O câncer de mama continua a preocupar as mulheres brasileiras, e a preocupação se justifica, pois, o Instituto Nacional do câncer (INCA) estima 73.610 novos casos desse tipo de câncer para o triênio 2023-2025. De acordo com o Panorama do Câncer de Mama, painel interativo aberto a médicos, gestores e sociedade civil que reúne informações sobre o Sistema Único de Saúde (SUS), em 2022 foram registrados mais de 19 mil óbitos por este tipo de neoplasma maligno. Portanto, campanha como o Outubro Rosa, já tradicional, é muito bem-vinda. “Entretanto, isolada, de nada adianta. O que acontece, por exemplo, se a paciente assiste a um chamado da campanha, vai ao posto de saúde e, chegando lá, não consegue ser atendida ou quando consegue não tem acesso aos exames?” observa o oncologista clínico Antônio Orlando Scalabrini Neto, do Hospital das Clínicas da UFMG e do Grupo Oncoclínicas, ao destacar que “somente com um diagnóstico precoce será possível a abordagem cirúrgica da doença, fato determinante da cura”.
O câncer de mama é um tipo de câncer ou uma neoplasia maligna que se origina na maioria das células mamárias dos ductos lactíferos. Pode afetar tanto mulheres quanto homens, embora seja muito mais comum em mulheres, explica o oncologista clínico. “Sabemos, contudo, que o diagnóstico está intimamente ligado a prevalência do câncer e também a exames realizados. A mortalidade de um câncer está ligada à sua capacidade de disseminação, bem como a sua taxa de replicação celular, ambas extremamente elevadas no carcinoma mamário”.
Diagnóstico precoce – Dr. Antônio Orlando Scalabrini ressalta que o diagnóstico precoce é feito principalmente com o autoexame das mamas, em que mulheres são incentivadas a fazê-lo mensalmente, para verificar mudanças nas mamas, como nódulos, alterações na pele ou no formato. É uma forma de detecção inicial. “Temos também a mamografia, que é um exame de imagem que utiliza raios-X para detectar alterações nas mamas, muitas vezes antes que um nódulo possa ser sentido sendo recomendado anualmente para mulheres a partir dos 40 anos, ou antes, se houver histórico familiar; bem como a ultrassonografia mamária, que utiliza ondas sonoras para criar imagens das mamas e que pode ser usada como complemento à mamografia, especialmente em mulheres com mamas densas.”
De acordo com o especialista, a incidência da doença aumenta significativamente após os 40 anos, sendo mais comum entre os 60 e 70 anos. As razões para essa faixa etária predominante incluem: a idade, pois as células mamárias passam por mais ciclos de divisão ao longo da vida, o que pode aumentar as chances de mutações; alterações hormonais – fatores hormonais, como os relacionados à menstruação e à menopausa, desempenham um papel importante; a exposição prolongada a hormônios como o estrogênio; fatores genéticos, pois mulheres com histórico familiar de câncer de mama ou mutações genéticas (como BRCA1 e BRCA2) têm maior probabilidade de desenvolver a doença em idades adulta; e estilo de vida – fatores como alimentação, atividade física e hábitos de vida tendem a impactar a saúde ao longo do tempo, podendo influenciar a incidência do câncer à medida que as mulheres envelhecem.
Mulheres mais jovens e câncer de mama – De acordo com o Dr. Scalabrini, mulheres mais jovens têm atualmente um significativo aumento nos diagnósticos de câncer de mama, o que pode ser atribuído a fatores Genéticos – algumas mulheres mais jovens podem ter mutações genéticas hereditárias, que aumentam o risco de desenvolver câncer de mama em idades mais precoces; estilo de vida e fatores ambientais – hábitos como dieta inadequada, sedentarismo, consumo de álcool e obesidade podem contribuir para o risco de câncer.
Além deles, outros fatores também têm se tornado mais comuns entre as gerações mais jovens, como exposição a hormônios – métodos contraceptivos hormonais e terapias de reposição hormonal podem estar associados a um risco ligeiramente maior, embora a relação ainda esteja sendo estudada; estresse e saúde mental – o estresse elevado e os problemas de saúde mental podem afetar a saúde física e, possivelmente, aumentar o risco; detecção precoce – com o aumento da conscientização e das campanhas de rastreamento, mais mulheres jovens estão realizando exames de mamografia ou autoexames, levando a diagnósticos em estágios mais iniciais; mudanças nos hábitos de reprodução – o adiamento da maternidade e o aumento da prevalência de não ter filhos também têm sido associados a um maior risco de câncer de mama.
