Setor de alimentação fora do lar sofre com a alta da inflação

Estabelecimentos têm dificuldade de repassar reajustes para os clientes

Bares e restaurantes voltam a ter movimento após o grande período de pandemia, porém sofrem com as dívidas geradas pelo isolamento e a inflação. Um levantamento nacional feito pela Abrasel mostra que 74% dos estabelecimentos não repassaram o aumento nos custos aos consumidores.

Urubatan Sena, presidente da Abrasel Campos Gerais, comenta que apesar do movimento alto, o cenário é negativo. “Nós mal nos recuperamos dos efeitos causados pela pandemia e agora estamos lidando com as dificuldades geradas pela inflação”, enfatiza.

Ele cita ainda que muitos estabelecimentos fecharam as portas na região durante a pandemia por não estarem lucrando:

“e agora a situação está se repetindo, as empresas têm dificuldade de repassar o reajuste para os cardápios, pois estão perdendo cada vez mais clientes e apenas somando dívidas”, finaliza o presidente.

Ainda de acordo com a pesquisa, as dívidas acumuladas e a alta da inflação preocupam os empresários do setor de alimentação fora do lar, onde 1.689 empresários apontaram que o movimento está voltando a crescer, porém os estabelecimentos vêm enfrentando obstáculos.

Os dados apontam que 35% dos bares e restaurantes lucraram em maio, 29% tiveram prejuízo no mesmo período e outros 36% ficaram em equilíbrio. Os números ficaram estáveis em relação ao último levantamento que apresentou o resultado de abril.

O empresário Lucas Klas, comenta que a retomada está acontecendo e as pessoas estão saindo e gastando mais, o que tem ajudado o comércio de alimentação.

“No meu caso o presencial está mais que delivery, agora sem restrições rígidas e pessoal está procurando sair de casa. Até as pessoas com mais idade, notei que estão frequentando com mais frequência meu estabelecimento”.

Entretanto, o proprietário do Boteco da Visconde enfatiza que os preços são assustadores. “Eu mesmo tive que reajustar cardápio, mas também não podemos exagerar nos preços, se não assustamos os clientes. Eles com certeza sabem esse impacto, porque também fazem compras (…) o que temos feito é economizar em alguns produtos de qualidade, mas com o preço um pouco melhor, pesquisando lugares também ajuda um pouco”, enfatiza.

O que Lucas aponta vai de encontro aos dados da Abrasel que apontam que 45% dos empresários realizaram reajuste no cardápio abaixo da inflação, 29% não conseguiram repassar o reajuste para os clientes, 23% reajustaram para acompanhar a inflação e apenas 3% ajustaram acima da inflação.

E para manter a saúde financeira do empreendimento em dia, Klas tem procurado negociar. “As maquinetas de cartão com taxas melhores também ajudam bastante, pois 80% das vendas hoje são cartão”.

Paulo Solmucci, presidente executivo da Abrasel Nacional comenta que se juntarmos quem não reajustou com quem fez reajustes abaixo da inflação, são 3 em cada 4 estabelecimentos. “74% que não conseguem repassar o aumento dos custos. Isso explica por que em nosso setor a inflação dos últimos 12 meses tem sido praticamente a metade da inflação média no país. Por um lado, isso torna mais atrativo comer fora de casa. Mas coloca em risco milhares de negócios que lutam para se recuperar dos prejuízos acumulados”, diz o presidente-executivo da Abrasel, Paulo Solmucci

Entre os outros fatores citados estão, 63% de queda nas vendas, 58% de queda no número de clientes, 54% em dívidas de empréstimos bancários e 49% em impostos. De acordo com a pesquisa, cerca dos 75% dos empresários que relataram terem prejuízo citaram o aumento dos alimentos e bebidas como um dos principais fatores para os resultados negativos

Cerca de 69% dos empresários dentro do levantamento têm dívidas bancárias, 13,6% do custo mensal desses estabelecimentos está comprometido com o pagamento de empréstimos. 67% usaram linhas regulares dos bancos para realizar empréstimos e 59% fizeram via Pronampe. Dos que pegaram linhas regulares 26% estão com parcelas atrasadas e do Pronampe cerca de 13% estão com parcelas em atraso.

As dívidas com impostos também estão acumuladas, 42% dos estabelecimentos enquadrados no Simples Nacional estão com impostos atrasados, esses representam 83% dos empresários do levantamento. Dos que estão em atraso 53% já aderiram ao Relp (Programa de reescalonamento do pagamento).

“Outro programa que poderia ser importante neste resgate do setor ainda não traz muito alívio. Cerca de 23% das empresas estão inscritas no Cadastur. Entre as que estão inscritas e têm débitos na dívida ativa, somente 16% aderiram ao Perse. E 39% disseram desconhecer o programa. Precisamos derrubar essas barreiras à adesão e deixar os critérios mais simples e mais abrangentes, pois o setor precisa de muita ajuda”, afirma Solmucci. O Persa é um programa para reerguer o setor de eventos, mas que também engloba alguns tipos de bares e restaurantes.

 

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