Você provavelmente já utilizou a robótica em algum momento do seu dia, seja por meio de assistentes pessoais, automação da energia elétrica ou até mesmo com um robô aspirador para limpeza da casa. No contexto educacional, a robótica tem a capacidade de revolucionar a maneira como os estudantes aprendem e interagem com a tecnologia. Além disso, ela promove o desenvolvimento de habilidades essenciais para a vida, como criatividade, pensamento crítico, colaboração e resolução de problemas.
Com essa visão, muitas escolas brasileiras estão integrando a robótica nas grades curriculares, proporcionando uma aprendizagem mais envolvente, prática e significativa. Embora a educação robótica esteja crescendo de forma mais expressiva nas escolas particulares, o movimento também vem ganhando espaço no ensino público, principalmente com a implementação da Política Nacional de Educação Digital, que visa melhorar a infraestrutura digital nas escolas públicas. Iniciativas privadas e parcerias com empresas desempenham um papel crucial na promoção de uma educação mais inclusiva e tecnológica em todo o país.
Geração Z e a robótica
Nascida entre meados dos anos 1990 e o início dos anos 2010, a Geração Z cresceu em um mundo repleto de tecnologias avançadas e acesso à internet. Esta geração, também conhecida como “nativos digitais”, tem uma afinidade natural com a tecnologia, incluindo a robótica. A relação entre elas é multifacetada, abrangendo educação, entretenimento e oportunidades de carreira.
Com o avanço contínuo da tecnologia, essa geração será fundamental na criação e implementação de soluções robóticas que impactarão diversos setores, desde saúde e transporte até entretenimento e educação. As escolas já estão preparando os alunos desta geração para o futuro.
Gigantismo da robótica no ensino
O professor Gelson Kaul, do Colégio Passo Certo, em Cascavel (PR), exalta o impacto significativo da robótica no ensino. Ao contrário de algumas afirmações que tratam o assunto apenas como uma nova “moda” nas escolas, ele assegura que a robótica é uma das poucas áreas capazes de construir interdisciplinaridade com qualquer outro campo de estudo. “É uma ferramenta educacional poderosa para abordar conteúdos tradicionais, engajando alunos que de outra forma considerariam o assunto chato e desmotivante”, pontua. O professor explica que disciplinas como História, Matemática, Química, Física, linguagens ou qualquer outra área podem ser desenvolvidas no âmbito da robótica.
De acordo com Kaul, a idade para começar com noções de robótica depende do enfoque prático dado às aulas, mas ele sugere iniciar atividades a partir dos 7 anos, pois as crianças já têm a coordenação motora adequada para trabalhar com kits e ferramentas na construção de dispositivos. “Fundamentos de programação, mecânica e eletrônica são o cerne de um bom projeto educacional em robótica. Eles permitem que estudantes explorem as possibilidades que essas tecnologias oferecem para inovação e desenvolvimento de habilidades técnicas e criativas”, acentua. Nas séries iniciais, os trabalhos em robótica são importantes para que as crianças conheçam as boas práticas na aplicação de materiais com eficiência e sustentabilidade.
Kaul afirma que a formação de um portfólio de habilidades em tecnologia e inovação é capaz de desenvolver a criatividade dos alunos e observa que essas habilidades devem ser abordadas em duas frentes. A primeira envolve práticas construtivas, na qual os alunos devem aprender a utilizar diversas ferramentas. “Isso inclui tanto as mais comuns, como alicates, chaves, serras e outros equipamentos manuais, quanto as novas ferramentas digitais de produção, como máquinas de corte a laser e impressoras 3D”, ressalta.
A segunda frente, segundo o professor, é o desenvolvimento de uma compreensão clara do método científico. Isso abrange o aprendizado de como registrar projetos de forma organizada, além de como coletar e analisar dados de um problema para tirar conclusões e propor novas soluções. “Integrar essas habilidades no currículo escolar é essencial para preparar os alunos para um futuro em que a tecnologia e a inovação são cada vez mais importantes”, destaca.
Aulas de robótica
As aulas de robótica no Colégio Passo Certo vão muito além da simples montagem de peças e kits. “A proposta é pesquisar, planejar e experimentar dispositivos e processos que controlem ações do mundo físico e, de quebra, conhecer de perto as tecnologias disponíveis para resolver os problemas do dia a dia e garantir o conforto das atividades rotineiras. E, claro, tudo isso com muita diversão”, explica.
O professor destaca que outro aspecto importante das aulas de robótica refere-se à parceria na organização dos grupos de trabalho, nos quais os alunos desenvolvem a interação social e a capacidade de apresentar suas ideias, tanto durante as aulas quanto em feiras de robótica e eventos externos, como competições regionais e olimpíadas. “São momentos para testar habilidades e ficar por dentro do que vem sendo realizado nesta área no Brasil e no mundo.”
Caminho certo
Um exemplo de que a escola está no caminho certo é o aluno João Vitor Ziliotto Bertesina, de 13 anos, da 8,ª série. Ele tem se destacado em competições de robótica, acumulando uma impressionante lista de conquistas em sua jornada no mundo da tecnologia, sob a mentoria do professor Kaul.
O jovem ficou em primeiro lugar no Desafio CEEP de Robótica Robô Arena Bluetooth Infantil, em Cascavel, e nas categorias Infantil e Juvenil no Pig Data, evento de Inovação e Tecnologia em Toledo. Além disso, conquistou o segundo lugar na Technovação, uma feira promovida pelo Parque Tecnológico de Agroinovação de Cascavel, e o segundo lugar na Batalha de Robôs Passo Certo. Este ano, foi convidado a integrar a equipe Hefestus da UTFPR em uma competição nacional, o RCX RoboCore Experience, que acontecerá durante a Campus Party Brasil, em São Paulo, no mês de julho.
“A preparação do João Vitor é detalhista, construindo e ajustando seus robôs com antecedência para garantir um desempenho impecável nas batalhas, e se destaca na construção e programação de robôs de combate, comandados via bluetooth e via rádio”, conta o professor. Ele lembra que João Vitor iniciou as aulas de robótica prática logo após a pandemia e, rapidamente, se sobressaiu pela curiosidade e persistência diante dos desafios construtivos que o desenvolvimento de um robô de competição apresenta.
Além das competições, João Vitor se envolve em outros projetos relacionados à robótica, como concursos de redação e mostras de inovação e empreendedorismo. Quanto ao futuro, o estudante planeja continuar competindo em âmbito nacional e sonha em formar uma equipe qualificada para participar do maior evento mundial de robótica, nos Estados Unidos.