Paiva Netto
A Ciรชncia (cรฉrebro, mente), iluminada pelo Amor (Religiรฃo, coraรงรฃo fraterno), eleva o ser humano ร conquista da Verdade.
A humanidade tem vivido sob a ditadura de suas prรณprias criaรงรตes castradoras nos vastos ramos em que progride. O resultado nรฃo tem sido o melhor. Basta ver os escabrosos desnรญveis sociais mantidos em um mundo โcivilizadoโ. Clara propensรฃo suicida. Um dia a casa pode cair, como na marchinha cantada porย Emilinha Borba*.
ร flagrante a necessidade de alargar a รณtica espiritual do pensamento humano criador, para que finalmente se torne arรญete da gigantesca libertaรงรฃo que resta por fazer. Em que bases?! Nas do Espรญrito, desde que nรฃo considerado medรญocre projeรงรฃo da mente, porquanto รฉ a Sublime Luminosidade que dรก vida ao corpo: eis a Extraordinรกria Vinha que o Criador oferece ร criatura para livrรก-la da zonzeira do ceticismo excessivo. Embora uma pequena dose dele seja bastante salutar, se apreciarmos esta advertรชncia atribuรญda aย James Laverย (1899-1975), que foi curador do Departamento de Gravura, Ilustraรงรฃo e Design do Victoria and Albert Museum, de Londres, entre 1922 e 1959:ย โO ceticismo absoluto รฉ tรฃo injustificado quanto a credulidade absolutaโ.
O Espรญrito รฉ a objetividade; a carne, a vestimenta que urge ser bem cuidada, visto que desta depende ele para evoluir.
O Amor รฉ a chave da Nova Consciรชncia
Com razรฃo, escreveuย Isaรญas, 55:3 e 6:ย โInclinai os vossos ouvidos e vinde a mim; ouvi, e a vossa Alma viverรก, porque convosco farei um concerto perpรฉtuo. (…) Buscai o Senhor enquanto se pode achar; invocai-O enquanto estรก pertoโ.ย Seguir o conselho do Profeta รฉ mais do que apenas aumentar o conhecimento; รฉ banhรก-lo com a Divina Claridade do Amor, a chave que nos abre as amplas searas da Nova Consciรชncia, que faz da Solidariedade a sua perfeita estratรฉgia. E aqui surge o Novo Renascimento, cuja Suprema Inspiraรงรฃo desce a nรณs diretamente de Deus.
Nรฃo foi sem propรณsito a famosa recomendaรงรฃo do Buda (aproximadamente 563-483 a.C.), no leito de morte, a seu โdiscรญpulo amadoโ, como Joรฃo Evangelista o foi do Cristo: โAgora, Ananda, encontra a tua luz!โ
Ora, o indivรญduo que nรฃo descobre a Luz para a sua prรณpria luz conserva-se na regiรฃo da sombra, ร margem da realidade, que รฉ muito mais do que considera efetivamente concreto. Se ele realmente emprega, consoante afirma o renomado escritor, psicรณlogo e filรณsofo norte-americanoย William Jamesย (1842-1910),ย โapenas uma pequena parcela dos seus recursos mentais e fรญsicosโ, o que รฉ possรญvel pontificar como incontestรกvel, se nem ainda possui o completo controle das funรงรตes da massa encefรกlica? Disso decorrem os acidentes de percurso individuais e coletivos, com suas perturbaรงรตes atรกvicas, que provocam sectarismos e alimentam atรฉ mesmo dogmas cientรญficos paralisadores. Daรญ tambรฉm os รณbices ainda cultivados na comunicaรงรฃo da Humanidade do Cรฉu com a da Terra (dos seres espirituais com os terrenos), tendo em vista o relacionamento รกrduo da pessoa com o prรณprio Espรญrito, que ela teima em menoscabar, como se nรฃo fossem partes complementares.
Passado e futuro sรฃo ilusรตes. O que existe รฉ o Presente Eterno! De outra forma, o Tempo nada mais seria do que a grande mentira do homem, na definiรงรฃo de Immanuel Kantย (1724-1804). O Espaรงo tridimensional (altura, largura e profundidade) igualmente รฉ enganador sem a equaรงรฃo, embora relativa para o ser humano restrito, que demonstra a fรณrmula Tempo permanente, porquanto Presente Eterno. As questรตes de Espaรงo e Tempo atรฉ hoje confundem o habitante terrestre โ e nรฃo somente ele, como muitos que evoluem no campo espiritual que envolve este orbe: o cรฉu da Terra,ย que nรฃo รฉ uma abstraรงรฃo. As providรชncias iniciais para o seu deslindamento encontram-se, para surpresa de alguns, no Apocalipse de Jesus, 1:10, o Dia do Senhor, isto รฉ, a integraรงรฃo da criatura no Espaรงo-Tempo de Deus:โAchei-me em Espรญrito, no Dia do Senhor, e ouvi por detrรกs de mim uma grande voz, como de trombetaโ.
Nรฃo hรก limite para o Universo Divino
Para entendermos os ambientes mais elevados, รฉ necessรกrio aceitarmos que funcionam empregando a Luz, que รฉ โmatรฉriaโ quintessenciada, fluida, em regiรตes situadas atรฉ mesmo depois daquelas que nossa atual compreensรฃo das coisas alcanรงa. Hรก esferas alรฉm das esferas, adiante do que os astrรดnomos jรก vรชm considerando como o hiperespaรงo. A โfronteiraโ รฉ muito mais longรญnqua, porque nรฃo hรก limites para o Universo de Deus.
O planeta angustia-se sob o impacto de merencรณria carรชncia sentimental, pois tem preferido desenvolver-se, valendo-se dos constringentes meios fรญsicos, em vez de,ย pari passu, agir com o instrumental que lhe oferece a Inspiraรงรฃo Celeste. Esta รฉ uma das providรชncias bรกsicas a serem tomadas para que o saber terreno possa desvendar o fundamento Espรญrito, que nele prรณprio habita.
Nรฃo devemos abrir mรฃo de Deus
A civilizaรงรฃo precisa das suas incomensurรกveis qualidades investigativas, mas nรฃo deve abrir mรฃo de Deus. Evidentemente, nรฃo se trata aqui do caricato ser antropomรณrfico, histรณrico empecilho ao urgente fraternal abraรงo que, um dia, unirรก duas grandes irmรฃs: Ciรชncia e Religiรฃo.
Negar,ย a priori, a essรชncia do que intimamente se procura torna difรญcil ao pensamento cientรญfico o privilรฉgio de beneficiar-se com a descoberta do que instintivamente busca: o Espรญrito. ร como a crianรงa que, batendo o pรฉ nervosamente, protesta dizendo nรฃo gostar de um alimento que nem sequer experimentou. Haja paciรชncia do Pai, o Celestial!
Josรฉ de Paiva Netto โ Jornalista, radialista e escritor.
paivanetto@lbv.org.br โ www.boavontade.com
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*ย Emilinha Borba (1923-2005).