Respaldadas por estudos, técnicas cirúrgicas ou minimamente invasivas são capazes de extinguir, reduzir ou controlar a dor de cabeça frequente
Enfrentar a enxaqueca é coisa séria. Com sintoma de dor de cabeça intensa, o problema já foi apontado como uma das quatro doenças crônicas mais incapacitantes, segundo a Organização Mundial da Saúde. “A enxaqueca geralmente começa e fica de um lado da cabeça, atrapalha muito a rotina da pessoa, pode gerar muita náusea, irritabilidade com a luz, sons e cheiros, e pode gerar até mesmo dias perdidos no trabalho ou redução da produtividade de forma geral”, explica o médico neurologista e neuro-oncologista Dr. Gabriel Novaes de Rezende Batistella, membro da Society for Neuro-Oncology Latin America (SNOLA). Os tratamentos mais comuns incluem o uso de medicamentos, geralmente de uso contínuo e que podem causar efeitos colaterais. “O medicamento de uso diário não serve para tirar a dor naquele dia, mas sim para retirar o mecanismo que faz com que a dor venha todo dia, então o paciente deve entender que também irá aprender a usar remédios para dor do dia, somado ao tratamento diário para dor crônica”, diz o Dr. Gabriel. Mas, alguns estudos nos últimos anos têm dado boas perspectivas para o tratamento médico da enxaqueca, reduzindo dores, minimizando o uso de remédios e, em alguns casos, cessando o problema. Conversamos com o especialista Dr. Paolo Rubez, cirurgião plástico membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica e da Sociedade de Cirurgia de Enxaqueca (EUA), especialista em Cirurgia de Enxaqueca pela Case Western University e pioneiro na realização desse tratamento no país, para entender o que os injetáveis (toxina botulínica e lipoenxertia) e a cirurgia da enxaqueca podem fazer para ajudar os pacientes:
Toxina Botulínica: Segundo estudo publicado em janeiro de 2019 na Plastic and Reconstructive Surgery*, a revista médica oficial da Sociedade Americana de Cirurgiões Plásticos (ASPS), um corpo crescente de evidências apoia a eficácia das injeções de toxina botulínica na redução da frequência das crises de enxaquecas crônicas. “A toxina botulínica é usada para prevenir a ocorrência das crises, melhorando a qualidade de vida dos pacientes afetados com tal condição clínica”, afirma o cirurgião plástico Dr. Paolo Rubez. O tratamento com a toxina botulínica foi autorizado pela ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) desde 2011 e já foi alvo de diferentes pesquisas científicas no Brasil e exterior comprovando a eficácia do método. “Na técnica, é utilizada a toxina botulínica em aplicações que são realizadas em diferentes áreas da cabeça e da região cervical (pescoço). Ela age como um bloqueador neuromuscular, impedindo a contração muscular e, por consequência, a compressão dos nervos sensitivos periféricos”, afirma o médico. “Uma vez que uma das causas da enxaqueca é a compressão dos ramos dos nervos trigêmeo ou occipital, a toxina botulínica impede que isto aconteça”, acrescenta.
Lipoenxertia: Com a epidemia do uso de analgésicos opióides (que podem causar vários efeitos colaterais) e a busca de formas de evitar narcóticos (medicamentos que adormecem ou eliminam a sensibilidade), os médicos estão buscando outras modalidades para o tratamento da dor neuropática, como a lipoenxertia (enxerto de gordura), que foi apontada em um estudo publicado no Plastic and Reconstructive Surgery – Global Open**, como um tratamento de resultados promissores. “Nos últimos anos, os cirurgiões exploraram vários caminhos cirúrgicos para melhorar os resultados. E um deles tem relação com a lipoenxertia (enxerto de gordura), que vem sendo usada para aliviar os sintomas da dor neuropática e enxaqueca”, afirma o cirurgião plástico Dr. Paolo Rubez, membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, da Sociedade Americana de Cirurgia Plástica (ASPS) e especialista em Cirurgia de Enxaqueca pela Case Western University. “O fator de crescimento das células adiposas e o efeito regenerador das células-tronco derivadas do tecido adiposo promovem a angiogênese (formação de novos vasos) e isso melhora a inflamação, além de estimular o reparo de nervos danificados”, explica o médico. A gordura é do próprio paciente e é retirada anteriormente, por meio da lipoaspiração. “O médico eliminará partes desnecessárias para que a gordura fique limpa e pronta para ser enxertada no local desejado”, explica o Dr. Paolo.
