(*) Andrรฉ Frota
Apรณs os EUA terem completado o processo de vacinaรงรฃo para seus nacionais, a partir do retorno dos democratas ao poder, a pauta principal de sua polรญtica externa retorna ao aquecimento da atmosfera. A agenda das negociaรงรตes ambientais internacionais nos prรณximos meses estรก condicionada ร realizaรงรฃo da Conferรชncia das Partes โ COP 26 โ que serรก realizada em novembro na Escรณcia.
Mas na รบltima semana, nos dias 22 e 23 de julho, ministros de estado do G-20 ambiental reuniram-se em Napoli, na Itรกlia, para um encontro preparatรณrio que resultou em um comunicado conjunto. Essa prรฉvia teve o intuito de acelerar a formaรงรฃo de um documento de maior impacto global que serรก elaborado em Glasgow. Como de regra, os comunicados possuem a caracterรญstica de enfatizar intenรงรตes em torno de certas metas.
O teor desse comunicado esteve relacionado a resgatar o acumulado de legislaรงรตes jรก elaboradas no plano internacional como a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentรกvel, a Agenda de Aรงรตes celebrada em Adis Abeba (AAA), as convenรงรตes quadro para mudanรงa do clima (UNFCCC), as convenรงรตes sobre diversidade biolรณgica (CBD), as convenรงรตes de combate ร desertificaรงรฃo (UNCCD) e, em especial, o Acordo de Paris.
A reafirmaรงรฃo desse conjunto de tratados internacionais ambientais foi uma caracterรญstica desse encontro. E mostra, sobretudo, uma afirmaรงรฃo escrita do retorno da polรญtica externa norte-americana a um perfil de engajamento ambientalmente progressista. Uma das linhas divisรณrias (e de posiรงรฃo contrรกria ao tema) adotada pelo ex-presidente Donald Trump.
O mundo pรณs-pandemia exige da comunidade internacional a formaรงรฃo de uma coalizaรงรฃo assertiva para que a atmosfera se mantenha com um incremento mรกximo de 1.5 graus Celsius. Para que essa meta seja atingida รฉ necessรกrio exigir um grau de comprometimento mais ousado daqueles paรญses que sรฃo os principais responsรกveis pelas emissรตes de diรณxido de carbono. Isso significa fornecer aos paรญses em desenvolvimento mecanismos de financiamento compatรญveis com as exigรชncias de adaptaรงรฃo a uma economia de baixo carbono. E significa, sobretudo para os paรญses ricos, assumirem aรงรตes concretas ano a ano e executadas em direรงรฃo ร reduรงรฃo de mais de 45% das emissรตes atuais.
O comunicado das intenรงรตes deles termina evocando os princรญpios adotados pela histรณrica declaraรงรฃo celebrada em 1992, no Rio de Janeiro. A chamada Eco-92 ou Cรบpula da Terra (como ficou conhecida internacionalmente) estabeleceu a estrutura e o princรญpio bรกsico da legislaรงรฃo internacional sobre o meio ambiente: o desenvolvimento sustรกvel. Por ora, o que o G-20 ambiental demonstrou foi apenas uma disposiรงรฃo para um recomeรงo. No entanto, os sinais de mudanรงa nas condiรงรตes climรกticas jรก sรฃo mais intensos do que em 2015, quando o Acordo de Paris foi celebrado.
Enfim, deve-se reconhecer a importรขncia de um comunicado desses, com um espรญrito de restabelecer o que foi desfeito nos quatro anos de negaรงรฃo da existรชncia do aquecimento global por parte da polรญtica norte-americana. Porรฉm, para a COP 26 de novembro รฉ necessรกrio ultrapassar o campo dos discursos diplomรกticos e das intenรงรตes de atuaรงรฃo.
(*) Andrรฉ Frota รฉ professor de Relaรงรตes Internacionais e Geociรชncias do Centro Universitรกrio Internacional Uninter