“Epidemia oculta”: projeto de dança mostra a importância do empoderamento feminino na luta contra à violência

No mês do Dia Internacional da Mulher, um projeto de dança de uma companhia curitibana traz à tona discussões importantes sobre como o suporte e a união têm papel essencial no fortalecimento de mulheres que se encontram em situação de vulnerabilidade.

Um dos principais objetivos do espetáculo ‘Físico, Verbal e Emocional’, que será realizado entre os dias 05 a 08 de março, é conscientizar a população sobre os diferentes tipos de violência contra mulheres e meninas.

Para Juliana Kis, coreógrafa, diretora e idealizadora do projeto, a temática foi escolhida baseada em histórias que acompanhou ao longo dos anos e também por acreditar que a arte possibilita trazer reflexões e promover a conscientização da sociedade acerca deste tema.

“Nascer mulher em uma sociedade patriarcal já é o suficiente para compreender a importância de criar este tipo de diálogo e reflexão. Além disso, presenciei histórias de amigas, familiares, seja de perto ou longe, que me fizeram apostar nessa reflexão e discussão. Acredito que a arte tem um papel fundamental em trazer temáticas importantes para a cena artística, e de forma poética e integradora, denunciar, ressignificar e conscientizar a população sobre a questão da violência contra mulheres e sobre a desigualdade de gênero”, ressaltou.

Toda a programação do evento, que se inicia na próxima sexta (05 de março) poderá ser acompanhada pelo Instagram da companhia @brainstormdancecompany (https://www.instagram.com/brainstormdancecompany/) e pela Twitch TV http://twitch.tv/brainstormdancecompany .

Pandemia x violência contra a mulher

Um levantamento do Ministério Público do Paraná mostra que de janeiro a setembro de 2020 foram registrados 162 inquéritos de feminicídio ou tentativa de feminicídio no estado – 18 em Curitiba. Em média, 71,8 mulheres sofrem agressões, ameaças e violência todos os dias no estado, uma situação que se agravou ainda mais com a pandemia da Covid-19.

Segundo Juliana, a violência contra a mulher é uma epidemia oculta que existe muito antes da Covid-19.

“Permanecer em casa é a maneira mais segura para evitar a propagação do coronavírus, porém, a segurança do lar é perdida, quando muitas destas mulheres passam a conviver frequentemente com seus agressores e abusadores. Estudos mostram que 3/4 das vítimas de violência, aproximadamente 76% das agressões, são cometidas por conhecidos (namorado, cônjuge, companheiro, vizinho ou ex). O espetáculo é uma forma de dialogar com essas mulheres, reforçar os canais de denúncia, como o 180, e mostrar a importância da união e do empoderamento feminino na luta contra à violência entre mulheres e meninas.  Juntas, podemos criar uma rede de suporte e, através da arte, mostrar a força da mulher”, ressaltou a diretora.

Ela lembra, ainda, que um dos grandes objetivos do espetáculo não é somente dialogar com as mulheres, mas com os homens, que também dependem de conscientização e acolhimento.

“Tivemos rodas de conversa sempre no pós-espetáculo nas cidades onde passamos, e neste espaço, tivemos colaborações de homens e mulheres. Homens que contavam histórias sobre suas esposas, suas mães, e até sua relação pessoal com uma sociedade educada e formatada de forma patriarcal. Em diferentes graus, todos são ‘vítimas’ de uma sociedade machista, e todos precisam ser acolhidos”, afirmou Juliana.

Para a idealizadora do projeto, essa é uma pauta de toda a sociedade, sem qualquer distinção. A dança, a música, o texto, a energia e a vibração trazida para o palco podem despertar uma sensibilidade para processos de transformação. Em muitos casos, a mulher está sendo abusada psicologicamente de maneira tão sutil que não percebe esses abusos. No exercício de uma ouvir a outra, abre-se a oportunidade de questionar e dialogar sobre as experiências vividas.

“O trabalho busca dialogar através da arte e do amor, compreendendo que quanto mais as pessoas falarem, refletirem e denunciarem, maiores serão as possibilidades de alcançarmos a tão sonhada consciência coletiva e igualdade de gênero, com o objetivo de, no futuro, vivermos em um lugar mais justo, tolerante e igualitário”, finalizou a diretora.

Sobre o espetáculo

O espetáculo ‘Físico, Verbal e Emocional’, com duração de 40 minutos, apresenta uma riqueza artística trazida por sete bailarinas, mulheres, artistas co-criadoras com experiência nacional e internacional, que dividem o palco em uma linda e surpreendente mistura. Transitando entre os estilos Hip Hop, Krumping, House e Dança Contemporânea, essas artistas propõem uma reflexão sobre a violência contra a mulher e prometem emocionar a plateia.

Em 2020, o espetáculo foi aprovado pelo edital ‘PROFICE’ e viabilizado por meio do ‘Programa Estadual de Fomento e Incentivo à Cultura do Governo do Estado do Paraná”, com o apoio da ‘Copel Distribuição S/A’. Estavam previstas dez performances em cidades paranaenses com altos índices de violência contra a mulher e acesso limitado à cultura, algumas, adiadas em função da pandemia da Covid-19.

Dentre os tantos ‘efeitos colaterais’ que a pandemia trouxe, destaca-se o aumento significativo da violência doméstica e familiar sofrida por mulheres e crianças, em função do isolamento domiciliar.

Com o interesse em manter essa voz ativa e enfatizar a importância desse debate, especialmente neste momento, surgiu a necessidade de dar continuidade a este projeto.

Nesta nova etapa, além das exibições online do espetáculo ‘Físico, Verbal e Emocional’, também serão oferecidas lives informativas, aulas de dança, bate-papo com as artistas, e uma live intitulada ‘InspirARTE’, um espaço criado com o objetivo de contribuir com a promoção de coletivos, ações e/ou projetos individuais que enfatizem as mulheres e a arte em suas diferentes representatividades.

Sobre a companhia

Idealizada e dirigida por Juliana Kis e com mais de 10 anos de estrada, a companhia curitibana ‘Brainstorm Dance Company’ tem a intenção de criar uma imagem diferenciada no cenário da dança. Transitando entre o Hip Hop e a dança contemporânea, o grupo agrega bailarinas de diferentes vivências corporais, criando assim uma imagem heterogênea e ao mesmo tempo harmônica. Todas as integrantes possuem vasta experiência em dança e tem suas carreiras projetadas também no mercado internacional.

Ao longo dos anos, a Cia. vem crescendo e ganhando espaço no cenário da dança, através de convites para aberturas em festivais e premiações alcançadas em eventos de grande porte, como ‘Rock in Rio Street Dance’ e ‘Batalha no Salto’ na TV Xuxa | Rede Globo.