O aumento da expectativa de vida e o envelhecimento da população brasileira impõem novos desafios para a saúde, especialmente em relação à qualidade de vida na terceira idade. Dados recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indicam que a expectativa de vida no Brasil chegou a 76,4 anos, e a projeção é de que o número de idosos continue crescendo nas próximas décadas. Esse cenário torna urgente a adoção de ações de promoção e prevenção em saúde, especialmente aquelas que garantam a preservação da comunicação, audição e deglutição — funções diretamente relacionadas à autonomia e bem-estar dos idosos.
A Fonoaudiologia, ciência dedicada à prevenção, diagnóstico e tratamento de distúrbios da comunicação, audição e deglutição, exerce um papel fundamental nesse contexto. Segundo a fonoaudióloga Márcia Celine de Luca, especialista do CREFONO3, o envelhecimento pode trazer consigo uma série de desafios que afetam a qualidade de vida dos idosos, como a presbifonia (alteração da voz decorrente da idade), perda auditiva e disfagia (dificuldade de deglutição). “As ações de prevenção são sempre as melhores opções para manter a saúde e a autonomia dos idosos. Cuidados contínuos com a saúde vocal, auditiva e da deglutição são essenciais para garantir uma longevidade saudável”, destaca Márcia.
O envelhecimento natural do corpo humano afeta diversas áreas, incluindo a capacidade de comunicação e alimentação. Entre os distúrbios mais comuns, estão:
Presbiacusia: é a perda auditiva relacionada ao envelhecimento. Segundo o Ministério da Saúde, aproximadamente 40% dos brasileiros com mais de 65 anos apresentam algum grau de perda auditiva. Isso impacta diretamente a capacidade de comunicação, dificultando interações sociais e aumentando o risco de isolamento e depressão. “Um dos maiores desafios para os idosos é reconhecer que estão perdendo a audição e procurar ajuda”, explica a fonoaudióloga.
Disfagia: a dificuldade para engolir alimentos ou líquidos é outro problema comum entre os idosos. A disfagia pode causar engasgos, tosse frequente durante a alimentação e até desnutrição, caso não seja tratada adequadamente. De acordo com a Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, cerca de 20% dos idosos sofrem com esse distúrbio. A intervenção fonoaudiológica pode ajudar a reabilitar a função de deglutição, prevenindo complicações graves como pneumonias aspirativas.
Distúrbios de voz: a presbifonia, ou voz senil, é caracterizada por uma rouquidão progressiva e cansaço vocal. Com o envelhecimento, as cordas vocais perdem elasticidade, o que pode tornar a voz mais fraca. O tratamento fonoaudiológico, por meio de exercícios vocais específicos, pode ajudar a preservar a qualidade da voz e a capacidade de comunicação dos idosos.
Demência e perda de memória: o declínio cognitivo, associado a doenças como o Alzheimer, também interfere na comunicação. Pacientes com demência muitas vezes têm dificuldade para encontrar palavras, compreender mensagens e se expressar. A fonoaudiologia desempenha um papel importante no treinamento de habilidades de linguagem e memória, auxiliando na manutenção da funcionalidade e da independência por mais tempo.
O impacto positivo da Fonoaudiologia
O acompanhamento fonoaudiológico regular pode trazer inúmeros benefícios para a população idosa. Além de tratar os distúrbios mencionados, a fonoaudiologia tem como objetivo melhorar a qualidade de vida, promover a inclusão social e fortalecer a autoestima. “Manter a capacidade de se comunicar é fundamental para que o idoso se sinta integrado à sociedade e mantenha sua autonomia”, afirma Márcia Celine de Luca.
Segundo a Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia (SBFa), a atuação do fonoaudiólogo em conjunto com outros profissionais da saúde, como médicos geriatras e fisioterapeutas, é essencial para garantir uma abordagem multidisciplinar e eficiente no cuidado ao idoso. A prevenção de complicações através da reabilitação precoce de distúrbios auditivos, deglutitórios e vocais pode aumentar significativamente a qualidade de vida na terceira idade.
A especialista Márcia Celine de Luca orienta que, para manter a saúde vocal, auditiva e deglutitória, algumas práticas simples podem ser adotadas no dia a dia:
Manter a hidratação: a água é fundamental para a saúde das cordas vocais e auxilia na deglutição.
Evitar ambientes ruidosos: exposição constante a ruídos pode acelerar a perda auditiva. Usar proteção auditiva quando necessário é uma boa prática.
Exercícios vocais e auditivos: realizar exercícios orientados por um fonoaudiólogo pode ajudar a manter a flexibilidade vocal e auditiva.
Prestar atenção aos sinais: rouquidão persistente, tosse frequente ao se alimentar, dificuldade em ouvir sons ou entender conversas são sinais de que algo não está bem. Nesses casos, é essencial procurar ajuda profissional.
O envelhecimento populacional é uma realidade que exige uma maior conscientização sobre os cuidados com a saúde, principalmente em áreas que impactam diretamente a qualidade de vida e a autonomia dos indivíduos. A fonoaudiologia é uma aliada essencial nesse processo, ajudando a promover uma longevidade saudável e ativa.