Guilherme Ambar
Dezenas de laboratórios de todo o Brasil se preparam para enfrentar a verdadeira corrida pelos testes que identificam a presença do coronavirus no organismo. A demanda por esses testes, os RT-qPCR já cresceu bem mais de 60% nas últimas semanas, mas como o Brasil ainda tem número limitado de laboratórios capacitados a fazer a análise das amostras, teme-se que a demora pelos resultados possa ser longa.
Nós já registramos um aumento exponencial do produto nas últimas semanas. A razão é que os efeitos nefastos das aglomerações em festas, praias e destinos turísticos no fim de ano facilitou enormemente a transmissão do vírus. E como o período de incubação da COVID 19 gira em torno de duas semanas, muita gente passará a apresentar os primeiros sintomas a partir dos próximos dias.
Embora a discussão sobre a pandemia esteja centrada na vacinação, as vacinas só passarão a reduzir as infecções num prazo superior a seis meses e se forem efetivamente aplicadas em massa. O problema imediato diz respeito aos que já estão contaminados e que só nas próximas semanas passarão a sentir os efeitos da doença. E isso antes que a eventual vacinação garanta a imunização de qualquer pessoa no País.
Consciente do problema a rede privada está adquirindo mais testes e o Ministério da Saúde buscou prorrogar a validade dos testes estocados para enfrentar a emergência. A demanda não é pelos testes que identificam os anticorpos – que indicam que alguém teve e não tem mais a COVID, mas dos testes que identificam o vírus ativo no organismo.
Sabemos hoje que mesmo antes dos primeiros sintomas, uma pessoa contaminada pode estar transmitindo o vírus. O que permite que alguém assintomático pode repassar o coronavírus a dezenas de pessoas, antes que perceba que está com a COVID 19.
Para evitar a elevação do número de casos a um patamar ainda mais alto como ocorreu nos Estados Unidos, por exemplo, será preciso que quem sabe que correu risco de se contaminar faça o teste e opte pelo isolamento. Os efeitos benéficos da vacina só serão sentidos no final de 2022 talvez depois, no Brasil.
Há muita gente, inclusive economistas, acreditando que começando a vacinação a vida voltará ao normal, mas não é verdade. O Brasil tem 209 milhões de habitantes e vacinar toda essa população é um desafio muito maior do que vacinar nos países europeus, todos eles com população muitíssimo menor.
Além do imenso problema logístico de vacinar a todos há o complicador da necessidade de aplicar duas doses. Mesmo depois da segunda dose, o organismo humano levará vários dias, pelo que sabemos, para produzir anticorpos em quantidade suficiente para desenvolver a imunidade total. O complicador é que ainda não se sabe por quanto tempo a vacina protege, pois após um período não definido com segurança até agora, o organismo deixará de oferecer a resposta desejada a uma infecção.
É por isso que a chegada das vacinas não pode ser considerada como solução definitiva. Os pesquisadores vão ter que continuar investindo num tratamento rápido e eficaz contra a COVID-19, tratamento que ainda não existe. Enquanto o tratamento seguro, rápido e barato não existir, a arma com que contamos continuará sendo testar e lutar para bloquear a transmissão.
Guilherme Ambar é biólogo e CEO da Seegene do Brasil