Uma pesquisa realizada pela HSR Health, em parceria com o Grupo de Trabalho de Dados do Movimento Todos Juntos Contra o Câncer, ouviu 979 pessoas sobre o cigarro eletrônico. A sondagem foi realizada no mês de abril, quando a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) decidiu manter a proibição de fabricar, importar, comercializar, distribuir, armazenar e transportar, e a propaganda de todos os dispositivos eletrônicos para fumar.
Entre os participantes, 54% eram homens, 60% tinham de 25 a 44 anos, 63% pertenciam à classe AB e 56% estavam empregados.
Segundo o levantamento, 89% já ouviram falar de cigarro eletrônico, 18% já usaram e 3% usam atualmente, especialmente jovens de 16 a 24, da classe AB. Para comparação, o percentual total de fumantes com 18 anos ou mais no Brasil é de 9,3%, de acordo com o Ministério da Saúde.
De maneira geral, os entrevistados associam o uso dos dispositivos a doenças respiratórias graves, câncer, lesões pulmonares, e problemas cardiovasculares. Porém, esta percepção é maior entre aqueles que nunca utilizaram os vapes.
A pesquisa também avaliou algumas determinantes para o uso do cigarro eletrônico, com itens comportamentais e de conhecimento sobre efeitos adversos. Os entrevistados usuários dos dispositivos se autodescrevem como tecnológicos e sofisticados, e não fazem associação a doenças pulmonares e outros riscos, como o mal funcionamento dos vapes.
“O uso de cigarros eletrônicos, hoje muito associado ao público jovem, é alarmante. Isso porque a falta de conhecimento faz com que muitos entendam que estes dispositivos não são perigosos, afinal são mais “atrativos” e “cheirosos” que o cigarro tradicional. Mas isso não é verdade. O líquido inalado contém nicotina e outras substâncias tóxicas que causam dependência e danos à saúde pulmonar e cardiovascular. Por isso, é urgente a disseminação de informações e, principalmente, regulamentações mais rígidas, para que estes dispositivos não sejam vendidos e usados livremente, como vem acontecendo no país”, diz Dra. Catherine Moura, médica sanitarista e líder do Movimento TJCC.
Uma segunda fase da pesquisa será realizada em breve para entender melhor o comportamento dos usuários do cigarro eletrônico.
“Na época das propagandas de cigarro, havia discursos de liberdade, virilidade, elegância etc. Hoje, o gadget eletrônico é silencioso, não faz propaganda, o uso se dá por “indicação”. Sem conhecer a origem e fabricante, o vaper transita entre o sofisticado/tecnológico ao ilegal, tóxico. Ainda há muito para se investigar sobre o perfil atitudinal dos adeptos” diz Bruno Mattos, da HSR Health.
OMS destaca ações da indústria do tabaco para “conquistar” os jovens
A Organização Mundial da Saúde (OMS) lançou um alerta para proteger as crianças da interferência da indústria do tabaco.
Um relatório da entidade revela que em diversos países os jovens utilizam mais os cigarros eletrônicos do que os adultos.
O documento mostra que “cerca de 37 milhões de crianças com idades entre 13 e 15 anos usam tabaco e, em muitos locais, a taxa de consumo de cigarros eletrônicos entre os adolescentes excede a dos adultos”. Na Região Europeia da OMS, por exemplo, 20% dos jovens de 15 anos entrevistados relataram ter utilizado os dispositivos.
Para a Organização, os cigarros eletrônicos (…) representam uma grave ameaça para os jovens e para o controlo do tabaco. “Estudos demonstram que o uso de cigarros eletrônicos aumenta em quase três vezes o uso de cigarros convencionais, especialmente entre jovens não fumantes”.