Protozoário que atingiu córnea de estudante está presente na água e por isso não é recomendado tomar banho usando lentes de contato
A estudante Lara Brandão Tironi, de 18 anos, chamou atenção nas redes sociais ao compartilhar sua história sobre a perda total da visão de um dos olhos devido ao mau uso de lentes de contato. Lara desenvolveu uma infecção ocular rara, conhecida como ceratite amebiana, provocada por um protozoário presente na água e no solo, a acanthamoeba.
“Eu tinha o costume de ficar coçando o olho, o que me causou uma laceração na córnea. Também tomei banho usando as lentes. Como o protozoário que causa a ceratite está presente na água, ele infectou meu olho”, explicou Lara em um dos vídeos publicados. A jovem agora aguarda na fila do transplante de córnea, na tentativa de recuperar, pelo menos parcialmente, a visão.
A ceratite amebiana é uma infecção grave que pode ocorrer em pessoas que utilizam lentes de contato e têm hábitos inadequados de higiene. O oftalmologista Leon Grupenmacher, do Eco Medical Center, destaca a importância de cuidados rigorosos no uso de lentes. “A grande maioria das pessoas que usam lentes de contato utilizam as gelatinosas descartáveis. Seja descartável ou não, o perigo é o mesmo. As lentes não devem ter contato com água do mar, piscina ou chuveiro, pois a água pode alojar micro-organismos entre a córnea e a lente, criando um ambiente propício para infecções graves”, explicou o médico.
O Dr. Grupenmacher enfatiza que a ceratite amebiana é difícil de diagnosticar e requer tratamento agressivo. “O protozoário encontra na lente um local aquecido e alimentado pelas próprias bactérias presentes no olho, proliferando rapidamente. O diagnóstico não pode ser demorado, pois muitos pacientes acabam perdendo a visão”, alertou.
E em casos de infecção, o tratamento começa com a retirada imediata da lente. Depois é preciso fazer um exame laboratorial, para determinar qual é o “bicho” que está causando o problema. Em seguida, explica o médico, o paciente vai precisar de um colírio que, na maioria das vezes, não está disponível na rede hospitalar e precisa ser manipulado.
Lesões e transplante de córnea
No Brasil, não há dados específicos sobre lesões de córnea causadas pelo mau uso de lentes de contato. No entanto, a gravidade das infecções e as consequências, como a necessidade de transplante de córnea, são conhecidas. Segundo dados do Conselho Brasileiro de Oftalmologia, o Brasil realizou 16.027 transplantes de córnea em 2023, superando os números pré-pandemia. Em 2024, foram realizados 8.369 transplantes até 9 de julho. O estado que mais fez cirurgias foi São Paulo (2.741 transplantes), seguido de Paraná (653) e Ceará (652).
O Dr. Grupenmacher recomenda medidas essenciais para evitar complicações: “É fundamental limpar bem as mãos antes de manusear as lentes, armazená-las adequadamente e nunca utilizá-las durante o banho ou ao nadar. Além disso, não se deve dormir com as lentes, pois isso diminui a oxigenação da córnea e aumenta os riscos de infecção”.
No Brasil, 28.943 pessoas estão na fila, aguardando por transplante de córnea, algo que pode devolver, total ou parcialmente, a visão. Cada paciente desenvolve uma recuperação de forma única. É crucial que os usuários de lentes de contato sigam rigorosamente as orientações de uso e higiene para evitar infecções que possam comprometer a visão de forma permanente.
Cuidados essenciais com lentes de contato
– Higiene das mãos: Lave sempre as mãos com água e sabão antes de manusear as lentes.
– Armazenamento adequado: Utilize soluções específicas para limpeza e armazenamento das lentes, conforme orientação do fabricante.
– Evitar água: Não use lentes de contato durante o banho, ao nadar ou ao entrar em contato com qualquer tipo de água.
– Não dormir com lentes: Retire as lentes antes de dormir para evitar a redução da oxigenação da córnea.
– Troca regular: Substitua as lentes e a caixinha de armazenamento conforme o prazo recomendado pelo fabricante para evitar acúmulo de resíduos e microorganismos.
Seguir essas recomendações simples pode prevenir infecções graves e ajudar a garantir a saúde ocular dos usuários de lentes de contato.