Especialista explica sobre o impacto das mudanças climáticas e aponta soluções para redução na emissão de gases de efeito estufa na agricultura
Dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), mostram que no primeiro trimestre de 2024, o agronegócio brasileiro registrou um superávit acumulado de US$32,23 bilhões, marcando um aumento de 2,8% em comparação com o mesmo período do ano anterior. Entre os estados com maiores exportações, o Paraná atingiu, em janeiro de 2024, um montante de US$1,4 bilhão, representando 12,62% de todas as vendas para o exterior do país, segundo o levantamento do sistema Agrostat, do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa). Esses dados mostram que o agronegócio desempenha um papel fundamental na economia global, no entanto, o setor é também um dos mais impactados pelo aquecimento global e pelas mudanças climáticas.
Segundo a engenheira ambiental e sócia da Climate Tech Vankka, Clarissa M. de Souza, a agricultura é altamente sensível às variações climáticas, sendo que as mudanças no clima podem impactar a sua produção de diversas maneiras: desde a intensificação de eventos climáticos extremos, até alterações na quantidade de graus-dia necessários para o crescimento das culturas. “As alterações climáticas podem influenciar a incidência e a gravidade de pragas e doenças nas plantações, entre outros fatores. O aumento da temperatura e as mudanças nos padrões de chuva têm o potencial de causar perdas significativas nas colheitas de grãos e redesenhar a geografia da produção agrícola brasileira, o que representa um desafio para a segurança alimentar do país”, explica.
Impacto das mudanças climáticas no agronegócio
Entre os problemas gerados, a mudança climática tem um impacto significativo no cenário da proliferação de doenças, o que reflete diretamente na produção agrícola, com efeitos diretos e indiretos sobre os agentes infecciosos e sobre plantas hospedeiras – fontes de alimentos e locais de acasalamento, refúgio e abrigo de animais -, bem como a interação entre eles. “Uma das consequências diretas será a alteração na distribuição geográfica, afetando o zoneamento agroclimático das plantas hospedeiras e influenciando os patógenos e outros microrganismos relacionados ao processo de doenças. Isso pode resultar no surgimento de novas doenças em certas regiões, enquanto outras podem perder sua importância econômica. Além disso, as variações climáticas também podem afetar a distribuição temporal das doenças, com flutuações na ocorrência e severidade ao longo do ano, muitas vezes associadas às condições meteorológicas. Por exemplo, um aumento na umidade durante a estação de crescimento pode favorecer a produção de esporos, enquanto condições de baixa umidade podem beneficiar doenças como os oídios. A redução dos dias chuvosos no verão também pode diminuir a dispersão de vários patógenos”, explica Clarissa.
O aumento da temperatura, algo que as projeções do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) indicam como inevitável no Brasil, também afeta diretamente a agricultura brasileira, que passará a enfrentar mudanças significativas devido a esse fator. “Já é previsto uma redução da área favorável ao plantio de culturas como algodão, arroz, café, feijão, girassol e milho, sendo que as regiões que atualmente produzem esses grãos, passem a não ser mais adequadas para o cultivo até o final do século, resultando na migração dessas culturas para áreas atualmente não cultivadas. O Sul, por exemplo, devido ao aumento da temperatura e à redução do risco de geadas, será propício para o plantio de culturas como a soja, mandioca e cana-de-açúcar. Além disso, a soja será particularmente afetada, com possíveis prejuízos bilionários devido à deficiência hídrica e veranicos mais intensos. Essas mudanças podem resultar em perdas substanciais na agricultura brasileira”, afirma a engenheira.
Além disso, Clarissa explica que o aumento da temperatura global está associado a diversos eventos climáticos extremos que podem impactar o agronegócio, como ondas de calor, veranicos, chuvas e ventos intensos. “As ondas de calor podem causar uma queda na produção agrícola, interferindo no ciclo fenológico das culturas e no desenvolvimento de órgãos vitais das plantas. Os chamados veranicos, podem aumentar a necessidade de irrigação, tornando o cultivo da soja mais desafiador no Sul e causando perdas significativas de área agricultável em alguns estados do Nordeste. Por fim, o aumento da frequência de chuvas e tempestades fortes no Sul pode prejudicar a mecanização agrícola devido à inundação das áreas cultivadas, enquanto ventos fortes podem danificar plantações de cana-de-açúcar, trigo e arroz, além de dificultar a pulverização de defensivos contra pragas e doenças”, conta.
Soluções que ajudam o agronegócio a minimizar os efeitos das mudanças climáticas
Diante desse cenário, Clarissa afirma que a implementação de estratégias tecnológicas no agronegócio se torna fundamental para minimizar os efeitos do aquecimento e garantir a sustentabilidade a longo prazo. “Desenvolver resiliência frente aos riscos climáticos, é algo fundamental para que haja uma adaptação ao cenário atual e futuro, sendo igualmente importante que os agricultores e gestores tenham precisão às variáveis ambientais. Além disso, também se faz necessário o entendimento sobre as mudanças na regulamentação climática, que demandam dados precisos de carbono para cumprir os objetivos ESG das empresas. Para isso, soluções abrangentes para gerenciar as emissões de carbono, como o fornecimento de dados de alta qualidade e ferramentas para monitoramento e redução, são fundamentais, permitindo que as empresas atendam às exigências regulatórias, reduzam custos e riscos, demonstrem comprometimento com a sustentabilidade e superem os desafios na análise de riscos empresariais e na confiabilidade dos créditos gerados”, afirma a engenheira.
Entre as soluções, Clarissa aponta o “Forest Risk Evaluation System for Green Investments”, uma abordagem inovadora que visa avaliar e mitigar os riscos associados a investimentos em projetos florestais. “Utilizando técnicas de avaliação de riscos e dados específicos do setor florestal, o sistema identifica uma variedade de riscos potenciais, como desmatamento, conflitos de terra e eventos climáticos extremos, permitindo que investidores e empresas tomem medidas proativas para mitigar esses riscos. Além disso, ao promover a transparência e a prestação de contas, o sistema incentiva práticas sustentáveis e responsáveis no setor florestal, contribuindo para a conservação das florestas e o desenvolvimento econômico sustentável das comunidades locais”, conta.
Outra solução é o Carbon Score, uma métrica que avalia o desempenho ambiental de uma entidade, seja uma empresa, indústria, agroindústria ou propriedade rural, em relação às emissões de carbono e seu impacto nas mudanças climáticas. “Essa métrica atribui uma pontuação que reflete a quantidade de emissões de carbono produzidas em relação a uma linha de base ou a um padrão de referência. Quanto mais baixa a pontuação, menor é o impacto ambiental em termos de emissões de carbono. O Carbon Score pode ser calculado utilizando uma variedade de métodos, incluindo dados de emissões diretas e indiretas, o uso de energia renovável, práticas agrícolas sustentáveis e o sequestro de carbono através do reflorestamento ou conservação de áreas naturais. Essa métrica é uma ferramenta importante para as empresas e organizações avaliarem e melhorarem seu desempenho ambiental, auxiliando na redução das emissões de carbono e na mitigação dos efeitos das mudanças climáticas”, finaliza a engenheira.
Sobre a Vankka
Fundada em 2023 pelos sócios Clarissa M. de Souza, Camila F. Balbinot, Alessandro Panasolo e Mauricio Kruger, a Vankka é uma Climate Tech que combina ciência, computação e inteligência artificial para criar soluções transparentes e confiáveis de neutralização climática, protegendo ativos, investimentos e pessoas.