O Pequeno Príncipe faz um alerta sobre a doença que é silenciosa e que pode gerar consequências em órgãos como o coração, rins e o sistema nervoso central
Um mal silencioso, que normalmente afeta adultos, está cada vez mais presente na vida de crianças e adolescentes: é a hipertensão arterial, também conhecida como pressão alta. Um levantamento feito recentemente no Brasil com mais de 70 mil adolescentes apontou que cerca de 10% deles apresentam o problema.
Por isso, no Dia Nacional de Prevenção e Combate à Hipertensão Arterial, o Pequeno Príncipe, maior hospital exclusivamente pediátrico do país, alerta pais e responsáveis sobre a importância de identificar a doença desde cedo. Segundo a nefrologista pediátrica Lucimary Sylvestre, que coordena o Ambulatório de Hipertensão Arterial da instituição, a pressão alta em crianças e adolescentes pode ser primária, quando está associada a hábitos de vida, alimentação e sobrepeso, ou secundária, quando advém de outros problemas de saúde, normalmente cardíacos, renais ou endócrinos.
No caso da hipertensão primária, o aumento da obesidade em todo o mundo é um dos fatores que aumentam o risco, sobretudo em adolescentes. Nesse caso, é necessário promover mudanças nos hábitos de vida para controlar a doença. Ingestão de alimentos mais saudáveis e prática de exercícios físicos estão entre as principais recomendações. Além disso, o tratamento com medicamentos pode ser indicado.
Já a hipertensão secundária pode afetar crianças que têm alguma condição associada, como as doenças cardíacas congênitas, os problemas renais, o uso de medicamentos que podem aumentar a pressão arterial, a exemplo de corticoides, entre outras.
De acordo com a médica, uma das principais dúvidas dos pais é saber se a pressão alta na infância se estenderá por toda a vida adulta. “Muitas vezes, a gente não tem como determinar isso. Há situações em que a criança pode apresentar uma melhora com o tratamento. Mas há situações em que o tratamento terá que durar a vida toda. Independentemente disso, o que é fundamental é fazer o acompanhamento médico regular e o tratamento adequado”, ressalta.
Aferição da pressão
Sendo uma doença silenciosa, dificilmente a criança ou o adolescente com pressão alta apresenta sintomas. Por isso, é fundamental que o pediatra meça a pressão arterial do paciente, a partir de 3 anos de idade, pelo menos uma vez ao ano. Já para as crianças que apresentam algum outro problema de saúde, especialmente cardíaco ou renal, ou que estão acima do peso, a medição deve ser feita em todas as consultas. “Há algumas crianças que apresentam sintomas como agitação no sono ou mesmo dor de cabeça, mas é a minoria”, esclarece a médica.
A aferição da pressão arterial na criança é diferente da realizada no adulto. “É preciso medir a circunferência do braço da criança para usar o manguito [equipamento que envolve o braço] adequado. Os resultados devem ser analisados observando uma tabela que leva em conta a idade, a altura e o sexo da criança”, explica a endocrinologista Gabriela Kraemer, do Hospital Pequeno Príncipe.
Consequências da hipertensão
Assim como nos adultos, a hipertensão arterial é capaz de gerar consequências para alguns órgãos-alvo, como o coração, os rins e o sistema nervoso central. “Um dos focos do trabalho na pediatria é a prevenção de problemas futuros. Se a criança já tem hipertensão, a conduta do médico será no sentido de evitar problemas futuros nos órgãos-alvo dessa doença, que muitas vezes é crônica e vai se estender por toda a vida”, explica Lucimary.
Referência
O Ambulatório de Hipertensão Arterial do Hospital Pequeno Príncipe foi criado há mais de 15 anos. Crianças e adolescentes hipertensos são acompanhados anualmente, com pelo menos três consultas, até completarem 18 anos. O encaminhamento para esse ambulatório é feito após a identificação ou suspeita de hipertensão arterial em outros ambulatórios ou durante hospitalizações no Pequeno Príncipe. O tratamento na instituição é referência em todo o país e segue protocolos nacionais e internacionais.
O Pequeno Príncipe é uma instituição filantrópica, sem fins lucrativos, que oferece assistência hospitalar há mais de 100 anos para crianças e adolescentes de todo o país. Possibilita desde consultas até tratamentos complexos, como transplantes de rim, fígado, coração, ossos e medula óssea. Oferece atendimento em 35 especialidades, com equipes multiprofissionais e realiza 60% deles via Sistema Único de Saúde (SUS). Em 2021, mesmo com as restrições impostas pela pandemia de coronavírus, foram realizados 200 mil atendimentos e 14,7 mil cirurgias que beneficiaram pacientes do Brasil inteiro.