Implantação de marca-passo com envelope de antibióticos estreou o uso da tecnologia no país
Uma tecnologia já disponível nos Estados Unidos e em países da Europa foi utilizada, pela primeira vez no Brasil, pelo Serviço de Cirurgia Cardiovascular do Hospital Pequeno Príncipe em dezembro de 2022, por indicação do Serviço de Eletrofisiologia da instituição. Trata-se do uso de um envelope de antibióticos que envolve o marca-passo com o objetivo de evitar as infecções bacterianas – uma das complicações mais temidas associadas ao uso desse tipo de dispositivo. O envelope é colocado durante o ato cirúrgico, envolvendo o gerador, e imediatamente se inicia a liberação local de antibióticos. Na sequência, ao longo dos dias, ocorre a reabsorção completa do envelope pelo organismo, diminuindo, consequentemente, a possibilidade de infecção.
“Alguns procedimentos, medicamentos e características dos pacientes aumentam significativamente o risco de uma infecção do dispositivo. E essas infecções aumentam a morbidade, tempo de internamento e reintervenção cirúrgica nestes pacientes”, explica a cardiologista responsável pela inovação, Lânia Romanzin Xavier, que é chefe do Serviço de Eletrofisiologia do Pequeno Príncipe.
Foi o que aconteceu com o paciente Augusto Manenti Martins, diagnosticado em 2010, aos 5 anos de idade, com uma doença que compromete o funcionamento correto do coração. Para corrigir tal situação, ele implantou um marca-passo e desde então faz acompanhamento regular no serviço do Pequeno Príncipe. “No final do ano passado, já aos 17 anos, descobrimos que um dos eletrodos do marca-passo havia se rompido”, conta a mãe, Vivian Martins.
Augusto passou então por uma cirurgia para substituição desse eletrodo, mas no dia seguinte se verificou o deslocamento do eletrodo, o que levou a equipe a recomendar uma nova cirurgia. “Os médicos nos falaram dessa nova capa que envolve o dispositivo no antibiótico, e nós autorizamos o procedimento, mesmo sendo inédito no Brasil. A equipe nos mostrou estudos que atestavam a eficiência desse procedimento. E foi mesmo um sucesso. Ele não teve nenhum pico de febre no pós-operatório, nenhuma intercorrência causada por infecção”, relata a mãe.
Outro grande benefício desse novo procedimento, segundo a médica, é o impacto que ele proporciona na gestão do serviço. O paciente que tem infecção fica internado, em média, três semanas a mais. Os custos do tratamento também se elevam, pois é necessário submeter o paciente a uma cirurgia para retirar o marca-passo, aguardar o controle da infecção, para depois realizar uma nova cirurgia e implantar um novo dispositivo. E o mais impactante, o paciente e a família passam por mais momentos de preocupação e sofrimento.
Em 2022, o Serviço de Cirurgia Cardiovascular do Pequeno Príncipe, em parceria com o Serviço de Eletrofisiologia, implantou 29 marca-passos e fez a troca de gerador em 14 implantes. “Se o Augusto está aqui hoje, com 17 anos, é graças à competência de toda a equipe médica e de toda a estrutura do Pequeno Príncipe. Todos os profissionais – médicos, enfermeiros, equipe da UTI, pessoal da limpeza, enfim, todos – são pessoas extremamente humanas, bem-humoradas e dedicadas a cuidar do nosso maior bem. E só tenho a agradecer a essa instituição”, finaliza Vivian.
Sobre o Hospital Pequeno Príncipe
Com sede em Curitiba (PR), o Pequeno Príncipe, maior hospital exclusivamente pediátrico do Brasil, é uma instituição filantrópica, sem fins lucrativos, que oferece assistência hospitalar há mais de 100 anos para crianças e adolescentes de todo o país. Disponibiliza desde consultas até tratamentos complexos, como transplantes de rim, fígado, coração, ossos e medula óssea. Atende em 35 especialidades, com equipes multiprofissionais, e realiza 60% dos atendimentos via Sistema Único de Saúde (SUS). Conta com 361 leitos, 68 de UTI, e em 2022, ainda com as restrições impostas pela pandemia de coronavírus, realizou cerca de 250 mil atendimentos e 18 mil cirurgias que beneficiaram pacientes do Brasil inteiro.