Disfagia pode provocar desnutrição e perda do prazer de comer

A disfagia é a dificuldade de engolir os alimentos que pode afetar bebês, crianças e adultos. Mas é bom saber que a disfagia não é, em si, uma doença, e sim um sintoma, que por vezes pode ser indicativo de uma doença, conforme explica Carla Maffei, fonoaudióloga, mestre e doutora do Hospital Otorrinos Curitiba.

Quando há dificuldade na deglutição, algumas complicações podem aparecer, tais como desnutrição, desidratação, perda do prazer de comer e, consequentemente, redução da qualidade de vida”, acrescenta Carla.

No dia 20 de março é comemorado o “Dia Nacional de Atenção à Disfagia. A data tem o objetivo de alertar a população sobre o seu risco e também sobre a importância do diagnóstico e tratamento precoces.

Sinais da disfagia

Alguns sinais importantes podem indicar que o paciente está com problemas na deglutição. São eles:

retenção de alimento na boca;

demora para engolir;

tosse durante ou após a alimentação;

afogamentos constantes ao alimentar-se com determinados alimentos;

afogamentos inesperados;

sensação de algo parado na garganta;

cansaço/falta de ar ao se alimentar;

perda de peso involuntária;

pneumonias de repetição.

Outro sinal pode ser a dificuldade de mastigar os alimentos por falta de força das musculaturas mastigatórias ou por falta de elementos dentários. Segundo a doutora, essa situação implica na mudança da consistência dos alimentos para mais cozidos que o normal e mais pastosos.

Vale lembrar que a mudança na consistência reflete diretamente na perda de peso, emagrecimento e fraqueza do estado geral do paciente. Observa-se também afogamentos constantes com líquidos, alimentos pastosos, sólidos, com farofas”, acrescenta a especialista.

Pacientes oncológicos e neurológicos também apresentam dificuldades para deglutir, ou seja, ‘empurrar’ o bolo alimentar da boca para a fase da faringe, afogando-se. Isso pode se dar pelo fato de o alimento penetrar na laringe, podendo levar o paciente a aspirar este alimento, alojando-se nos brônquios e/ou nos pulmões.

Quando o alimento se aloja no pulmão, dizemos que esta pessoa broncoaspirou, podendo levar a um quadro de pneumonia. Dependendo do estado nutricional deste paciente, a pneumonia pode ser fatal”, alerta a doutora.

Disfagia e a saúde do idoso

No idoso, o cuidado em relação à disfagia deve ser maior. Segundo dados da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), cerca de 25% dos idosos ativos, saudáveis e independentes, já apresentam algum sintoma de alteração na deglutição, como dificuldade para engolir comprimidos, engasgos com saliva e líquidos. Nos idosos frágeis, esse percentual pode chegar a 70% dos pacientes.

Segundo a doutora Carla, a disfagia é um assunto de grande importância na saúde do idoso, pois muitos terão uma dieta restrita e perderão o prazer pelos alimentos, situação essa que pode levá-los à depressão.

“O alimento faz parte do processo de socialização. Nas reuniões de família e amigos, por exemplo, a comida está sempre presente. Desta forma, se o idoso não sente mais vontade de saborear os alimentos, vai perdendo seu poder de escolha nas refeições, e com isso, o isolamento social e a depressão podem aparecer. O diagnóstico precoce da disfagia é fundamental para garantir a qualidade de vida do idoso”, reforça a especialista.

Sem pressa para mastigar!

Outro ponto destacado pela especialista é que a correria do dia a dia também pode influenciar no problema. A recomendação é que os alimentos sejam muito bem mastigados.

Pode parecer óbvio, mas devemos nos lembrar de que temos dentes na boca e não no estômago. Por isso, engolir alimentos inteiros com pressa pode causar danos ao aparelho digestivo, pois os alimentos mal triturados são deglutidos basicamente por inteiro, impondo ao estômago o aumento da concentração de ácido clorídrico para a dissolução deste fragmento. Quando há o aumento da concentração desse ácido, isso pode causar sensação de desconforto digestivo”, lembra Carla. 

É muito comum, ainda, que esses pacientes apresentem, ao longo do tempo, quadros de gastrites, inflamação do duodeno, úlceras gástricas e quadros de Doença do Refluxo Gastroesofágico (DRGE).

Por isso”, aconselha a doutora, “mastigue bem os alimentos e com calma, e engula somente quando o bolo alimentar estiver na forma de uma pasta homogênea, sem pedaços”

Tratamento para disfagia

Em caso de suspeita de disfagia, a orientação é procurar uma equipe médica especializada para avaliar e tratar os problemas de deglutição.

É fundamental uma equipe multidisciplinar composta pelo médico, fonoaudióloga especialista na área de disfagia, otorrinolaringologista, nutricionista e demais profissionais. Existem dois exames indicados para o diagnóstico da disfagia: o exame de videonasofibroscopia da deglutição, realizado pelo otorrinolaringologista e a fonoaudióloga em conjunto, e o exame de videodeglutograma (exame por rádio imagem),” ressalta a doutora.

Na maioria das vezes a disfagia pode ser reabilitada pela fonoaudióloga, com possibilidades de o paciente voltar a se alimentar via oral, retomando a rotina normal de vida familiar e social durante as refeições, e não mais necessitar fazê-lo por sondas enterais ou gastrostomias.

Com informações: Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia

Diretor Técnico do Hospital Otorrinos Curitiba: Dr. Ian Selonke – CRM-PR 19141 | Otorrinolaringologia

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