RS. E em fevereiro de 2019, no Ninho do Urubu, centro de treinamento do Flamengo, um curto-circuito em um ar-condicionado foi o responsável pela morte de dez adolescentes, em um trágico episódio que completou três anos no mês de fevereiro.
Ocorrências como essas, infelizmente, ainda são bem recorrentes – mais até do que se imagina. Prova disso é o mais recente estudo da Associação Brasileira de Conscientização para os Perigos da Eletricidade (Abracopel), divulgado durante a 1ª Conferência sobre a Realidade da Infraestrutura das Instalações Elétricas. Ele aponta que, durante todo o ano de 2021, foram registrados 1.579 acidentes com energia elétrica. Somente os choques foram responsáveis por 674 óbitos, seguidos pela perda de 46 vidas em incêndios por sobrecarga de energia (curto-circuito) e 40 mortes por descargas atmosféricas (raios).
Ao todo, foram 898 acidentes com choque elétrico, uma média de 75 por mês, ou seja: quase três indivíduos acabam ficando feridos todos os dias, muitos deles em situações corriqueiras, com baixa tensão. Deste universo, apenas 224 pessoas tiveram ferimentos, o que traz a alarmante estatística. “A maioria [das pessoas] não tem nenhuma chance de sair com vida de um perigo que poucos dão importância nas residências, nas empresas e nas ruas, desdenhando dos perigos de instalações e equipamentos elétricos, e muitos sofrem as consequências dessa negligência”, comenta Fábio Amaral, engenheiro eletricista e diretor da Engerey, empresa curitibana especializada na montagem de painéis elétricos que atende todo o Brasil.
Amaral explica que, atualmente, para interromper o perigo de choques elétricos, existem equipamentos como o Diferencial Residual, também conhecido como DR, capaz de evitar fugas de energia em um circuito elétrico, que pode acontecer quando de choques elétricos, fios desencapados, condutores mal isolados ou em contato com carcaças. “Reconhecendo qualquer pane na rede elétrica, o dispositivo desliga o circuito, de forma instantânea, evitando, assim, a gravidade do choque elétrico”, garante o especialista.
Engenheiro Eletricista e Diretor da Engerey, Fábio Amaral, mostra DR em quadro elétrico: dispositivo reconhece fuga de energia e desliga o circuito, de forma instantânea, evitando, assim, a gravidade do choque elétrico.
Para ele, diante dos altos índices de acidentes envolvendo energia elétrica sinalizados na pesquisa da Abracopel, as medidas de prevenção jamais podem ser consideradas como um exagero. “Pelo contrário. É como diz o ditado: ‘a cautela é o melhor remédio’. Outro detalhe importante, neste sentido, se faz dentro das empresas, onde ainda vemos que muitos gestores arriscam a própria vida e a de seus funcionários investindo em equipamentos mais baratos que não têm dispositivos de segurança”.
Regiões com mais acidentes
De acordo com o Anuário da Abracopel, a região Nordeste foi a campeã do número de acidentes, com 242 ocorrências, seguida pela região Sudeste (129); Sul (110); Norte (97) e Centro-Oeste (96). “Só que, em número de habitantes, a região Sudeste contempla um número maior de pessoas. Para termos uma ideia, juntos, os quatro estados – São Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo e Rio de Janeiro – assinalaram 176 incêndios provenientes de acidente com energia elétrica e seis mortes, sendo que a região Sul contemplou 197 incêndios, com 16 óbitos. São números muito expressivos. Para tentar reverter o mais breve possível esse quadro, lançaremos um estudo aprofundado que contempla a população x área territorial”, garante Edson Marinho, diretor-executivo e engenheiro da Abracopel.
Durante o evento, ele ressaltou, ainda, que os acidentes domésticos envolvendo eletricidade acometem mais as crianças, mas os idosos também são vítimas, por conta da dificuldade de locomoção. “Portanto, a situação das instalações elétricas das casas deve ser ponto-chave na vida das pessoas, mesmo porque a maioria das casas construídas há mais de 20 anos não possui capacidade para ‘aguentar’ a quantidade de equipamentos que temos”, observa Amaral.
Na Conferência, foi apresentada também a pesquisa “Percepção de Segurança com Eletricidade”, organizada por Edson Martinho, Walter Aguiar Martins Júnior e Danilo Ferreira de Souza, da Abracopel, no que diz respeito às oportunidades de melhorar a segurança do trabalho referente aos riscos elétricos. Todos os respondentes [1072] acreditam que há possibilidades sim de melhoria, contrariando a ideia de que os locais de trabalho são seguros em relação à eletricidade. “Além disso, ficou evidenciado que as pessoas compreendem que os treinamentos de segurança de trabalho são úteis aos trabalhadores e eficazes para reduzir ou manter os baixos índices de acidente”, explicou Walter Aguiar.
Neste sentido, o engenheiro eletricista e diretor da Engerey, Fábio Amaral, ressalta, além do DR, a importância do Dispositivo de Proteção contra Surtos (DPS), a ser instalado nos padrões de entrada de energia, evitando os “surtos elétricos”, que correspondem a um fenômeno que pode ocasionar a queima de dispositivos elétricos e eletrônicos e que ocorre devido a vários fatores, como raios ou uma partida de grandes motores, por exemplo, “e que desvia as correntes de surto para que não haja riscos de acidentes no imóvel”.
A Norma Brasileira (NBR) 5410 endossa que todas as instalações elétricas devem ter o DPS instalado. “Não se atentar a isso por negligência ou para economizar pode resultar em uma fatalidade”, finaliza Amaral.