No mundo, cerca de 35 mil crianças e adolescentes que morreram em 2022 devido a complicações do DM1 ainda não tinham sido diagnosticadas com a doença
O Brasil é o terceiro país do mundo com maior número de crianças e adolescentes com diabetes tipo 1 e a falta do diagnóstico precoce reduz em 30% a expectativa de vida de uma criança que detecta a doença aos 10 anos de idade, se comparada com a população geral (expectativa de vida de 40 a 54 anos, em média). Isso é o que aponta o relatório da T1D Index, divulgado pela Federação Internacional do Diabetes (IDF).
A pesquisa mostra que no ano de 2022, cerca de 35 mil crianças e adolescentes morreram no mundo por causa do diabetes, das quais nenhuma havia sido diagnosticada. E os números não se restringem apenas às crianças. No Brasil, 1 em cada 9 pessoas com DM1 morre sem um diagnóstico.
O médico endocrinologista, presidente da SBD-PR e coordenador do departamento de educação da SBD nacional, André Vianna, explica que o diabetes tipo 1 apresenta sinais pontuais inicialmente, como vontade frequente de urinar, sede excessiva e aumento da fome e apetite. “O problema maior é quando o DM1 não é diagnosticado nessa fase e acaba evoluindo para a cetoacidose diabética, que pode ser diagnosticado erroneamente como pneumonia, gastroenterite, malária, febre tifóide, apendicite ou outra condição”, afirma Vianna.
Cetoacidose diabética e a carência de insulina
Essa complicação do diabetes é considerada como uma grave emergência médica. Sem um diagnóstico rápido e tratamento adequado, a pessoa com diabetes pode morrer dentro de 12 meses. “A cetoacidose diabética é uma complicação do diabetes tipo 1 e, em casos raros, do diabetes tipo 2, sendo provocada pela falta de insulina no organismo que leva a produção de cetonas, substâncias ácidas que desequilibram o Ph do sangue. É muito comum entre as crianças que têm diabetes tipo 1 e ainda não foram diagnosticadas”, explica o endocrinologista pediátrico Mauro Scharf, do Instituto da Pessoa com Diabetes (IPD).
Isso aconteceu com Ana Custódio da Silva aos 11 anos de idade. A mãe, Eva Custódio da Silva, conta que a filha apresentava sinais de fraqueza e tontura, até que em uma noite Ana a acordou gritando por não conseguir ficar em pé. “Eu acordei com o grito desesperado dela e me assustei muito quando a vi no quarto, toda roxa e com a boca sangrando. Corremos para o hospital e o médico passou o diagnóstico: a Ana tinha diabetes tipo 1 e estava tendo uma cetoacidose diabética, e por isso eles iriam levar ela imediatamente para a UTI”, conta Eva.
“Eu me emociono porque é uma fase que a gente já passou, então é um choro de superação. Mas foram dias muito difíceis para nós, um momento que nunca imaginávamos viver. A Ana ficou 5 dias entubada, depois foi para a enfermaria e aí chegou a parte mais difícil: a hora de cair a ficha, entender o que era o diabetes tipo 1 e nos adaptar a uma vida de controle e tratamento”, diz Eva.
Tecnologias no tratamento
Para André Vianna, o diagnóstico precoce do diabetes tipo 1 e o tratamento adequado são essenciais para aumentar a expectativa de vida. “A informação é o principal e melhor tratamento para qualquer doença, em especial para o diabetes. Além disso, o acesso a insulina e insumos como tiras para testes de glicemia são de suma importância para o controle da doença”, diz o médico endocrinologista.
Outro fator que tem contribuído com a longevidade dos pacientes é o uso de equipamentos tecnológicos para controle da glicemia. Esse é o caso dos medicamentos e sensores de glicemia e do pâncreas artificial híbrido (780g) que, ao serem usados no tratamento, podem restituir 6.9 anos de vida saudável para as pessoas com diabetes.
“A tecnologia em diabetes é um dos maiores avanços no dia a dia dos pacientes com DM1. Isso porque eles precisam tomar mais de 100 decisões por dia referentes à doença, sob o risco e medo de esquecer um medicamento, ou uma dose ou outra de insulina. Com sistemas de infusão contínua, essas decisões são reduzidas quase que por completo, e a pessoa tem mais tempo e disposição para viver a vida sem se preocupar integralmente com o diabetes”, finaliza Vianna.
Diabetes e saúde bucal na infância
Outro aspecto que deve ficar no alerta dos pais de crianças com diabetes tipo 1 é a saúde bucal. De acordo com o odontopediatra, Luiz Vicente Lopes, uma pesquisa realizada pelo Instituto de Ciência e Pesquisa da Associação Americana de Odontologia, em 2022, apontou que o diabetes não controlado pode incluir até oito manifestações orais diferentes: xerostomia (boca seca), sensação de queimação na boca, cicatrização tardia de feridas, aumento da incidência e gravidade das infecções bucais, infecção secundária com candidíase, aumento da glândula salivar parótida, gengivite e periodontite.
“Por isso a importância do acompanhamento odontológico desde cedo, para identificar os sintomas orais de um paciente com diabetes e orientar os pais. O tratamento do diabetes envolve uma ampla equipe multidisciplinar, e o odontopediatra também deve estar presente”, informa Luiz Vicente Lopes, do Instituto Kids de Odontologia.
Lembrando que a glicemia, quando não controlada, também pode prejudicar vasos sanguíneos, olhos, coração, rins, entre outros.