Cirurgia da Enxaqueca: Além de melhorar os sintomas de dor de cabeça conforme demonstrado em diversos estudos, o procedimento também está associado a uma redução significativa no uso de medicamentos, principalmente no caso de pacientes que sofrem com dores crônicas e debilitantes, segundo conclusão de um estudo recente do Harvard Medical School, publicado em junho no Plastic and Reconstructive Surgery***. “Pacientes com dores de cabeça crônicas sofrem de dores debilitantes, que frequentemente levam ao uso de vários medicamentos. A cirurgia surgiu como um tratamento eficaz para pacientes com cefaleia. Este estudo comparou o uso de medicamentos no pré e pós-operatório de pacientes submetidos ao procedimento e constatou que mais de 2/3 deles diminuíram o uso de medicamentos prescritos, sendo que do total de pacientes que passaram pelo procedimento, 23% não precisaram mais tomar medicamento algum”, explica o cirurgião plástico. “A Cirurgia de Enxaqueca é hoje realizada por diversos grupos de cirurgiões plásticos ao redor do mundo e em mais de uma dezena das principais universidades americanas, como Harvard. Os resultados positivos e semelhantes das publicações dos diferentes grupos comprovam a eficácia e a reprodutibilidade do tratamento”, afirma o médico. “A cirurgia é pouco invasiva e tem o objetivo de descomprimir e liberar os ramos dos nervos trigêmeo e occipital envolvidos nos pontos de dor. Os ramos periféricos destes nervos, responsáveis pela sensibilidade da face, pescoço e couro cabeludo, podem sofrer compressões das estruturas ao seu redor, como músculos, vasos, ossos e fáscias. Isto gera a liberação de substâncias (neurotoxinas) que desencadeiam uma cascata de eventos responsável pela inflamação dos nervos e membranas ao redor do cérebro, que irão causar os sintomas de dor intensa, náuseas, vômitos e sensibilidade à luz e ao som”, diz o médico Dr. Paolo. As Cirurgias para Enxaqueca podem ser de sete tipos principais nas seguintes regiões: Frontal, Rinogênico, Temporal e Occipital (nuca).
Por fim, o Dr. Paolo Rubez enfatiza que a cirurgia é realizada em ambiente hospitalar e sob anestesia geral e em alguns casos sob anestesia local. “A duração da cirurgia, para cada nervo, é de cerca de uma a duas horas, e o paciente tem alta no mesmo dia para casa”, finaliza.
FONTES:
*DR. GABRIEL NOVAES DE REZENDE BATISTELLA: Médico neurologista e neuro-oncologista, membro da Society for Neuro-Oncology Latin America (SNOLA). Formado em Neurologia e Neuro-oncologia pela Escola Paulista de Medicina da UNIFESP, hoje é assistente de Neuro-Oncologia Clínica na mesma instituição. O médico é o representante brasileiro do International Outreach Committee da Society for Neuro-Oncology (IOC-SNO).
*DR. PAOLO RUBEZ: Cirurgião plástico, membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, da Sociedade Americana de Cirurgia Plástica (ASPS) e da International Society of Aesthetic Plastic Surgery (ISAPS), Dr. Paolo Rubez é Mestre em Cirurgia Plástica pela Escola Paulista de Medicina da UNIFESP. O médico é especialista em Cirurgia de Enxaqueca pela Case Western University, com o Dr Bahman Guyuron (em Cleveland – EUA) e em Rinoplastia Estética e Reparadora, pela mesma Universidade, e pela Escola Paulista de Medicina/UNIFESP. http://drpaolorubez.com.br/
* https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/30589800