João Alfredo Lopes Nyegray*
Mal começamos 2023 e seguimos sentindo os efeitos dos ocorridos de 2022. Em setembro do ano passado, Mahsa Amini, de 22 anos, foi detida pela polícia da moralidade iraniana. Sob a acusação de estar infringindo o rígido código de vestimenta do país, Amini foi levada a uma delegacia da capital Teerã. Três dias após passar mal na delegacia e ser levada ao hospital, a jovem faleceu. Embora as autoridades iranianas afirmem que a morte se deveu a uma doença prévia, a família e os amigos próximos alegam que houve espancamento – tudo por uma mecha de cabelo que estava descoberta.
A morte de Mahsa Amini desencadeou protestos e revoltas por toda a República Islâmica do Irã. Tanto por Amini quanto contra as leis morais e a falta de direitos, mulheres aboliram seus véus, cortaram os cabelos em praça pública e arrastaram milhares de pessoas para as ruas do país. Ainda em setembro de 2022, o presidente iraniano – o ultraconservador Ebrahin Raisi – pediu à polícia que respondesse com firmeza contra os manifestantes. Não adiantou.
Os protestos se espalharam por universidades, escolas de ensino médio e geraram inúmeras greves. Com o lema “Mulher, vida, liberdade”, comerciantes, professores e até mesmo o pujante setor petrolífero do país parou. O resultado do confronto entre polícia e manifestantes foi não apenas milhares de detidos, mas mais de 580 mortos e 1.100 feridos. Em 13 de novembro de 2022, um tribunal iraniano anunciou a primeira condenação à morte de uma pessoa acusada de participar dos protestos. Três dias depois, outras três pessoas foram condenadas à pena capital. Em 8 de dezembro, o primeiro enforcado. No dia 12, a segunda execução pública. Nos últimos meses, mais de 40 pessoas foram condenadas à morte.
Duas execuções provocaram ondas de protesto pelo mundo: um campeão de karatê e um treinador voluntário de crianças e jovens foram enforcados. Embora as execuções no país não sejam novidade – em 2021, o Irã executou mais de 300 pessoas – agora, muitos dos acusados não têm direito à defesa, e outros tantos estão sendo torturados para confessar crimes que não cometeram, segundo a Humans Rights Watch. Na onda de execuções, o país também enforcou o iraniano-britânico Alireza Akbari, de 61 anos, ex-ministro da Defesa, acusado pelo regime de Teerã de espionar para o Reino Unido. Em meio às execuções e aos protestos que geram em todo o mundo, o país do Oriente Médio anunciou novas punições contra mulheres que não usarem o véu, e as proibiu de exercer certas profissões.
Infelizmente, a barbárie não está contida no Irã. No front ucraniano, os russos continuam a guerra iniciada ano passado. Incontáveis bombardeios a áreas civis foram realizados nos últimos dias, mostrando que a covardia de Moscou não tem limites. Iniciamos essa segunda-feira, 16 de janeiro, com mais de 40 mortos em Dnipro, e os últimos dias vêm mostrando outros incontáveis ataques a importantes áreas para a população. Ao que parece, Hannah Arendt estava certa: “Vivemos tempos sombrios, em que as piores pessoas perderam o medo e as melhores perderam a esperança.”
*João Alfredo Lopes Nyegray é doutor e mestre em Internacionalização e Estratégia. Especialista em Negócios Internacionais. Advogado, graduado em Relações Internacionais. Coordenador do curso de Comércio Exterior na Universidade Positivo (UP). @janyegray