8 de março: os desafios e conquistas de mulheres em cargos de gestão

Mulheres tem conquistado espaço em ambientes corporativos, mas ainda sofrem com salários menores e uma jornada mais difícil que a de homens exercendo a mesma função (Envato Elements)

Não há mais como negar: as mulheres têm estado presentes em todos os segmentos sociais relevantes, mesmo aqueles que antes eram destinados a homens em sua esmagadora maioria. Neste contexto, poucos ambientes são – ou eram – mais excludentes que o dos cargos de gerência e chefia em grandes empresas. Embora cada vez mais capacitadas, com estudos comprovando um aumento de disparidade de qualificação técnica em favor representantes do sexo feminino, as oportunidades de funções de destaque ainda são mais escassas e difíceis para elas.

Um levantamento realizado pela Trademap no início deste ano apresentou um bom panorama do atual cenário da diferença de critérios na escolha de profissionais mulheres no mercado de trabalho atual: em estudo realizado em 50 empresas nacionais de diferentes segmentos, as companhias somam 1.043 executivos em cargos de diretoria e conselho de administração com apenas 154 representantes femininas, um número que equivale a aproximadamente 15% do total. Outro dado alarmante são as diferenças salariais: dados recentes do IBGE apontam que na média, mulheres ganham cerca de 20% menos do que os homens no Brasil mesmo em funções semelhantes e com qualificações técnicas equivalentes.

Embora, na prática, estes dados explicitem as dificuldades de mulheres chegarem ao controle de posições estratégicas dentro das empresas, o panorama tem mudado aos poucos. Algumas empresas têm colhido bons resultados graças ao trabalho de gestoras em cargos administrativos de alta complexidade em seu quadro de funcionários. Na área da educação esta é uma realidade mais consolidada, com docentes mulheres sendo reconhecidas historicamente tanto por sua formação, quanto por sua habilidade de compartilhar conhecimento de uma forma mais humana e assertiva.

A Gerente de marketing e Comunicação, Juliane Poitevin, é um dos exemplos desta tendência de mais espaço para mulheres no mundo corporativo. A profissional atua na Paraná Clínicas, uma empresa do Grupo SulAmérica, um dos planos de saúde empresariais mais reconhecidos do Estado. Há sete anos no cargo, ela explica parte das exigências e da complexidade da função que exerce: “sou responsável por definir todas as estratégias de marketing para atingir os objetivos da companhia, além de administrar a área de inteligência de mercado, acompanhando os movimentos e tendências no segmento de saúde tanto no Brasil quanto no exterior”, conta. Ainda de acordo com a gestora, suas ações estão alinhadas com o que existe de mais vanguardista no mercado, ajudando a Operadora a trabalhar uma estratégia de crescimento atrelada às metas do setor comercial.

Formada há 22 anos, Juliane é honesta ao afirmar que apesar de todos os sacrifícios feitos na carreira ela não necessariamente sentiu que sua trajetória foi mais difícil do que a média por ser mulher. Mesmo assim, a gestora reconhece as diferenças e exigências que por vezes tornam a contração de executivas mais rara e celebra a cultura da empresa que tem outras representantes femininas em cargos de alto escalão: “Por mais que o mercado esteja assistindo com uma frequência cada vez maior conquistas importantes de mulheres no mercado de trabalho, há ainda uma desigualdade histórica de gênero em termos ocupacionais. Mas isso tem mudado. Hoje, trabalho em uma empresa onde a presidente é uma mulher. Em toda trajetória profissional que tive e nas mais de 10 empresas em que passei, é a primeira vez que eu tenho o prazer de trabalhar com uma liderança feminina deste escalão. É algo muito importante”, conta.

Outro exemplo de executiva de alto escalão em destaque é Ruth Bandeira, que compõe o quadro da Diretoria Executiva do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças do Paraná – IBEF Paraná como Vice-Presidente de Projetos Estratégicos. Ela conta que começou a sua trajetória profissional no mercado financeiro como estagiária de operações do Banco de Investimento, no Rio de Janeiro: “Éramos 26 pessoas, traders de moeda nacional, cambio, mercados futuros, metais preciosos e eu… a única mulher no meio desses ‘tubarões'”, diz.

