Revisão de 17 estudos mostra que falta evidência científica de que o filtro preserve a visão, melhore a fadiga visual e o sono.
A maior exposição ao mau uso dos eletrônicos causa fadiga visual. Os sintomas são desconforto nos olhos, dor de cabeça, visão turva e olho seco. Segundo o oftalmologista Leôncio Queiroz Neto, presidente do Instituto Penido Burnier, de Campinas, no Brasil atinge 30% das crianças e de 75% a 90% dos adultos conforme levantamentos realizados no hospital. “Estes sintomas atraíram a atenção de pesquisadores do mundo todo sobre os efeitos nos olhos da exposição à luz azul emitida pelas telas”, afirma. Algumas iniciativas não tiveram comprovação científica até hoje. Este é o caso das lentes com filtro de luz azul criadas com a proposta de bloquear os sintomas da fadiga visual, melhorar o sono e preservar a visão.
A pesquisa
É o que mostra uma revisão científica de 17 estudos realizados em seis diferentes países que acaba de ser publicada na Cochrane, plataforma mundialmente reconhecida. Cada estudo contou com 5 a 156 participantes que receberam acompanhamento de um dia a cinco semanas. A revisão também aponta que não houve melhora na qualidade do sono de três grupos que usaram lentes com filtro, enquanto outros três tiveram melhora. Por isso a pesquisa não reúne dados robustos para ser conclusiva quanto à melhora do sono.
A comparação dos participantes que usaram lentes com filtro e os que usaram lentes comuns, evidencia que o filtro não reduziu a fadiga visual provocada pelos eletrônicos. Queiroz Neto explica que o filtro é um cromóforo que reduz ou elimina a quantidade de luz azul que atinge os olhos. Outra opção é o revestimento antirreflexo na superfície interna e externa que reduz parte da transmissão da luz azul.
Causas da fadiga ocular
Para o oftalmologista a melhora da fadiga visual nas telas não foi constatada por se tratar de uma questão multifatorial que pode estar relacionada a outras condições oculares, entre elas, estrabismo, disfunção da lágrima, erro refrativo ou presbiopia não corrigidos. Por isso, afirma, quando sua visão incomoda é melhor consultar um especialista para checar qual a melhor solução.
Como prevenir
As recomendações de Queiroz Neto para reduzir a fadiga visual diante das telas são:
- Lembre-se de piscar voluntariamente. Normalmente piscamos 20 vezes/minuto e na frente dos eletrônicos de 6 a 7 vezes. Por isso a visão fica embaçada e perdemos produtividade.
- Dê preferência aos óculos na frente das telas. Lentes de contato podem ressecar a lágrima e embaçar a visão.
- A distância entre a tela e os olhos deve ser, em média, de 60 cm. Se estiver muito próxima, você corre o risco de sobrecarregar continuamente os músculos dos olhos.
- Não use qualquer equipamento de frente à janela para a luminosidade não causar desconforto ocular.
- Evite o excesso de luminosidade que contrai mais as pupilas e aumenta o cansaço visual.
- Regule sempre a tela com o máximo de contraste e ajuste o brilho de acordo com a luz do ambiente. Evite, por exemplo, manter a tela com muito brilho em uma sala escura.
- Mantenha a tela sempre limpa.
- A cada hora, descanse de 5 a 10 minutos, desviando o olho para um ponto distante.
Como regular o sono
Queiroz Neto explica que não existe lente capaz de melhorar o sono. Nossos olhos são a porta de entrada do ciclo circadiano ou relógio biológico que rege todas as funções biológicas, de acordo com a intensidade de luz que recebe. Este relógio está localizado em uma porção do cérebro, o núcleo supraquiasmático (NSQ) que fica dentro do hipotálamo. “Por isso, não adianta colocar o celular ou tablet no modo noturno. A tela vai continuar estimulando sua cognição e ‘enganando’ seu cérebro que é dia”, salienta. O consenso na Oftalmologia é de que os equipamentos devem ser desligados, no mínimo, uma hora antes de ir dormir. Cuidado: “A falta de sono desregula o relógio biológico. Por isso, pode causar colesterol alto, cardiopatia, hipertensão arterial e diabetes.
Luz dos eletrônicos pode cegar?
Nenhum dos 17 estudos inclusos foi de longo prazo. Por isso, os cientistas afirmam que esta revisão não estabelece uma relação com a perda da visão de contraste que caracteriza a catarata, ou com a DMRI (Degeneração Macular Relacionada à Idade) maior causa de cegueira definitiva. Queiroz Neto ressalta que 10 das 12 principais pesquisas populacionais que buscaram estabelecer uma correlação positiva entre a exposição à luz azul e a DMRI não associaram os dois fatores. “Por enquanto não há evidência de que a luz azul cause a perda da visão. Mais estudo de longo prazo precisam ser feitos para avaliar a conformidade da prescrição dessas lentes para preserva a saúde de seus olhos” finaliza.