Indústria alimentícia passa por transformação digital

Em encontro de vários integrantes do setor de alimentos na sede da Associação Brasileira de Automação, ficou provado que a tecnologia vai mudar radicalmente a indústria e o consumidor

Hoje é o Dia Mundial da Alimentação e as tendências que mais vão causar impactos na sociedade daqui para frente nesse setor foram discutidas no debate promovido recentemente pela Associação Brasileira de Automação-GS1 Brasil. Representantes de toda a cadeia de alimentos – indústria, varejo, foodtechs e consumidor – cumpriram uma programação ampla de palestras para ampliar a visão do que há de mais novo na indústria alimentícia.

O Summit Alimentos, como foi chamado, teve como tema central o futuro dos alimentos. O momento do encontro foi oportuno pela necessidade da sociedade moderna em garantir a segurança alimentar – rastreabilidade – prevenir a escassez de alimentos, combater a obesidade, promover a sustentabilidade, atender novas demandas como o veganismo e resolver a carência de uma população que tem menos disponibilidade para se dedicar à cozinha. Agora, o conceito de food system impõe novas formas de a indústria aproveitar as oportunidades de mercado na forma de foodtechs, startups da área de alimentos, e agtechs, dedicadas ao agronegócio, que trazem inovações e modelos de negócios disruptivos apoiados nas tecnologias digitais. O summit contou com a presença de 140 profissionais de todo o food system. Para a head de Desenvolvimento Setorial da Associação Brasileira de Automação-GS1 Brasil, Ana Paula Maniero, “uma das grandes oportunidades do evento é conectar as empresas por meio do uso de padrões que garantem as melhores práticas, experiências e desafios”.

Os palestrantes apontaram tendências, exemplos práticos e reflexões para o futuro do setor de alimentos. Entre eles, Carlos Alexandre, da Gerência Geral de Toxicologia (GGTOX) da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que deu um panorama da aplicação da Instrução Normativa Conjunta INC nº 02/2018, que obriga produtores ou responsáveis pela venda de vegetais frescos a fazerem a rastreabilidade desses alimentos com informações padronizadas. Um dos principais objetivos da norma é assegurar ao consumidor produtos vegetais sem irregularidades no uso de agrotóxicos e contaminantes.

Nilson Gasconi, executivo de negócios da Associação Brasileira de Automação-GS1 Brasil, mostrou como a rastreabilidade pode transformar os negócios, com informações disponíveis em toda a cadeia de alimentos, desde a produção até o consumidor final com o apoio dos padrões globais GS1. Um processo de rastreabilidade automatizado e confiável traz vários benefícios como gerenciamento eficaz do fluxo de produtos, redução das perdas e desperdícios de alimentos, eficiência em recall’s e maior segurança no consumo dos produtos.

A fundadora e CEO da Builders e do Foodtech Movement, Ana Carolina Bajarunas, trouxe uma visão avançada e global com os principais números e tendências que ilustram a revolução em andamento em toda a cadeia de alimentos – do cultivo ao consumidor, que cada vez mais prioriza o bem-estar, a saúde e a sustentabilidade. No Brasil, o Foodtech Movement mapeou o ecossistema de foodtechs e desenvolve um trabalho para unir todo o setor e criar condições favoráveis ao desenvolvimento de novos negócios.

Sustentabilidade – Ana Paula Maniero, head de desenvolvimento setorial da GS1 Brasil, apresentou estudo da GS1 que destaca as megatendências que estão norteando os negócios, como rastreabilidade, segurança e privacidade de dados, sustentabilidade, personalização em massa e as tecnologias para atender a essas novas demandas – Internet das Coisas (IoT), Inteligência Artificial, Blockchain, realidade aumentada e virtual, sensores, biometria.

