Esta frase nada humilde, atribuída a Luís XV, expressa de modo perfeito o delírio dos autocratas, dos ditadores, dos salvadores da pátria. Acreditam-se sinceramente a única esperança do mundo.
Exemplos? Donald Trump, o falastrão atualmente na presidência dos EUA, nega-se a admitir que perdeu a eleição e busca sabotar seu próprio país não assinando decretos que beneficiariam sua população e até as empresas que, no discurso, seriam sua maior preocupação.
Na política brasileira isso é uma constante, mal assumem o cargo nossos prefeitos, governadores, presidentes, passam a destruir todo o “legado” de seus antecessores numa ansiedade de que suas obras não possam ser atribuídas a outrem, seriam somente deles, como se fosse minimamente possível administrar até mesmo uma cidade pequena reinventando a cada quatro anos tudo o que foi realizado. Além do vício eleitoreiro, existe a loucura que parece tomar os eleitos, julgando que a consagração pelas urnas equivale a uma canonização e reconhecimento de virtudes sobre-humanas e, portanto, comprovaria o que o político já acredita, que ele é a salvação da humanidade e seu maior sábio. No caso de ditaduras é ainda pior.
O Brasil sofre atualmente a presidência de um dos expoentes dessa vaidade alucinada, o capitão reformado supõe que sabe tudo e em tudo quer mandar, na esperança de ser eternizado no poder. Essa loucura aparentemente segue os ditames de um astrólogo de boca suja, autonomeado filósofo, que sugeriu destruir sistematicamente as estruturas todas do país – Amazônia, políticas sociais, SUS, direitos humanos, infraestrutura, reservas de petróleo, empregos, educação, tornando-nos pária internacional e negacionistas em relação à História e principalmente à Ciência. Feito isso, cometida a barbárie, a população desesperada coroaria o líder salvacionista que se apresentasse, como ocorreu na Alemanha na década de 1930, não deu certo e o custo humano, espiritual e material foi inconcebível.
Por outro lado, o grande expoente da esquerda brasileira está sabotando, intencionalmente ou não, qualquer possibilidade de aliança – ainda que temporária – de partidos de esquerda e centro para enfrentar o dragão da maldade; acredita ser o único que reúne condições e não aceita de modo algum uma correlação de forças que não o coloque e ao seu partido na posição de liderança inconteste, o que contraria a ideia de aliança e já foi comprovado como deletério.
Por décadas, os partidos conservadores se valiam das divergências conceituais dos partidos dito progressistas; enquanto a esquerda gastava tempo e energia debatendo interminavelmente se Trotsky disse isso ou se Prestes afirmou aquilo, discussões semânticas como as atuais que promovem cancelamentos, enquanto a direita adotava postura totalmente pragmática e vencia as eleições. Nos anos 2000 este vício argumentativo pareceu ser superado, mas volta agora com a agravante de que os debates perderam o viés teórico, valem apenas as vaidades e interesses pessoais. As discussões estão mais centradas na ideologia de costumes, e não em ideias filosóficas ou fundantes. Louvam-se a qualidades da “sinceridade” de pessoas ignorantes, homofóbicas e racistas, como se não passassem de simples demonstração de falta de educação mas exibição de atributo inegável de franqueza.
Isso, acrescido a uma pandemia mal administrada e grandes espetáculos de incompetência, decisões tomadas num dia e retrocedidas no seguinte, tem sido nefasto para o sistema educacional brasileiro, que nunca chegou a ser forte, mas agora está falimentar.
Escolas públicas ou privadas perdem alunos diariamente, o desestímulo ao aprimoramento pessoal, ao acréscimo cultural e maior conhecimento do mundo, traz descrença nos estudos e no esforço pessoal como medida para obter sucesso ou respeitabilidade.
Instituições escolares sofreram grande impacto da pandemia, precisaram reinventar-se tecnologicamente apesar de algumas, estando instaladas em regiões periféricas e no atendimento de comunidades carentes, terem tido dificuldades quase intransponíveis.
Falta de escola de qualidade impacta a economia, e criamos assim um círculo vicioso do subdesenvolvimento. E os malucos de plantão acreditam, pelo menos afirmam, que se forem substituídos sobrará o caos, o dilúvio.
Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil.