Guilherme Ambar*
A comprovação de que 7% dos domicílios brasileiros onde vivem 11 milhões de pessoas já comprometem mais de 20% do poder de compra com saúde, acendeu um perigoso sinal de alerta, mesmo sem computar o investimento do país no Sistema Único de Saúde – SUS, que em teoria deveria atender à demanda de todos os cidadãos.
O estudo produzido por pesquisadores de três unidades da Universidade de São Paulo, indica a necessidade vital de melhorar o arsenal nacional para o diagnóstico precoce, caminho certo para a redução das despesas com tratamento. Diagnóstico precoce, é consenso, pressupõe exames baratos, rápidos e amplamente disponíveis.
A resposta a essa necessidade é a universalização do diagnóstico molecular. Ela se tornou possível, curiosamente, como efeito colateral da pandemia da COVID 19, que levou à capacitação de dezenas de laboratórios de análises clínicas em todos os estados brasileiros.
A pandemia tornou necessário que os laboratórios se equipassem, passando a absorver não apenas a tecnologia de análise dos exames PCR, como treinaram equipes hoje aptas para trabalhar com os programas que permitem a identificação extremamente rápida não só das doenças, como também do agente causador.
Com a rede de laboratórios devidamente equipados no Brasil, não há mais desculpa para termos diagnóstico tardio das principais doenças epidêmicas do país, dengue, febre amarela, esquistossomose, leishmaniose, leptospirose, hanseníase e doença de Chagas, bem como a incidência de HPV, principal causador do câncer de colo de útero.
Apenas este ano, o estado de São Paulo registrou 17.200 hospitalizações devidas à síndrome respiratória, influenza em sua maioria. Os números se referem apenas aos casos graves e para cada um ocorreram dezenas de outros sem registro, tratados em casa, que exigiram despesas com medicamentos, que pressionam o orçamento familiar.
Agora a pandemia já não nos preocupa tanto, mas talvez jamais saibamos quanto custou ao Brasil o tratamento dos 37.728.415 confirmados de COVID que causaram 704.794 óbitos de fevereiro de 2020 a setembro último.
Esse imenso custo torna essencial uma política de diagnóstico precoce das doenças identificáveis pelo diagnóstico molecular. Se essa política vier a ser adotada, ganha o Brasil como um todo, e os 11 milhões de brasileiros que estão dispendendo mais de 20% do seu poder de compra com o item saúde. Essa despesa será bastante reduzida quando e se o país passar a cuidar preferencialmente da prevenção, via diagnóstico, do que do caro tratamento depois que a doença, qualquer que seja, passe a ser atacada depois de se desenvolver no organismo.
*Guilherme Ambar é biólogo e CEO da Seegene do Brasil