Embora o câncer de mama em mulheres jovens seja menos comum, acrescenta o médico, ele tende a ser mais agressivo quando ocorre.
Sintomas – Os sintomas do câncer de mama podem variar, mas alguns dos sinais mais comuns incluem: nódulos ou caroços (geralmente indolores); mudanças no tamanho, forma ou contorno da mama; alterações na pele da mama – ela pode apresentar rugas, engrossamento, ou até mesmo inchaços semelhantes à casca de laranja; alterações no mamilo – projeção ou inversão do mamilo, ou qualquer alteração na pele do mamilo, como descamação ou secreção, devem ser observadas.
Dor ou Sensibilidade – Embora muitas vezes o câncer de mama não cause dor, algumas mulheres podem sentir desconforto ou dor na mama ou na região mamária. Outro ponto a ser observado é a possibilidade de secreção do mamilo, que pode ser clara, sanguínea ou de outras cores; bem como inchaço ou nódulos nas axilas ou nas regiões próximas da mama, sendo esta característica um indicativo de que o câncer se espalhou.
Prevenção – “Embora não haja uma maneira garantida de prevenir o câncer de mama, existem várias estratégias que podem ajudar a reduzir o risco”, observa o oncologista clínico, sendo importante, assim, manter um peso saudável – o excesso de peso, especialmente após a menopausa, está associado a um maior risco de câncer de mama; praticar exercícios físicos – a atividade física regular pode ajudar a manter um peso saudável e também está ligada a um menor risco de câncer; alimentação saudável – uma dieta rica em frutas, vegetais, grãos integrais e proteínas magras pode contribuir para a saúde geral e ajudar a reduzir o risco; limitar o consumo de álcool – o consumo excessivo de álcool está associado a um risco aumentado de câncer de mama. A recomendação é limitar a ingestão a uma bebida por dia ou menos; não fumar – o tabagismo está ligado a várias formas de câncer, incluindo o câncer de mama. Parar de fumar pode melhorar a saúde em geral; e realizar os exames indicados das mamas. Eles podem ajudar a detectar o câncer em estágios iniciais, quando é mais tratável.
O Dr. Scalabrini ressalta ainda que conhecer o histórico familiar – se você tem algum familiar que teve ou tem câncer de mama, pode ser útil discutir com um médico sobre estratégias de monitoramento e prevenção; amamentação – tem sido associada a um risco reduzido de câncer de mama, especialmente se mantida por vários meses; limitar o uso de terapias hormonais – o uso de terapia de reposição hormonal durante a menopausa deve ser discutido com um médico, pois pode aumentar o risco de câncer de mama em algumas mulheres.
Avanços no tratamento – Nos últimos anos, houve avanços significativos no tratamento do câncer de mama, melhorando as opções disponíveis e a qualidade de vida das pacientes. Entre esses avanços, o Dr. Antônio Orlando cita os seguintes:
- Terapias Alvo – O desenvolvimento de medicamentos que visam especificamente as células cancerosas, como inibidores da HER2, por exemplo, trastuzumabe, e terapias que atacam as mutações genéticas, como o PARP inibidor para tumores com mutações BRCA);
- Imunoterapia – Essa abordagem estimula o sistema imunológico a reconhecer e combater células cancerosas. A imunoterapia está mostrando resultados promissores em alguns subtipos de câncer de mama, como os triplo-negativos;
- Radioterapia – Novas técnicas de radioterapia, como a radioterapia hipofracionada, permitem doses mais altas em menos tempo, resultando em menos sessões e menos efeitos colaterais;
- Medicina de precisão – A quimioterapia está se tornando mais personalizada, com testes genéticos que ajudam a identificar a melhor a combinação de medicamentos para cada paciente;
- Novos medicamentos – O desenvolvimento de novas formulações e combinações de medicamentos tem melhorado a eficácia e reduzido os efeitos colaterais;
- Tratamentos neoadjuvantes – A quimioterapia, a terapia hormonal e a imunoterapia antes da cirurgia podem ajudar a reduzir o tamanho do tumor e aumentar as opções cirúrgicas; Cirurgias menos invasivas – Avanços nas técnicas cirúrgicas têm permitido abordagens menos invasivas, como a mastectomia conservadora, bem como o uso de técnicas como a cirurgia guiada por imagem;
- Suporte psicológico e cuidados paliativos – O reconhecimento da importância do apoio emocional e psicológico para pacientes com câncer tem levado a melhoras nos cuidados paliativos, promovendo uma melhor qualidade de vida;
- Pesquisas em andamento – A pesquisa está sempre avançando, com ensaios clínicos em andamento, testando novas terapias e combinações, o que promete mais avanços no futuro.