Estatísticas do Instituto Nacional de Câncer (INCA) apontam que anualmente são diagnosticados cerca de 43 mil novos casos de tumores de cabeça e pescoço que atingem principalmente boca (língua, assoalho da boca, palato duro, gengivas, mucosa da boca, lábio), orofaringe (região das amígdalas, base da língua, palato mole, parte lateral e posterior da garganta), demais regiões da faringe, laringe, etc. A Campanha Julho Verde foi idealizada justamente para conscientizar a população sobre a importância da prevenção do câncer de cabeça e pescoço.
O rádio-oncologista Daniel Neves, do Oncoville, explica que muitas vezes os tumores de cabeça e pescoço podem ser assintomáticos no início da doença, o que leva à demora do diagnóstico e isso é um problema, já que o diagnóstico precoce é fundamental para o sucesso do tratamento. Porém, em 60% dos casos, o paciente chega com o tumor avançado, deixando sequelas para o indivíduo. “Por ser uma doença curável, fica o alerta para a importância da detecção precoce. Estes tumores possuem grandes chances de prevenção e com medidas simples é possível evitar o desenvolvimento da doença, entre elas refrear ou abandonar os fatores de risco, como o tabagismo e consumo excessivo de bebidas alcoólicas, responsáveis por cerca de 90% dos casos. O HPV (papilomavírus humano) também pode ser o agente causador de alguns tumores, especialmente o câncer da orofaringe”, aponta.
Os principais sintomas do câncer de cabeça e pescoço são: aparecimento de nódulo no pescoço, manchas brancas ou avermelhadas na boca, ferida que não cicatriza em duas semanas, dor de garganta que não melhora em 15 dias, dificuldade ou dor para engolir e alterações na voz ou rouquidão por mais de 15 dias. Qualquer sinal de alerta é fundamental procurar um especialista.
Tratamento do câncer de cabeça e pescoço tem suas particularidades
A região de cabeça e pescoço possui diversas estruturas funcionais muito próximas umas das outras, como é o caso da cavidade oral, mandíbula, medula, parótidas, glândulas submandibulares, laringe, esôfago, tireoide, etc. O físico médico do Oncoville, Paulo Petchevist, explica que é por isso “quando um tratamento radioterápico precisa ser feito neste local é necessário uma apropriada imobilização para que o paciente não se mova e por consequência as estruturas que desejamos proteger não entrem na região de tratamento. Isso é feito através de uma máscara termoplástica moldada ao rosto do paciente no momento da tomografia de planejamento. Quando encaixada ao rosto diariamente, a máscara permitirá que a região da cabeça e do pescoço do paciente fique posicionada e alinhada para o tratamento.”
A radioterapia de cabeça e pescoço teve um avanço muito grande com a implementação de feixes modulados como nas técnicas de IMRT – Radioterapia de Intensidade Modulada e mais recentemente pelo VMAT – Arcoterapia Volumétrica Modulada. O uso dessas técnicas possibilita entregar doses altíssimas à região-alvo reduzindo ao máximo as doses em estruturas sadias circunvizinhas. “Uma boa imobilização com máscaras termoplásticas, aliada a técnicas de irradiação moduladas, como IMRT ou VMAT, completam-se com a utilização de técnicas refinadas de imagem pré-tratamento (IGRT –
Radioterapia Guiada por Imagem). Com ela é possível fazer imagens do local que está sendo tratado, antes do início de cada sessão, e fundi-la com aquelas de planejamento. Quando qualquer discrepância entre as imagens, por mais que seja submilimétrica, é corrigida pela mesa robótica que o paciente está deitado. A aplicação dessa técnica de imagem garante a reprodutibilidade necessária para a correta entrega de dose ao volume tumoral diariamente.”
Participação dos dosimetristas durante o tratamento
A garantia de que a máquina de radioterapia entregará a dose prescrita pelo médico rádio-oncologista à região-alvo do paciente depende diretamente do controle de qualidade e dosimetria que os físicos médicos da instituição realizam continuamente. As estruturas sadias na região de cabeça e pescoço são muito próximas umas às outras e para concentrar a dose alta de radiação ao volume-alvo, com a menor irradiação possível dos órgãos sadios, é necessário que a máquina responda elétrica, dosimétrica e mecanicamente ao que se espera dela. Para isso, testes de desempenho diários, mensais, trimestrais e anuais são feitos para garantir a precisão de posicionamento e entrega de dose ao paciente. “Além disso, um desses testes de controle de qualidade para feixes modulados é feito de forma personalizada, avaliando se a distribuição de dose que foi planejada será entregue precisamente ao paciente. Isso é feito anteriormente ao primeiro dia de tratamento, trazendo ainda mais segurança na execução de irradiação para cada caso”, destaca Paulo Petchevist.