O outono e o inverno são as melhores épocas do ano para avistar o mamífero que mais atrai olhares no oceano Atlântico brasileiro. Por causa dos fluxos migratórios, é a partir de junho que algumas espécies que passam pela costa brasileira passam a ser vistas.
“Quem vê uma baleia nunca esquece, essa experiência muda a percepção de mundo de qualquer um”, diz até hoje encantado Eduardo Camargo, já bem acostumado a ver baleias.
Camargo é diretor-geral do Projeto Baleia Jubarte, que teve início em 1988 no Parque Nacional Marinho de Abrolhos, na Bahia. A jubarte gosta de aparecer fora d’água: dá saltos e maravilha os turistas. No projeto comandado por Camargo, a baleia é a bandeira de conservação de todas as espécies subaquáticas de Abrolhos.
“A jubarte é brasileira, ela se reproduz aqui, vem para o acasalamento. Depois retorna para regiões antárticas para se alimentar e volta para a nossa costa para ganhar os filhotes”, explica Camargo. Com o projeto de conservação, pesquisa e educação ambiental desenvolvido, as baleias jubarte saíram de uma população de 1,5 mil baleias na década de 1990 para 25 mil atualmente. A melhora coincide, não por acaso, com a criação do Parque de Abrolhos, em 1983.
A baleia, ainda muito caçada ao redor do mundo, passa a ter valor estando viva. Na costa baiana, a observação de baleias começou na Praia do Forte, a cerca de 80 quilômetros da capital Salvador, no litoral norte. Com um ambiente mais favorável para se reproduzirem e se alimentarem, os gigantes marinhos passaram a ocupar também o litoral sul da Bahia e a área costeira capixaba, até se entenderem para o litoral do Rio de Janeiro e de São Paulo.
Um refúgio para a vida marinha e para visitantes
No litoral norte de São Paulo, um cenário de 13 ilhas forma um arquipélago também muito visitado por baleias. O Refúgio de Vida Silvestre do Arquipélago de Alcatrazes é uma Unidade de Conservação dedicada à proteção das condições necessárias para a vida silvestre. Ali, espécies subaquáticas vivem em paz, e é atrás desse estado de tranquilidade que visitantes encaram 40 quilômetros de barco em mar aberto para assistir ao espetáculo.
Desde a abertura para visitação, o Refúgio de Alcatrazes recebe cada vez mais visitantes e contribui para a criação de vagas de emprego na área de turismo nas cidades da costa.
“Eu ouvia falar de Alcatrazes, via fotos e esperava que fosse um lugar bonito. Mas quando fiz o passeio, pude ver as aves da região, mergulhei e vi a vida marinha, fiquei encantada. Era tudo maravilhoso, cheio de vida, colorido. Mesmo com algumas restrições, como não usar protetor solar na água para não prejudicar os seres que vivem ali, por exemplo, foi tudo perfeito. Além, é claro, do atendimento que tivemos de todos, na pousada, no passeio embarcado, restaurantes. Que lugar incrível”, se anima Lúcia Soares, que visitou o Refúgio em 2019 e afirma sempre recomendar o passeio a amigos.
Partindo do município de São Sebastião e de Ilhabela, é possível ver o trabalho de conservação do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) numa das primeiras áreas de conservação marinha do país. Além da baleia jubarte, outra espécie mais tímida, a baleia-de-bryde, também pode ser observada.
A Estação Ecológica Tupinambás, criada em 1987, e o Refúgio de Alcatrazes, em 2016, estão lado a lado na costa brasileira e brindam o visitante com uma variedade de espécies do ecossistema necessário para a existência das baleias jubarte. Ameaçados de extinção por serem produtos da pesca, as raias, pargos e linguados compõem a biodiversidade da região.
Chefe das duas Unidades de Conservação pelo ICMBio, Kelen Leite explica que para haver a garantia de proteção das espécies, uma área marinha precisa atender alguns critérios. “Tem que ser uma área grande e antiga, para que o ecossistema consiga se reconstituir, além de planejada, que é o nosso caso, porque apresentamos plano de manejo logo após a criação da UC”, conta Leite. “É preciso, também, envolvimento da sociedade: as pessoas entendem a importância e querem conhecer”, diz, elogiando a participação da população local e dos turistas na conservação.
Parques Marinhos no combate às mudanças climáticas
O Brasil tem três Parques Nacionais Marinhos que fazem um trabalho de conservação essencial. Por causa desses refúgios livres de atividades predatórias que alteram os ecossistemas, espécies ameaçadas de extinção se encontram protegidas.
