Depressão feminina: uma descida ao inferno sem volta?

Josy Martins*

 

“Algumas não querem mais se levantar pela manhã. Sob os lençóis, faça sol ou chuva, sentem-se afogar. Asfixiar. Sofrem por nada. Nada é causa específica de suas dores, quando desfilam imagens na sonolência das primeiras horas. Mas são tomadas por um sofrimento lancinante, não físico; sofrimento sem natureza ou causa conhecida. São as mulheres que sofrem de depressão, essa estrada noturna e sem fim; sem ponto de chegada e solitária. Descida aos infernos, dizem elas.” Assim Mary Del Priori e Márcia Pina Raspanti retratam a depressão feminina.

Assim, em 2021, começava o dia de 14,7% das mulheres brasileiras diagnosticadas com depressão, segundo dados da pesquisa Vigitel 2021, publicada pelo Ministério da Saúde. Assim, encontravam-se 20,9% das mulheres curitibanas, a terceira capital com maior número de mulheres diagnosticadas com depressão em 2021, segundo a mesma pesquisa.

Dados obtidos no levantamento realizado pelo “GeneSight Mental Health Monitor”, divulgados em abril, mostraram que 2 a cada 3 mulheres diagnosticadas com depressão relatam ter atingido ou estarem perto de atingir o “limite” no que diz respeito à sua saúde mental. E 4 a cada 10 mulheres sem diagnóstico de depressão dizem ter atingido ou estarem próximas do “limite”.

Historicamente, as mulheres sempre apresentaram mais quadros de depressão do que os homens. Elas têm duas vezes mais chances de desenvolverem depressão. Durante a pandemia de covid-19, os casos de depressão aumentaram  27%, e as mulheres estão no grupo das pessoas mais afetadas, conforme dados apresentados em abril pela Organização Mundial de Saúde (OMS). 

Mas afinal, por que as mulheres desenvolvem mais quadros depressivos do que os homens? Por que as mulheres “descem mais aos infernos”? A depressão é um transtorno multifatorial, causada por fatores genéticos, biológicos, ambientais e psicossociais. Os fatores genéticos e biológicos estão relacionados ao histórico familiar, às alterações hormonais e ao desequilíbrio na produção e recepção de neurotransmissores (especialmente a serotonina e a noradrenalina). 

Além disso, estudos realizados desde 1989 têm sugerido uma possível relação entre processos inflamatórios no cérebro e a depressão. No que diz respeito aos fatores ambientais e psicossociais, embora estejamos no ano 2022, ainda vivemos em uma sociedade machista e patriarcal, na qual o papel social atribuído à mulher é gatilho para depressão. 

Casa, filhos, companheiro(a), trabalho, aparência… A mulher deve “dar conta de tudo” sem demonstrar dificuldade ou fraqueza. Nos dados do GeneSight, 50% das mulheres relataram que não gostariam que as pessoas soubessem que elas estavam sofrendo. E quando tentam falar sobre sua saúde mental, 6 a cada 10 mulheres sentem que não são levadas a sério por familiares, amigos e/ou parceiros, segundo a mesma pesquisa.

Depressão não é frescura, é um sério problema de saúde pública, que vem aumentando a cada ano. Então, o que é possível fazer para não “descer aos infernos” ou, uma vez lá, como voltar? É preciso apoio, cuidado, tratamento e, acima de tudo, respeito e empatia. 

*Josy Cristine Martins, psicóloga, mestre em Psicologia, é professora do curso de Psicologia da Universidade Positivo.

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