Já Luana Pinheiro, especialista em sustentabilidade com foco no cliente da TetraPak Brasil, teve foco na sustentabilidade e na economia circular de baixo carbono, ou seja, fontes renováveis, reciclagem e rastreabilidade. “Os brasileiros estão mais conscientes e tomando atitudes para preservar o meio ambiente, inclusive escolhendo comprar produtos sustentáveis.” Ariadne Caballero, head de agricultura digital LATAM da Syngenta, falou das oportunidades que a tecnologia promove na produção de alimentos no campo. Nos últimos anos, a Syngenta investiu em compra de várias agtechs para levar inovação à lavoura, além de apostar em ferramentas como robótica, analytics, big data e machine learning para analisar dados, conectando as necessidades do consumidor diretamente à produção no campo.

O Carrefour criou um programa global chamado “Art for Food” para impulsionar a venda de produtos sustentáveis. No Brasil, as principais frentes dessa iniciativa são a marca Sabor e Qualidade – apoiada nos pilares da sustentabilidade. Os itens desta marca têm a rastreabilidade baseadas em Blockchain. Para isso, a companhia desenvolveu uma plataforma em parceria com a Safe Trace que possibilita ter as informações mais seguras, invioláveis e compartilhadas com toda a cadeia – do campo ao consumidor.

A Nestlé apresentou resultados positivos da troca eletrônica de dados ou EDI (Electronic Data Interchange) com seus parceiros comerciais ao usar dados padronizados do Sistema GS1 como, por exemplo GTIN e GLN. Com isso, a empresa automatiza o envio de pedidos e expedição de mercadorias aos clientes, com mais rapidez e sem erros. A Vapza, por sua vez, teve o CEO Enrico Millani mostrando como direciona suas estratégias para produção e comercialização de produtos orgânicos e atuação omnichannel. Além disso, a Vapza aposta na rastreabilidade e em dados de qualidade, tanto que foi a primeira empresa no mundo a aderir ao sistema Verified by GS1, um banco de dados no qual as empresas podem cadastrar os produtos e identificá-los com atributos que podem ser verificados globalmente.

A empresa chilena NotCo – que tem o fundador e CEO da Amazon, Jeff Bezos, como investidor – tem a proposta de produzir alimentos à base de plantas utilizando inteligência artificial. O algoritmo é capaz de cruzar dados de diferentes vegetais e criar receitas com mesma textura, aroma, sabor e valor nutricional dos alimentos de origem animal. Representada no evento por Giuliana Vespa, a NotCo produz a maionese feita com grão de bico e está estruturando sua operação para, em breve, lançar novos itens, como sorvete, leite e hambúrguer.

Comida em 3D – Produzir seu próprio alimento em casa em uma impressora 3D não parece um futuro muito distante. Wagner Lúcio, coordenador do Istituto Europeo di Design (IED), apontou tendências e insights em que o consumidor poderá imprimir seu alimento ao compor um prato com as necessidades nutricionais adequadas a seu perfil. Essa é apenas uma das possibilidades estudadas pelo food design, uma nova disciplina que pensa a inovação propondo soluções e estratégias para melhorar a relação das pessoas com os alimentos. O food design pode auxiliar as indústrias no planejamento e desenvolvimento de novas soluções, considerando a visão de todos os envolvidos e do consumidor.

Bruno Emer, head de arquitetura de soluções da Amazon AWS, mostrou como os desafios do varejo de alimentos provoca um ajuste das empresas às necessidades do novo consumidor. “É uma verdadeira transformação baseada em processos, pessoas e dados”. O executivo contou as iniciativas da Amazon para promover uma experiência sem fricção (frictionless) para o consumidor. Ou seja, mais fácil, com comodidade e praticidade, nos vários canais em que atua. Para isso, a companhia investe em um conjunto de tecnologias habilitadoras como big data, vídeo analytics, realidade virtual e aumentada, sensores, robótica, Inteligência Artificial e Data Lake. A empresa aplica todos esses recursos na Amazon Go, rede de supermercados nos Estados Unidos sem atendentes e sem a necessidade de pagar as compras nos caixas. O cliente só precisa baixar o app da loja no celular e cadastrar o cartão de crédito.

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