Doar órgãos é considerar justa toda forma de amor

(*) Willian Barbosa Sales

 O Dia Nacional da Doação de Órgãos em 27 de setembro foi instituído pela Lei nº 11.584/2007 e sua principal função é a promoção, bem como engajamento e conscientização da sociedade, a respeito da importância da doação de órgãos ou tecidos. Tecnicamente, tal doação é um procedimento cirúrgico que está relacionado à reposição de um órgão ou tecido – de indivíduo extremamente doente – que colapsou por outro órgão ou tecido de um doador saudável vivo ou em óbito. Podem ser doados: coração, pulmões, rins, pâncreas, fígado, medula óssea, ossos e córneas.

Esse gesto transcende a doação de um órgão ou tecido físico. É a doação de amor. Mas o que é o amor? De forma holística o amor pode ser considerado a formação de um vínculo emocional com um indivíduo que, ao mesmo tempo, também está aberto a compor e apto a alimentar tal vínculo para sua manutenção e motivação. Como no caso de um lado uma família enlutada que consegue tirar força do âmago das suas almas para, na forma de amor ao próximo, autorizar a doação que pode salvar o amor da vida de outrem. Essa circunstância retoma a canção “Toda Forma de Amor”, do cantor Lulu Santos. Afinal, a justiça das formas de amar transcende as barreiras impostas pela sociedade e ecoa, em voz alta, um vínculo emocional construído por anos que será acalentado e amado por outro.

Infelizmente, a doação de órgãos no Brasil caiu durante a pandemia, passando de 15,8 mil transplantes em 2019 para 9,9 mil em 2020. E, no primeiro semestre em 2021, a taxa de doadores caiu aproximadamente 13%, segundo dados da Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos. Com o avanço da vacinação da população contra a Covid-19, a esperança é de que esses números voltem a aumentar para atingir a meta preconizada pelo Ministério da Saúde de 20 doadores para cada um milhão de habitantes.

Acredito que doar um órgão supera a teoria dos estilos de amor proposta em 1970 por John Alan Lee. Frente à impossibilidade de afirmar quantos estilos de relacionamento existem, ele preferiu usar uma metáfora da roda das cores que é conhecida, atualmente, como “as cores do amor”. Tanto avisar seus familiares e amigos desse desejo quanto autorizar a doação de uma parte física de familiar ou do grande amor da sua vida são gestos que, me parece, vão muito além do amor eros, amor ludus, amor storge ou amor ágape. Representam a certeza de que uma parte sua será, ou parte da pessoa tão amada foi conjugada ao corpo físico de outra pessoa. São gestos de esperança para um novo recomeço.

(*) Willian Barbosa Sales é biólogo, doutor em Saúde e Meio Ambiente, coordenador dos cursos de pós-graduação da área da saúde no Centro Universitário Internacional UNINTER

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