Janeiro Verde: mês de conscientização do Câncer do Colo do Útero

Médico especialista explica sobre prevenção, tratamentos e fertilidade

O Janeiro Verde tem como propósito sensibilizar, prevenir e conscientizar sobre o câncer do colo do útero, que é o terceiro tipo mais frequente de tumor maligno e a quarta principal causa de morte por câncer entre as mulheres, conforme dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca). Originado pela infecção persistente do Papilomavírus Humano (HPV), são esperados em 2024, 1.690 novos diagnósticos de câncer ginecológico no Paraná, sendo 790 casos de tumores de colo de útero, 480 de corpo de útero e 420 de ovários.

 

Segundo o cirurgião oncológico da Oncoclínicas Curitiba, Bruno Azevedo, nesse contexto, o papel do Janeiro Verde é fundamental, não apenas para a prevenção desse tipo específico de câncer, mas também para outros que afetam o sistema reprodutor feminino, muitas vezes de forma silenciosa e diagnosticados em estágios avançados. “É importante estar atento a alguns sinais, como feridas, alterações de cor ou bolhas na vulva e vagina, sangramento vaginal anormal, dor pélvica ou pressão abaixo do umbigo, além de sensibilidade nas mamas, nódulos, secreção ou vermelhidão”, conta.

 

Bruno explica que o exame preventivo Papanicolau desempenha um papel crucial, no qual são coletadas células das superfícies interna e externa do colo do útero. “Essas células são depositadas em uma lâmina de vidro e posteriormente analisadas em laboratório. Caso o exame identifique células anormais, é recomendável realizar uma biópsia, que consiste na remoção de uma pequena amostra do tecido para análise ao microscópio. Esse exame é indicado para mulheres de 25 a 64 anos”, afirma.

Tratamentos com cirurgia robótica

Uma vez que a doença seja diagnosticada, é importante avaliar todas as possibilidades de tratamentos, que devem levar em conta a idade da paciente, estado de saúde e preferências pessoais. Nesse contexto, as principais opções de tratamento para o câncer de colo de útero incluem cirurgia, radioterapia, quimioterapia, terapia alvo e imunoterapia, que podem ser realizadas isoladamente ou em combinação, a depender do estágio da doença. “Para os estágios iniciais da doença pode ser feita a cirurgia ou a radioterapia combinada com a quimioterapia. Para estágios posteriores, a radioterapia combinada com a quimioterapia é geralmente o tratamento indicado. Já para os estágios mais avançados, o ideal é a realização de tratamento quimioterápico isolado”, explica Bruno.

Uma das técnicas cirúrgicas mais avançadas na atualidade é a cirurgia robótica, que proporciona inúmeros benefícios para a equipe médica e aos pacientes submetidos ao procedimento. “A cirurgia robótica se destaca pela sua precisão, sendo que nesse método, o cirurgião opera um robô que realiza pequenas incisões e, por meio delas, introduz uma câmera, possibilitando uma visualização abrangente da cavidade operada”, afirma. Além de maior precisão, a recuperação da cirurgia robótica é mais rápida, diminuindo o tempo de internação do paciente.

Bruno explica que uma inquietação frequente entre as pacientes submetidas a procedimentos cirúrgicos para tratar doenças ginecológicas, é o receio de comprometer ou lesionar o útero, afetando potencialmente a fertilidade. “Graças aos avanços tecnológicos, é viável realizar cirurgias para tratar enfermidades ginecológicas com riscos reduzidos para a fertilidade feminina. Isso é especialmente evidente com o emprego das técnicas cirúrgicas robóticas, que vêm se destacando na área. Essa abordagem pode ser aplicada em diversas doenças e procedimentos, sendo indicada para o tratamento de câncer de colo de útero, pois é uma cirurgia que apresenta uma menor chance de lesão e perda de sangue, é menos invasiva e proporciona uma recuperação mais rápida às pacientes”, conta.

Fertilidade x Câncer do Colo do Útero

Apesar da apreensão gerada pela descoberta de um câncer ginecológico, tanto antes, quanto durante e após o tratamento, muitas mulheres têm questionamentos sobre a sua fertilidade e, após a superação da doença, às possibilidades de gravidez futura. “Tipos de câncer como os de mama, ovário e colo de útero podem aumentar ainda mais a ansiedade das pacientes que aspiram à maternidade. Entretanto, é importante saber que existe a possibilidade de preservar a fertilidade e elaborar planos para futuras gestações bem-sucedidas, especialmente quando o câncer é diagnosticado em estágio inicial”, conta Bruno.

O médico explica que na fase inicial do carcinoma é possível fazer a remoção apenas da parte inicial do colo uterino, dependendo da localização do tumor, por meio de procedimentos como conização e traquelectomia, preservando assim o útero e deixando o colo uterino mais curto. “Já nos casos em que a paciente planeja uma gravidez posterior, é necessário adotar precauções, como a utilização de uma proteção contra o parto prematuro, conhecida como cerclagem. Esse procedimento envolve a inserção de um fio que “amarra” o colo do útero, impedindo sua dilatação antes do tempo”, reforça.

Quanto ao período recomendado para engravidar após o tratamento, para as pacientes que descobriram o câncer de colo de útero no início e passaram por cirurgia conservadora, é indicado aguardar um período de seis a 12 meses após os procedimentos, permitindo assim a completa cicatrização do tecido na região. “É importante destacar que há um risco aumentado de dificuldades para engravidar entre as mulheres que passaram pelo tratamento do câncer de colo uterino. Isso pode ocorrer devido a uma redução adicional do colo, causada pelas cicatrizes, impedindo a entrada dos espermatozoides no útero. Em situações em que não é possível engravidar naturalmente após o tratamento, seja devido à quimiorradioterapia ou histerectomia radical, os avanços nas tecnologias de reprodução assistida oferecem às mulheres a oportunidade de conceber filhos biológicos, com técnicas como a criopreservação de embriões”, explica Bruno.

O médico reforça que cada tipo de câncer deve ser abordado de maneira personalizada, considerando subtipo, extensão e outros fatores. “Mulheres que passam pelo tratamento de tumores, como o câncer de colo de útero, devem receber assistência personalizada em relação a uma possível gravidez futura, juntamente com seus demais anseios e dúvidas”, finaliza.