A premiação, também chamada de Oscar empresarial, reconhece as melhores práticas do universo corporativo
A Ópera de Arame foi palco, na noite de 23 de maio, da cerimônia do Prêmio Áster 2024, considerado o Oscar empresarial no Brasil e na Europa. O ganhador na categoria “Empreendedorismo”, o fundador da Eletron Energia, Ricardo Kenji, levou o desejado troféu para casa. A conquista soma-se às demais da empresa paranaense especializada em projetos de eficiência energética que, em 2024, acumula pela 4ª vez consecutiva o selo Great Place To Work e o troféu Sesi de Melhores Práticas em Segurança, Saúde e Bem-estar. No último mês de março, a empresa também se tornou a primeira empresa do sul do Brasil a abrir capital na BEE4 em um sandbox da CVM.
Toda essa jornada da Eletron Energia é fruto da dedicação do seu fundador. À frente da empresa, o curitibano leva economia de energia e aumento da produtividade a diversos tipos de negócios que visam competividade e responsabilidade socioambiental.
Até de se tornar um expoente em seu ramo de atuação, Ricardo Kenji teve o caráter moldado à base de bons exemplos e muita determinação. Neto de imigrantes japoneses, o fundador da Eletron Energia cresceu ouvindo as histórias de luta vivenciadas pelos familiares enquanto nutria os próprios sonhos a respeito do futuro. Chama a atenção, por exemplo, que devido ao falecimento do seu avô paterno, o pai de Kenji precisou assumir os cuidados com a casa e as irmãs mais novas desde muito cedo. Contudo, embora as dificuldades não tenham sido poucas, não demorou muito para que o espírito visionário viesse à tona. “De atendente em uma pastelaria, onde conheceu minha mãe, a vendedor nas Pernambucanas, meu pai nunca se acomodou, pelo contrário, teve muita persistência para agarrar com unhas e dentes um cargo de respeito em uma empresa de produtos químicos paulista, progredindo até ser considerado um dos melhores da equipe”, orgulha-se.
Infância humilde
Depois de um tempo, as condições financeiras foram melhorando. Todavia, enquanto isso não acontecia, Kenji e os irmãos tinham um lar estruturado, mas sem extravagâncias. Da infância humilde, guarda com carinho a recordação do primeiro computador, dado a ele em um dos raros Natais com direito a presente “caro” – justificado pelo uso coletivo. Aliás, para poder jogar com mais frequência e marcar território na disputada máquina, Kenji deu os primeiros passos na programação.
Nessa época, lembra de ter recebido do pai uma revista de negócios na qual a entrevista de um executivo bem-sucedido repercutiria durante anos em seus pensamentos. Apesar dos pesares, o interesse pelos estudos sempre prevaleceu e, mesmo tendo vindo de escolas públicas, ingressou no antigo Cefet-PR (atual Universidade Tecnológica Federal do Paraná – UTFPR) para concluir o chamado curso técnico. “Me falaram que era a melhor escola, sendo assim, eu tinha que ir para lá, afinal, a história do entrevistado da Exame dizia que ele havia estudado nas melhores escolas”, recorda.
Nasce um currículo
Dali, para uma universidade de renome, foi um pulo, pois teve que se superar para chegar ao nível dos colegas mais preparados pelos colégios particulares. Vencido o nervosismo, barreira imposta por ele diante da pressão de conseguir uma vaga, não só passou em vestibulares concorridos (UFPR), como nos primeiros lugares. Acabou cursando Engenharia Elétrica na Unicamp, tida como referência na área. Em meio aos livros e cadernos, repletos de cálculos e disciplinas diversas (incluindo de outras graduações), Kenji deixou a timidez de lado para socializar e desenvolver habilidades pessoais. Prova disso, é o fato de ter ido trabalhar nas Olimpíadas de Inverno, em Nagano (Japão), e partido para um intercâmbio nos EUA com o intuito de aperfeiçoar o inglês. “Tão logo voltei ao Brasil, fiz estágio em uma multinacional francesa após ter ficado em 1º lugar no processo seletivo que contou com mais de 300 candidatos”, conta. Detalhe: começava ali sua relação com o setor de energia.
Voos mais altos
Como estagiário, teve a primeira oportunidade de atuar no ramo que seria sua grande paixão e missão de vida. No cargo de aprendiz, ajudou a desenvolver um projeto, do design à execução, oferecendo ao mercado de medição energética uma solução, até então, desconhecida de leitura remota. O feito não só rendeu a Kenji a tão sonhada promoção – ele finalmente estava se tornando o tal cara da revista de negócios -, como o fez avançar ainda mais. “Viajei para diversos países a fim de desenvolver e implementar projetos pilotos, participei do lançamento de um produto na América Latina e comecei a perceber que estava no caminho certo”. A partir disso, a experiência não parou mais de crescer, uma vez que acabou sendo requisitado em virtude de outras iniciativas inovadoras que precisavam do seu conhecimento para sair do papel. “Fui chamado para montar a primeira fábrica de smart cards do país, tecnologia voltada a cartões com chip para celulares, e de lá para cá, os desafios só aumentaram”, lembra.
Na ânsia de querer sempre mais, Kenji começou a cuidar dos processos de ponta a ponta, incluindo as dificuldades trazidas pelos operadores e demais departamentos da produção. Eis que nasceu o Kenji empreendedor, logo após bater o recorde mundial em termos de perdas nesse tipo de operação e reorganizar plantas fabris, mundo afora.
Empreender: destino certo
Como nem tudo são flores, a cobrança pelo desempenho extraordinário, uma característica inerente à atuação de Kenji, o frustrou em alguns momentos – como durante os dois anos em que esteve no México. Passado o período turbulento em terras mexicanas, o executivo optou por se dedicar à empresa fundada pelo pai, descobrindo algo inédito: as dificuldades de administrar uma empresa familiar. No entanto, a fase serviu justamente para o desenvolvimento de novas competências, tais como contabilidade, finanças e gerenciamento de crises e conflitos. Durante a empreitada, sentia que se fortalecia e, sobretudo, resiliente.
Nessas idas e vindas da carreira, o reencontro com um colega de MBA que havia morado na China, Kenji viu a oportunidade de realizar projetos de eficiência energética utilizando lâmpadas de LED. Para dar conta do aumento de demanda, precisei contratar um estagiário, assim abri o CNPJ da Eletron Energia. Foram muitos desafios de uma empresa nova que inicia sem capital, com direito a caixa reduzido e uma pandemia, para que finalmente a empresa se consolidasse no ramo de Eficiencia Energética, chegando, inclusive, ao mercado de capitais – sendo a quarta empresa brasileira e a primeira da região sul a ser listada na plataforma BEE4, o primeiro mercado regulado de ações tokenizadas do país para Pequenas e Médias Empresas (PMEs). “Assim como quando nos tornamos uma S.A. final de 2019, chamamos a EY (Bigfour) para nos auditar e vimos muitas portas se abrir, não tenho certeza de quantas irão se abrir ao ingressar no mercado de capitais, mas queremos estar preparados para aproveitar todas as oportunidades”, finaliza.