HQ une Moebius, Jodorowsky e Gonzaguinha para retratar Brasil distópico

Em um Brasil distópico do futuro, a música se torna um ato de rebeldia e a busca pelas pequenas coisas, um ato de revolução. “Beliscão”, novo trabalho do quadrinista de destaque no cenário nacional Camilo Solano, é um mergulho ora cartunesco, ora profético em um simulacro da realidade estranhamente provável. Atualmente finalista do Prêmio Jabuti com seu trabalho mais recente – “Cidade Pequenina”, ao lado de seu irmão Aldo Solano –, ele expande sua obra ao fazer uma ponte entre Moebius, Jodorowsky e Gonzaguinha. O livro será lançado pela editora Pipoca & Nanquim na CCXP e já está em pré-venda na Amazon, incluindo uma versão com bookplate autografado.

 

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“‘Beliscão’ vem da minha vontade de me aventurar na ficção científica que amo tanto. Sou apaixonado por obras de Philip K. Dick, Jodorowsky e séries como Star Trek, Life on Mars e ficava sempre pensando nessa possibilidade de entrar nesses universos criativos. A ideia nasceu em um dia na pandemia onde aprendi a fazer o docinho com goiabada que dá nome ao livro e pensei se no futuro ainda existiria tal iguaria. Na mesma época, cheia de solidão e angústia, imaginar um novo universo para fugir um pouco do que estava acontecendo, ajudou a passar por alguns momentos mais complicados”, conta ele. “O maior desafio foi através das homenagens prestadas aos clássicos da ficção científica, notar que não estão nem um pouco distantes do que estamos vivendo hoje. O desafio de uma ficção científica é tentar ser mais absurdo do que a realidade já está”, completa o artista.

 

A relação com o doce de goiaba e com a música, que permeiam todo o livro, faz parte da vida de Camilo. Ele cresceu em um lar musical no interior de São Paulo. Filho de pai músico e radialista e mãe que cantava Caetano Veloso para a barriga em sua gestação, Solano cresceu cercado de arte, cultura e histórias. A trilha sonora da casa ia de sambas antigos a Beatles, Jovem Guarda e música negra americana, sem deixar de lado os maiores nomes da MPB. Já na adolescência, veio a paixão pelo punk dos Ramones, misturando com Frankie Valli & the Four Seasons até chegar nas interseções do blues com o samba. Para sua HQ “Semilunar”, lançada em 2017, ele compôs uma série de músicas para a trama e no ano passado lançou o EP “Canções Cansadas”. O projeto reuniu músicos de renome – como integrantes da banda Caramelows.

 

Ouça “Canções Cansadas”: https://smarturl.it/CancoesCansadas

 

“A música surge no livro como a forma mais simples e singela que o personagem usa para se expressar, mesmo sem ninguém querer ouvir. Mesmo sem ninguém conhecer ou se importar com o que ele vá dizer. Os conflitos internos do personagem são demonstrados também através da música e de suas motivações. Ele não sabe direito como se faz para viver. Se é preciso apenas viver ou há essa necessidade de tentar ser relevante de alguma maneira para outras pessoas”, conta o artista, que também assina as capas dos últimos lançamentos dos Caramelows.

 

Formado em Design, Camilo fez de seu trabalho de conclusão de curso a primeira HQ: “Inspiração – Deixa entrar Sol nesse porão” lhe rendeu duas indicações ao Troféu HQ MIX como Novo Talento Desenhista e Novo Talento Roteirista. Lançou independentemente o gibi “Desengano”, que teve o prefácio escrito por Robert Crumb, o maior autor dos quadrinhos underground dos EUA, que também é músico e fez a capa do disco “Cheap Thrills”, de Janis Joplin. Seu primeiro trabalho com editora foi “Semilunar”, que saiu pela Balão Editorial e com esta obra foi finalista do Prêmio Jabuti.

 

Publicou “Fio do Vento” pela editora Veneta e depois foi convidado a criar a sua própria versão do personagem Cascão, da Maurício de Sousa Produções. Disso nasceu “Temporal”, HQ escrita e desenhada pelo autor, oferecendo seu olhar sobre o menino que não gosta de banho da Turma da Mônica. Com esse título, ganhou o Troféu HQ MIX.

 

Lançou a pequena e poderosa HQ “Solzinho” – que, pelas palavras de Emicida, “é uma das coisas mais lindas que já li na minha vida”. No final de 2021 lançou “Cidade Pequenina” pela editora Pipoca & Nanquim e nela, ao lado do seu irmão, reuniu várias histórias sobre cidades do interior, causos e contos baseados em relatos que ouviram ou vivenciaram. Este, mais uma vez, teve o prefácio escrito por Robert Crumb, que é seu padrinho na nona arte. Por este lançamento, ele é novamente finalista do Prêmio Jabuti.

 

Otimista e intenso, Camilo tem na candura e sinceridade como fio condutor de seu trabalho, onde suas criações são frutos de um processo de encontro do artista consigo mesmo. E desse mergulho e exposição, surge uma relação forte com as inseguranças e ansiedades de quem está do outro lado da tela ou da página. Da conexão, faz-se a arte.

 

“‘Beliscão’ dialoga com tudo que fiz, tem a minha cara toda ali. A ficção científica é um pano de fundo para eu entrar nas questões individuais humanas mesmo. No questionamento eterno da busca do pertencimento. De entender como os sentimentos caminham no futuro e me colocar no corpo de outras pessoas diferentes de mim para tentar compreendê-las mais”, conta Camilo Solano.

 

Viabilizado pelo Proac de História em Quadrinhos, de 2021, “Beliscão” é um lançamento da Pipoca & Nanquim, premiada editora que surgiu a partir de um dos principais canais de cultura pop do Brasil, com um conteúdo focado em quadrinhos, cinema e séries desde 2009. A graphic novel está em pré-venda na Amazon.

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