O que podemos aprender com a China?

Acedriana Vogel

Quando me perguntam se รฉ possรญvel aplicar na educaรงรฃo brasileira prรกticas bem-sucedidas de paรญses com melhores resultados educacionais que o Brasil, costumo responder – para surpresa do interlocutor – com uma afirmaรงรฃo e uma negativa. Essa conjunรงรฃo de โ€˜sim e nรฃoโ€™ รฉ a resposta mais honesta porque, em primeiro lugar, รฉ preciso entender que a cultura de alguns paรญses que lideram o ranking do Pisa – o teste de qualidade educacional mais relevante da atualidade em todo o mundo – รฉ muito diferente da nossa. E a educaรงรฃo de um paรญs รฉ reflexo de sua cultura, sua histรณria e, principalmente, suas expectativas quanto ao futuro. Quando avanรงamos um pouco mais nessa reflexรฃo, vemos que os paรญses asiรกticos estรฃo entre as principais naรงรตes quando se trata de resultados nessa รกrea. Apesar disso, mesmo nรฃo sendo possรญvel copiar o modelo educacional, podemos sim, adaptar algumas prรกticas, testar em pequena escala e, se bem-sucedidas, implantar de maneira mais ampla.

Eu tive a oportunidade de conhecer alguns dos sistemas de ensino de paรญses com resultados acima da mรฉdia mundial. E por tudo o que vi, acredito que a China vai dominar o mundo. Por quรช? Basicamente, porque eles conseguem ser felizes na escola, alรฉm de estudar. Se nรฃo bastasse, veem sentido no estudo para a melhoria do seu paรญs: querem aprender para, uma vez aprendido, fazer melhor. E isso รฉ algo que a China estรก sabendo colocar em prรกtica muito bem: aprender com os demais para, depois, assumir a lideranรงa. Os chineses olharam para fora, aprenderam, e hoje estรฃo fazendo melhor muitas coisas. A China nรฃo se constrange por copiar para melhorar o que deu certo fora de suas fronteiras.

Essa atitude de se colocar como aprendiz รฉ algo que a China executa com excelรชncia. Basta ver a determinaรงรฃo com que os jovens chineses enfrentam a maratona de estudos prรฉ-universitรกrios. Jovens de 15 e 16 anos, em sua grande maioria, priorizam nessa etapa da vida: se preparar para o temรญvel Gao Kao, o exame que define o acesso ร s melhores faculdades. Essa expectativa รฉ compartilhada por toda a famรญlia e levada tรฃo a sรฉrio que รฉ muito comum ver pais e avรณs trabalhando arduamente para oferecer a filhos e netos as melhores condiรงรตes de estudo possรญveis. Esse รฉ considerado o momento mais importante da vida de um chinรชs. Nรฃo รฉ ร  toa que as principais universidades americanas – como Stanford e Massachusetts Institute of Technology – estabelecem limite de vagas para os chineses, sob pena de comprometer as vagas dos americanos.

O espรญrito cรญvico na China tambรฉm merece destaque. Percebe-se no povo, de forma muito acentuada, uma sensaรงรฃo de pertencimento ao seu paรญs, uma vontade de ajudar a mudar e melhorar a sua pรกtria. Vemos pelo mundo a fora โ€“ inclusive no Brasil – que os estudantes que vรฃo para outros paรญses nem sempre voltam ao tรฉrmino dos estudos. A maior parte dos estudantes chineses vรฃo, aprendem, e voltam, para converter esse aprendizado em favor do seu paรญs. Se queremos aprender algo com a China, podemos comeรงar por aรญ: desenvolver um gosto pelo Brasil que nos faรงa sentir responsรกveis pelas soluรงรตes dos principais desafios do nosso paรญs que habilitam a retomada do crescimento sustentรกvel e da dignidade do seu povo.

 

*Acedriana Vogel รฉ diretora pedagรณgica da Editora Positivo.

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