Levantamento aponta aumento de 32% nas inscrições de crianças na fila de transplante de córnea no primeiro trimestre do ano.
As mudanças climáticas estão aumentando a prevalência de alergias no mundo. Dados da OMS (Organização Mundial da Saúde) mostram que hoje 40% da população global sofre com alergia alimentar, nos olhos, vias respiratórias e pele. Pior: Em 2050 a OMS prevê que metade da população vai ter algum tipo de alergia.
Segundo o oftalmologista Leôncio Queiroz Neto do Instituto Penido Burnier de Campinas que também faz parte do CBO (Conselho Brasileiro de Oftalmologia) o hábito de coçar os olhos predispõe ao ceratocone, maior causa de transplante córnea. Neste mês acontece a campanha Junho Violeta que alerta a população sobre os sinais e tratamentos para esta condição.
Levantamento do hospital nos relatórios da ABTO (Associação Brasileira de Transplante de Órgãos) indica que o número de crianças inscritas na fila teve um aumento de 32% no primeiro trimestre do ano em relação ao mesmo período do ano passado. Passou de 106 para 140 este ano.
Para Queiroz Neto estes dados alertam para a falta de acompanhamento da saúde ocular na infância. Isso porque o ceratocone progride mais rápido na infância. O olho é o órgão mais afetado pelas mudanças climáticas e alergias, salienta. Isso porque, é um órgão externo que está em contato direto com poluentes que agridem a córnea, lente do olho que responde por 60% de nossa refração. O especialista explica que a córnea fica na frente do olho e tem formato esférico que se torna cônico conforme o ceratocone progride. O hábito de coçar os olhos acelera este processo, fazendo com que as imagens fiquem desfocadas para perto e longe.
Sinais do ceratocone
O oftalmologista ressalta que os principais sinais do ceratocone são:
- Queda no rendimento escolar;
- Troca frequente do grau dos óculos;
- Visão de halos noturnos;
- Aversão à luz do sol, maior fadiga visual e olhos irritados:
- Coçar ou esfregar os olhos com frequência;
- Olhos vermelhos mesmo quando não coça.
Diagnóstico
O diagnóstico precoce é feito a através da tomografia. O exame, explica, avalia as duas faces da córnea. Por isso, permite detectar a doença antes de aparecerem alterações na curvatura externa e os primeiros sintomas.
Colírios
Queiroz Neto afirma que não adianta dizer para um pessoa com ceratocone não coçar os olhos. Isso porque, as fibras de colágeno da córnea são frouxas e causam coceira. Para controlar este desconforto os colírios indicados são:
- Anti-histamínico que reduz a coceira e lacrimejamento, bloqueando a histamina. O alívio pode duram apenas algumas horas;
- Colírios com corticosteroide indicado para coceira severa, mas por um curto espaço de tempo porque o uso contínuo pode causar catarata e glaucoma;
- Estabilizador de mastócito que bloqueia a histamina e outras substâncias. Pode ser usado por tempo prolongado;
- Colírio de dupla ação que combina anti-histamínico e estabilizador de mastócito, uma opção eficaz que pode ser usada a longo prazo.
Tratamentos
O oftalmologista afirma que na fase inicial a visão é corrigida com óculos, mas conforme o ceratocone progride só é possível corrigir a visão com lentes rígidas.
O crosslinking, ressalta é o único tratamento que interrompe a progressão do ceratocone. “Consiste no aumento da resistência das fibras de colágeno da córnea em até 3 vezes, através da aplicação de vitamina B2 (riboflavina), associada à radiação ultravioleta”. afirma. Queiroz Neto ressalta que cirurgia só pode ser feita quando a córnea tem espessura mínima de 400 micras. Em pacientes jovens, observa, o crosslinking pode também melhorar a acuidade visual.
Implante de anel intraestromal é colocado entre as camadas da córnea para aplanar o formato e melhorar a acuidade visual para evitar o transplante.
Lente de contato escleral O especialista ressalta que este tipo de lente que se apoia na esclera, invés de se apoiar na borda da córnea, e também diminuiu a indicação de transplantes por ser mais confortável que adaptação às lentes de contato. “Também é muito comum o conforto da lente escleral evitar o retransplante em quem já passou pelo enxerto de córnea e permanecem com alto grau de astigmatismo. Muitos pacientes afirmam que não sentem esta lente nos olhos”, finaliza.