Além do Parque Nacional Marinho de Abrolhos (BA), os parques da Ilha dos Currais, no Paraná, e o de Fernando de Noronha, em Pernambuco, mantêm projetos de conservação aliados à prática equilibrada do turismo.
Em Fernando de Noronha, a baleia jubarte também é vista nos fluxos migratórios. O analista ambiental da unidade de conservação, Ricardo Araújo, explica que ver baleias passando no parque é um ótimo sinal. “Embora elas não residam aqui, é possível ver cada vez mais baleias na região. Uma mãe jubarte com filhotes já ficou aqui por mais de um mês, sendo vista por mergulhadores e turistas nos passeios de barco”, relata.
Araújo explica que as baleias têm várias funções. Apesar de não se alimentarem de peixes, servem de alimento para muitas espécies quando morrem naturalmente. Outra função essencial é a absorção que seus corpos fazem dos gases do efeito estufa. Ao invés de liberar os gases na atmosfera, as baleias são capazes de “imobilizá-los no fundo do mar”, segundo Araújo. Entre alguns cientistas, as baleias são conhecidas como “florestas do oceano”.
Grandes dias marinhos
No dia 8 de junho é comemorado o Dia Mundial dos Oceanos. A data é importante para debater a função de governos, organizações e a população para manutenção do bem estar marinho e conservação da sua rica biodiversidade, diz Angela Kuczach, diretora-executiva da Rede Nacional Pró-Unidades de Conservação. Em 2018, a Rede Pró-UC esteve à frente de uma campanha de proteção do bioma marinho brasileiro.
“A costa do Brasil tem quase 7.500 quilômetros de extensão, com uma diversidade gigante e somente 1,5% do bioma marinho era protegido. Com a campanha É a Hora do Mar, trabalhamos com diversas instituições para que o governo brasileiro criasse Unidades de Conservação e atendesse à Meta 11 de Aichi, que estabelecia que ao menos 10% do bioma fosse protegido até 2020. Então, com a criação dos Monumentos Naturais de Trindade e Martin Vaz e o de São Pedro e São Paulo, e as Áreas de Proteção Ambiental de São Pedro e São Paulo e a e Trindade e Martim Vaz em março de 2018, conseguimos passar esta meta, que hoje é de 26,5%. Mesmo assim, é preciso criar novas UCs marinhas com importância particular para a biodiversidade e serviços ecossistêmicos”, afirma Kuczach.
Em 2022, a vida marinha vai ser celebrada também em 24 de julho, no Um Dia No Parque. Neste dia, Unidades de Conservação de todo o país, em todos os biomas, oferecem atividades a visitantes para mostrar não só as belezas da área, mas também a importância delas. “É um dia de celebração e valorização da riqueza natural do Brasil. Em todo o país, as Unidades de Conservação ajudam a proteger a biodiversidade, mas muita gente não as conhece ou, se conhece, não sabe os motivos por que elas existem. Nosso objetivo é levar as pessoas para as UCs para que elas conheçam as áreas, tenham ótimos momentos em contato com a natureza, queiram voltar e, especialmente, preservá-las”, afirma Fabiani Matos, assessora de comunicação da ação, que é realizada desde 2018 pela Coalizão Pró UCs.
Nas Unidades de Conservação chefiadas por Kelen Leite no litoral paulista, por exemplo, a observação de baleias estará na programação. O evento convida amantes da natureza para escolherem uma Unidade de Conservação e se aventurarem no mundo da biodiversidade.
Como participar do Um Dia No Parque?
Pela página da ação na internet, visitantes podem pesquisar a Unidade de Conservação mais próxima de casa em todo o país por meio de um mapa interativo e filtros. Também dá para ficar por dentro da programação de atividades nas redes sociais do Um Dia No Parque. Unidades de Conservação podem se inscrever até dia 3 de julho para participar e propor atividades na maior mobilização pelas áreas protegidas do país pelo formulário neste link.
Sobre a Coalizão Pró-UCs
A Coalizão Pró-Unidades de Conservação é um grupo de instituições que se propõe a congregar empresas e organizações da sociedade civil comprometidas com a valorização e a defesa das Unidades de Conservação da Natureza. Integram a Coalizão: Rede Pró UC – Rede Nacional Pró Unidades de Conservação, Fundação SOS Mata Atlântica, Conservação Internacional – CI Brasil, Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, Imaflora – Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola, FUNBIO – Fundo Brasileiro para a Biodiversidade, Instituto Semeia, WWF-Brasil, The Nature Conservancy – TNC Brasil, Imazon – Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia, IPÊ – Instituto de Pesquisas Ecológicas e a UICN-Brasil – União Internacional para a Conservação da Natureza.