Após quatro anos, já na função de trader, Ruth recebeu uma proposta para atuar em Curitiba. Na cidade, continuava sendo a única mulher em cadeira estratégica, mas, apesar da resistência, formou um time que buscava dar oportunidade a outras mulheres. “Houveram situações em reuniões onde esperavam o ‘Sr. Bandeira’ e quando eu chegava era questionada sobre onde estava meu chefe, antes de perguntarem meu nome”, conta. Apesar dos desafios, ela consegue ver uma evolução na participação feminina em cadeiras estratégicas na área financeira.

Gestão feminina

Embora, na prática, mulheres recebam menos oportunidades em cargos de liderança, são cada vez mais evidentes as vantagens que o comando de mulheres pode trazer à áreas estratégicas de companhias de diferentes segmentos. “O olhar de uma mulher gestora pode trazer à empresa uma maior tendência de cooperação. Nós historicamente estamos mais acostumadas a lidar com demandas simultâneas, o que auxilia muito nestes processos administrativos. Somos, em geral, mais flexíveis, conseguimos equilibrar a vida pessoal e profissional desde cedo, além de sermos mais empáticas. Acho que as mulheres contribuem para um clima organizacional mais leve, abrindo mão do autoritarismo por um ambiente de trabalho mais harmônico e produtivo”, opina Juliane.

Por sua vez, Ruth reforça a importância de medidas práticas que contribuam para a diminuição do abismo de números que ainda afastam mulheres de funções de alto escalão: “As empresas precisam estar atentas a este cenário. Institutos como o IBEF Paraná podem contribuir com a pavimentação desse caminho. Nós nos preocupamos com este tema e, além de trazermos mulheres para compor a Diretoria do Instituto, criamos o Projeto Equilibra que tem como foco buscar formas de atrair e dar maior visibilidade e oportunidade às mulheres em cargos de gestão”, destaca.

Mulher na Educação

Se ainda há muito progresso a ser feito no mundo corporativo, na área de educação o cenário já é mais igualitário, embora as dificuldades ainda estejam presentes. A história da professora Lívia Melo, do Curso e Colégio Acesso de Curitiba, é um bom exemplo do quanto a jornada em busca do reconhecimento é calcada por muito trabalho, dedicação e lutas que transcendem o aspecto profissional.

Sua trajetória se iniciou em um estágio dentro do Museu Oscar Niemeyer e seguiu com um bacharelado em história. A ideia era ser pesquisadora, mas o caminho acabou sendo gradualmente mudado por força do destino: uma inscrição pelo Processo Seletivo Simplificado (PSS) a fez entender que ela não conseguiria fugir de um lugar que aprendeu a amar durante sua formação, as salas de aula: “descobri meu amor pela educação, descobri meu amor por ser professora, descobri meu amor pela curiosidade e pelas pessoas”, conta Lívia.

Engajada em causas sociais como igualdade de gênero, igualdade racial, econômica, entre outras bandeiras, a professora virou uma referência entre seus alunos na busca de justiça, afeto e até mesmo de aconchego por meio de suas palavras, motivações e ideais:  “Busco as causas da libertação do espírito humano a partir do conhecimento, uma sensibilidade que não seja ignorada pela razão, uma construção de um um mundo melhor. Não acredito que a educação tenha o poder de mudar o mundo, mas se ela for capaz de mudar a realidade de cada indivíduo, eles poderão lutar contra as injustiças históricas que a gente vivencia no dia a dia”, complementa. “O Dia das Mulheres não é só uma comemoração, ele representa um processo de reflexão sobre a necessidade de sermos protagonistas da História a ponto de lutarmos para concretizar os nossos direitos”, finaliza a professora.