Tori celebra o terreno, o mundano e o profano em seu primeiro lançamento solo em cinco anos. A musicista e cantora sergipana Vitória Nogueira, que circula na cena independente nacional com projetos elogiados como a banda Ipásia, agora prepara seu primeiro álbum completo como Tori. “Descese” ganha produção de três nomes de peso da música brasileira – Bem Gil, Bruno di Lullo e Domenico Lancellotti – e tem, no primeiro single, a participação especial de Bruno Berle. A faixa-título já está disponível para streaming, via PWR Records.
Ouça “Descese”: https://links.altafonte.com/descese
Enquanto “ascese” é um termo amplamente difundido para dar sentido à ascensão, ao crescimento espiritual e transcendência rumo ao etéreo, “descese” vai no caminho inverso, em busca da imanência, de descender, comungar com a matéria. “Descese / Cada vez mais gente / Um degrau abaixo do mundo / É quente”, canta Tori.
O termo, embora não dicionarizado, é utilizado pela crítica literária e psicóloga brasileira Yudith Rosenbaum para se referir às epifanias vividas pelas personagens de Clarice Lispector.
“O sentido da palavra no processo de G.H [personagem de ‘A paixão segundo G.H’, de Clarice Lispector] seria mesmo de uma busca para dentro da realidade […] a partir da imanência, uma ascese para baixo, para o terreno onde está a barata. O divino, talvez, não seja encontrado no alto, mas na passagem pelo que rejeitamos, pelo abjeto, pelo arcaico. Afinal, todos descendemos da matéria bruta e ela está por perto!”, resumiu a própria Yudith em uma troca de emails com Tori.
A canção inaugura um novo momento em uma trajetória já elogiada. Tori lançou um EP solo, “Akoya”, em 2016, além de dois álbuns à frente da banda Ipásia – “Ignatia,” (2019) e “Voragem” (2021), ambos também pela PWR Records. Agora, a artista se debruça sobre suas referências que gravitam em torno da MPB.
Para apresentar essa nova fase, em “Descese” Tori toca violão e divide os vocais com Bruno Berle, artista alagoano que acabou de lançar seu álbum “No Reino dos Afetos” pela Far Out Recordings. Na bateria e percussão, Domenico Lancellotti; no baixo, Bruno di Lullo e na guitarra Bem Gil. Já o arranjo dos metais ficou a cargo de Aquiles de Moraes, que toca trompete ao lado de seu irmão Everson de Moraes, trombonista.
O lançamento abre os caminhos para o álbum “Descese”, a ser lançado ainda este ano pela PWR Records. Enquanto isso, é possível ouvir o primeiro single nas principais plataformas.
Ficha técnica
composição: tori
arranjo de metais – aquiles de moraes
baixo – bruno di lullo
bateria e percussão – domenico lancellotti
guitarra – bem gil
trompete – aquiles de moraes
trombone – everson de moraes
violão – tori
voz – bruno berle e tori
produção: bem gil, bruno di lullo e domenico lancellotti
gravações entre agosto de 2021 e janeiro de 2022 no RockIt, por Estevão Casé e Fabiano França (baixo, violão, percussões e voz principal de Tori); Palco, por Leo Shogun (voz de Bruno Berle e guitarra); Orí, por João Mário (backing vocals); Roma 49, por Bernardo Barata (bateria) e homestudios de Everson de Moraes (trombone) e Aquiles de Moraes (trompete).
mixado por Estevão Casé e masterizado por Fabiano França
capa do single: fotografia de Elisa Maciel e direção de arte de Clara Acioli
Letra
Maneira de sentir
O artífice
Reserva do que é gente
Manutenção do ver em tudo
A criação pungente
Descese
Cada vez mais gente
Um degrau abaixo do mundo
É quente
Desdobrar-me de mim
Deslocar-me de mim
Desdobrar-me de mim
Deslocar-me de mim
Maneira de sentir
O artífice
Contorno frágil e rente
No inferno da matéria ele se diz
Criar o inexistente
Descese
Cada vez mais gente
Um degrau abaixo do mundo
É quente
Desdobrar-me de mim
Deslocar-me de mim
Desdobrar-me de mim
Rumo a tudo o que não
Me vê
Rumo a tudo o que não
Me vê
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