Chega da artificialidade das telas. Queremos a sinceridade dos sorrisos

*Matthias Schupp

Nรฃo hรก nada como tempos desafiadores para nos fazer enxergar novos horizontes, ajustar a rota e trilhar caminhos desconhecidos. Ao mesmo tempo, รฉ nessas horas que devemos valorizar detalhes cotidianos dos quais somos privados em momentos crรญticos. Foi assim com o tempo de pandemia. Os mรฉtodos de trabalho foram adaptados para o mundo virtual, com videoconferรชncias e aplicativos de conversas. Porรฉm, essa falta de contato presencial aumentou substancialmente a quantidade de reuniรตes virtuais. Agora, que oย  perรญodo crรญtico jรก passou, devemos resgatar a nossa veia criativa e valorizar os encontros presenciais, o olho no olho, o tรชte-ร -tรชte. Chega da quase escravidรฃo virtual. As telas e os fones dรฃo lugar aos olhos e aos sorrisos.

Por um lado, as reuniรตes virtuais agilizam discussรตes e permitem maior interaรงรฃo com equipes que trabalham a distรขncia. Esse รฉ o meu caso. Faรงo parte de empresas ligadas a um grupo suรญรงo e minha equipe transita entre Basel (Suรญรงa), paรญses da Amรฉrica Latina, Curitiba (PR), e ainda as mais de 15 unidades espalhadas pelo Brasil. Portanto, nรฃo deixaremos de nos conectar por videoconferรชncia. Porรฉm, talvez o receio da desconexรฃo nos fez criar uma hiperconexรฃo virtual, e nos vimos em uma escala quase interminรกvel de encontros por aplicativos. Essa quantidade precisa ser dosada. Atรฉ porque “a diferenรงa entre o remรฉdio e o veneno รฉ a dose”…

Aquele momento informal tรฃo precioso para osย insightsย e as relaรงรตes sociais, como o cafezinho, a entrada e a saรญda das salas de reuniรตes, ou mesmo o papo ao pรฉ da mesa, nรฃo podem ser deixados para trรกs. Precisamos resgatar o gosto por esses momentos, sentir nas expressรตes faciais as reaรงรตes diante das mais diferentes situaรงรตes. ร‰ o papo tranquilo sobre qualquer assunto mais informal que gera a descompressรฃo do desafio de atingir as metas do mรชs na empresa. ร‰ claro que sempre mantendo a preocupaรงรฃo com a saรบde e seguranรงa de todos.

Da mesma forma, hoje se discute a permanรชncia do chamadoย home office. Muitos se adaptaram bem a esse sistema de trabalho, outros, definitivamente, nรฃo. Estamos em um perรญodo de transiรงรฃo e, por isso, retirar totalmente a possibilidade de ter um dia de trabalho remoto pode ser uma medida radical. Por outro lado, tambรฉm devemos avaliar a necessidade de termos a equipe toda no escritรณrio. Precisamos nos desacostumar com a rotina de discussรตes a distรขncia e resgatar o que deixamos para trรกs antes da pandemia. Devemos, sim, continuar utilizando ferramentas digitais de comunicaรงรฃo, que foram impulsionadas nos รบltimos dois anos de maneira positiva. Mas, respeitando o limite exigido para nossa saรบde psicolรณgica. Defendo mais possibilidades de interaรงรตes, fortalecendo a veia criativa que os encontros fรญsicos permitem. E menos esse cansaรงo extremo das telas com as quais nos acostumamos a viver. Com certeza, vamos substituir os avatares e fundos artificiais porย  abraรงos e sorrisos verdadeiros podendo, assim, voltar a literalmente levar o coraรงรฃo ao trabalho.

 

*Matthias Schupp รฉ CEO da Neodent e EVP do Grupo Straumann da Amรฉrica Latina

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