Vilões são a proliferação de microrganismos, contato dos olhos com água contaminada, falhas na adaptação, uso e manutenção.
Por um tris Eliana escapou de ficar cega por uma contaminação da lente de contato. Ela conta que sentiu uma dor insuportável. “A sensação era de que o olho estava sendo corroído. Fiquei desesperada. Procurei por atendimento aqui na Bahia, mas o olho só piorava. Pensei que ia ficar cega”, comenta. De acordo com o oftalmologista Leôncio Queiroz Neto, presidente do Instituto Penido Burnier de Campinas, a lente de Eliana foi contaminada por acanthamoeba uma ameba de vida livre bastante comum na água que pode corroer a córnea. “É uma infecção difícil de tratar porque os remédios são poucos e a acanthamoeba transmuta rapidamente. Eliana já tinha passado por tratamento na Bahia, mas pelo grau de evolução da infecção, no dia seguinte poderia perder a visão. “Não encontrei o colírio nas farmácias. Entrei em contato com uma farmacêutica que manipulou o medicamento no mesmo dia e felizmente consegui eliminar infecção”, afirma.
Num calor de rachar mamona, todo cuidado é pouco com lente de contato. Isso porque, segundo Queiroz Neto no hospital o diagnóstico de ceratite, inflamação da córnea, aumenta todo verão. “A estação mais quente do ano cria no País o ambiente perfeito para a proliferação de microrganismos. Além disso, na praia ou piscina basta cair uma gota d’água na lente para causar úlcera na córnea. Por isso, o ideal é ter um par de óculos para estas atividades, mas muitas pessoas arriscam por falta de informação”, afirma.
Dados da OMS (Organização Mundial da Saúde) apontam a ceratite, como a maior causa infecciosa de perda da visão no mundo. De acordo com a SOBLEC (Sociedade Brasileira de lentes de Contato) hoje 3 milhões de brasileiros usam lente de contato e a cada ano o mercado ganha 500 mil novos usuários. Para Queiroz Neto as novas tecnologias que tornaram as lentes cada vez mais confortáveis e a popularização através da venda livre pela internet explicam este crescimento que acende um sinal de alerta para mais um problema de saúde pública no País.
Adaptação e contraindicações
O oftalmologista explica que o uso é contraindicado para muitos dos que compram lente de contato online, mesmo quando a finalidade é apenas trocar a cor dos olhos. Isso porque, a adaptação inclui análise da curvatura e relevo da córnea, exame de refração, avaliação do filme lacrimal, fundoscopia e adaptação de lente teste. A estimativa do CBO (Conselho Brasileiro de Oftalmologia) do qual o especialista faz parte, é de que 16% da população não deve usar lente de contato. Queiroz Neto explica que as contraindicações são doenças externas como alergia, olho seco ou borda da córnea irregular que aumentam a chance de desenvolver ceratite. “Toda lente de contato oferece correção visual mais precisa que óculos porque fica apoiada sobre a córnea, mas a população precisa ser informada sobre os cuidados no uso”, pontua.
Sintomas e tratamento
Queiroz Neto afirma que a córnea responde por 60% de nossa refração e pode ser contaminada por bactéria, vírus, parasitas ou fungos. Os sintomas são:
- Dor nos olhos
- Vermelhidão
- Fotossensibilidade
- Visão borrada.
A recomendação é interromper o uso a qualquer um desses sintomas. O tratamento da ceratite varia de acordo com o tipo de microrganismo e é sempre uma emergência que deve ter acompanhamento médico. “O uso de colírio inadequado pode mascarar a infecção, levar a sequelas graves e até cegueira por perfuração do olho, sobretudo nos casos de ceratite viral ou fúngica”, salienta.
Limite de uso
O oftalmologista ressalta que o limite de uso diário varia de acordo com a produção lacrimal de cada pessoa e transmissão de oxigênio da lente em uso. A regra geral é nunca usar lentes durante o sono, mesmo quando têm indicação de uso noturno. Isso porque, a produção do filme lacrimal diminui 50% durante a noite. O uso da lente de contato com as pálpebras fechadas reduz ainda mais a oxigenação da córnea.
Regras de uso e manutenção
As principais recomendações do oftalmologista para preservar a córnea são:
- Consulte um oftalmologista para adaptar a lente em seus olhos.
- Interrompa o uso da lente sempre que sentir desconforto e consulte seu oftalmologista
- Lave cuidadosamente as mãos antes de manipular as lentes.
- Use solução higienizadora para limpar e enxaguar lente e estojo.
- Friccione as lentes com a solução para eliminar completamente os depósitos.
- Nunca use água ou soro fisiológico na limpeza.
- Retire as lentes antes de remover a maquiagem e ao usar spray no cabelo.
- Coloque as lentes sempre antes da maquiagem.
- Instile o colírio lubrificante indicado pelo oftalmologista ante de colocar a lente.
- Guarde o estojo em ambiente seco e limpo.
- Troque o estojo a cada três meses.
- Respeite o prazo de validade das lentes.
- Jamais durma com lentes, mesmo as liberadas para uso noturno.
- Retire as lentes durante viagens aéreas por mais de três horas
- Não entre no banho, mar ou piscina usando lentes.